quinta-feira, 30 de abril de 2009

A epidemia do lucro

Por Sílvia Ribeiro
A nova epidemia de “gripe suína” que día a día ameaça expandir-se em mais regiões do mundo, não é um fenômeno isolado. É parte da crise generalizada, e tem suas raízes no sistema de críação industrial de animais, dominado por grandes empresas trasnacionais.
No México, as grandes empresas avícolas e suínas tem proliferado amplamente nas águas (sujas) do Tratado de Livre Comercio da América do Norte. Um exemplo é Granjas Carroll, em Veracruz, propiedade de Smithfield Foods, a maior empresa de críação de porcos e processamento de produtos de porcos no mundo, com filial na América do Norte, Europa e China. Em sua sede de Perote começou faz algumas semanas uma virulenta epidemia de doenças respiratórias que afetou a 60 por cento da população de La Gloria, informado por La Jornada em várias oportunidades, a partir das denúncias dos habitantes do lugar. Há anos levam uma dura luta contra a contaminação da empresa e tem sofrido inclusive repressão das autoridades por suas denúncias. Granjas Carroll declarou que não está relacionada nem é a origem da atual epidemia, alegando que a população tinha uma gripe comum. Por dúvidas, não fizeram análises para saber exatamente de que virus se tratava.
Em contraste, as conclusões do painel Pew Commission on Industrial Farm Animal Production (Comissão Pew sobre produção animal industrial), publicadas em 2008, afirmam que as condiciones de críação e confinamento da produção industrial, sobretudo em porcos, criam um ambiente perfeito para a recombinação de vírus de distintas cepas. Inclusive mencionam o perigo de recombinação da gripe aviaria e da suína e como finalmente pode chegar a recombinar o virus que afetem e sejam transmitidos entre humanos. Mencionam também que por muitas vías, incluindo a contaminação de águas, pode chegar a localidades longiquas, sem aparente contato direto. Um exemplo do que devemos aprender é o surgimento da gripe aviaria. Ver por exemplo o informe de GRAIN que ilustra como a indústria avícola criou a gripe aviaria (http://www.grain.org/).
Mas as respostas oficiais ante a crise atual, são tardias (esperaram que Estados Unidos anunciara primeiro o surgimento do novo vírus, perdendo días valiosos para combater a epidemia), parecem ignorar as causas reais e mais contundentes.
Mais que enviar cepas do vírus para sua sequencia genômica a cientistas como Craig Venter, que tem enriquecido com a privatização da investigação e seus resultados (sequencia n que, por certo, já foi feito por investigadores públicos do Centro de Prevenção de Doenças em Atlanta, Estados Unidos), o que se necessita é entender que este fenômeno vai continuar se repetindo enquanto prossigam os criadores destas doenças.
Já as epidemias, são também trasnacionais as que mais lucram: as empresas biotecnológicas e farmacêuticas que monopolizam as vacinas e os antivirais. O governo anunciou que tinha um milhão de doses de antígenos para atacar a nova cepa de “gripe suína”, mas nunca informou a que custo.
Os únicos antivirais que ainda tem ação contra o novo virus estão patentados na maior parte do mundo e são propiedade de duas grandes empresas farmacêuticas: zanamivir, com nome comercial Relenza, comercializado por GlaxoSmithKline, e oseltamivir, cuja marca comercial é Tamiflu, patentado por Gilead Sciences, licenciado em forma exclusiva a Roche. Glaxo e Roche são a segunda e quarta empresas farmacêuticas a escala mundial e, a igual que com o resto de seus fármacos, as epidemias são suas melhores oportunidades de negocio.
Com gripe aviária, todas elas obtiveram milhões de dólares de ganâncias. Com o anuncio da nova epidemia no México, as ações de Gilead subiram 3 por cento, as da Roche 4 e as de Glaxo 6 por cento, e isto é só o começo.
Outra empresa que persegue este negócio é Baxter, que solicitou mostras do novo virus e anunciou que podia ter a vacina em 13 semanas. Baxter, outra farmacêutica global (em lugar 22), teve um acidente em sua fábrica na Austria em fevereiro deste ano. Enviou um produto contra a gripe na Alemanha, Eslovenia e na República Checa, contaminado com virus de gripe aviaria. Segundo a empresa, foi erro humano e problema no processo, do qual não pode dar detalhes, porque tinha que revelar processos patentados.
Não só necessitamos enfrentar a epidemia da gripe: também a do lucro.
* Investigadora do Grupo ETC

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A igreja não é um lugar de acolhida

por marian pessah

http://radicaldesde laraiz.blogspot. com/2009/ 04/la-iglesia- ya-no-es- un-lugar- de-acogida. html


Em épocas em que Hollywood insiste em implantar A DÚVIDA, a Igreja Católica responde com fatos.
É evidente, a igreja já não é um lugar de acolhida. Longe ficaram aqueles capítulos que víamos na TV, onde nas tardes de sol Laura Ingals corria pelos verdes prados.
Faz dias que venho lendo com certa preocupação “O caso Lugo”, presidente de esquerda do Paraguay. Tudo começou faz uns 10 dias quando uma mulher o acusava de não assumir a paternidade de seu filho de 2 anos, que o ex bispo se cansara de negar, o reconheceu, mas, o menino tem apenas o nome de seu avó paterno.
As câmeras dos noticiários mostravam mulheres elegantes horrorizadas com a visível e ativa sexualidade de um dos altos chefes eclesiásticos. Onde estavam essas mulheres quando pouco tempo atrás, outro bispo – brasileiro desta vez, mas da mesma empresa transnacional - justificava que era menos mal violar que abortar?
Me parece interessante analisar os “gostos” do infiel bispo. A mãe do menino de 2 anos, jovem e de origem muito pobre, dizía que ele a tinha assediado até que ela acabou se entregando.
História e palavras similares as que lia – novamente -, quando apareceu o 2º filho do Padre Santo.
Dias atrás, na lista RIMA – Red Informativa de Mujeres de Argentina – se discutia acaloradamente sobre um caso na Argentina de um adolescente de 15 anos que mantinha um romance com uma mulher de 40. E agora, que acontece com um bispo que seduz uma mulher pobre, 30 anos mais nova que ele, promete largar os hábitos – quais? – e ter uma família juntxs com muitxs filhxs. Parem as máquinas! Susanita mudou de sexo e eu não me tinha dado conta?!
Agora entra em cena uma segunda mulher, desta vez vendedora de detergente, quem segundo os jornais afirmava que durante um longo tempo Lugo, esteve assediando-la até que ela finalmente aceitara. Hoje querem que o presidente paraguaio reconheça o seu filho de 6 anos e que passe dinheiro para assim poder saciar as necessidades básicas de criança. Nenhum luxo, não?
Cabe peguntar-se se o presi-bispo paraguaio, infiel a Deus, aposta no poliamor, ou é o próprio príncipe azul que ha desbotado?
Durante muito tempo nós militantes de esquerda tivemos que suportar que nossos companheiros de luta nos disseram que primeiro havia que fazer a revolução – que nela não há sexos – e logo chegaria o momento do chamado tema da mulher e no melhor dos casos das mulheres. Tem DÚVIDAS sobre isto? Em nome de que nossos interesses eram pequeno burguês, o atual presidente de Nicaragua, Daniel Ortega, violava a filha de sua mulher e o bispo de San Pedro, no Paraguai, se passava “seduzindo” as mulheres pobres que precisavam escutar a palavra de Deus.
Não ha DÚVIDAS, ha fatos

domingo, 26 de abril de 2009

Sergia Galván - "O racismo hoje é mais sutil e mais forte"

Sergia Galván - "O racismo hoje é mais sutil e mais forte"
Uma das principais militantes do movimento negro mundial critica Obama pelo "boicote" à Conferência de Durban e denuncia políticos da República Dominicana, que tentam mudar a Constituição do país e transformar milhares de descendentes de haitianos em apátridas

Por Solange Azevedo

Há mais de três décadas, a educadora dominicana Sergia Galván, de 54 anos, é reconhecida internacionalmente por seu trabalho para combater as violações dos direitos humanos - principalmente das mulheres, dos jovens e dos negros. Em entrevista à revista Época, por telefone, ela afirmou estar frustrada com o governo de Barack Obama. "O boicote de países como Estados Unidos, Canadá, Itália, Austrália e Nova Zelândia à Conferência de Revisão de Durban é uma tremenda manifestação de racismo." Como indica o nome, a conferência (organizada pelas Nações Unidas em Genebra, Suíça) tem o objetivo de revisar o cumprimento das decisões da Conferência Mundial contra o Racismo, realizada em 2001 em Durban, na África do Sul. Segundo Sergia, ainda há muito por fazer. Nos últimos dias, ela tem batalhado contra mudanças na Constituição de seu país. Políticos ultra-conservadores pretendem considerar apátridas os descendentes de haitianos nascidos na República Dominicana. Se isso acontecer, "será a maior expressão de racismo e xenofobia já vista na América Latina", diz Sergia. "Há quase 1 milhão de pessoas de origem haitiana na República Dominicana".

A essência do racismo mudou?
Sergia Galván – Não. O que mudou foram suas formas de expressão. Embora hoje em dia as manifestações sejam mais sutis, elas aparecem com muito mais força. O antissemitismo e a xenofobia que vemos em várias partes do mundo são exemplos disso. O boicote de países como Estados Unidos, Canadá, Itália, Austrália e Nova Zelândia à Conferência de Revisão de Durban é uma tremenda manifestação de racismo. Para a comunidade afrodescendente é frustrante ver que, com Obama no poder, os EUA não tenham se esforçado para reafirmar o compromisso de combate ao racismo.

É o racismo contemporâneo?
Sergia – É, sim. Essas manifestações também podem ser chamadas de racismo agravado. E a discriminação pode ser múltipla, por exemplo, se além de sofrer as consequências por ser negra, a pessoa sofre por ser imigrante ou por não ser heterossexual. Os meios de comunicação, de maneira sutil, também reforçam a discriminação. Expressões como "um dia negro para a economia" e "o mercado negro do dólar" associam o negro ao mal e ao ilegal. A criminalização dos jovens e a predominância dos afrodescendentes nas penitenciárias são uma expressão do racismo. E o Brasil não fica fora disso. Nos livros escolares usados na América Latina, os negros aparecem em funções de pouca importância social e econômica. Não vemos cientistas negros, por exemplo. Os livros de história manipulam ou ocultam a contribuição dos negros para a construção das nações e da democracia. Dificilmente encontramos histórias infantis positivas e bonitas sobre a afrodescendência.

Como combater o racismo de maneira eficaz?
Sergia – É preciso adotar ações afirmativas e um modelo de desenvolvimento que inclua os afrodescendentes. A maioria dos países nem sequer reconhece a existência do racismo. Na República Dominicana, onde 80% da população é afrodescendente, o Estado diz não haver racismo. Apenas preconceito racial. Os dominicanos usam vários adjetivos para negar sua identidade. Dizem que são índios claros, índios escuros, mulatos... Porque ser negro ou afrodescendente não é valorizado socialmente. De acordo com as estimativas, somos 150 milhões na América Latina. Algumas autoridades afirmam que somos 30 milhões ou 60 milhões. Estamos lutando para que na rodada de censos de 2010, que será realizada na América Latina, os dados étnico-raciais sejam desagregados. Precisamos nos conhecer, saber quantos somos e valorizar a nossa identidade.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Frente de Libertação Animal dá início a campanha anti vaquejadas

Campina Grande está consolidada como sendo uma das mais importantes etapas de circuitos de vaquejada que ocorrem aqui no Nordeste. Longe de ser motivo de orgulho, essa constatação causa embaraço, lástima e, principalmente, legitima uma realidade sanguinária e cruel: a da morte, da dor e do desrespeito aos animais e ao meio ambiente.
Nas vaquejadas dois vaqueiros correm a galope, cercando um animal que foge, tendo sua cauda tracionada e torcida para que caia no chão, o que lhe causa fraturas, rompimento de órgãos internos, traumatismos em várias partes do corpo e comprometimento da medula espinhal.
Sua cauda, muitas vezes, é arrancada.
Apontada como sendo uma manifestação da cultura popular por seus defensores, a vaquejada modernamente se encaixa muito mais enquanto uma indústria institucionalizada relacionada à tortura, a dor e a outros crimes ambientais e ações inconstitucionais.
Lei dos Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98), Art. 32: é crime praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. “A natureza cruel é atestada em laudo proferido pela Profa. Dra. Irvênia Luiza de Santis Prada, médica veterinária, Profa. Titular Emérita da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo que menciona a ocorrência de ruptura de ligamentos, luxação de vértebras e lesões traumáticas, enfatizando tratar-se de processos muito dolorosos e que trazem sofrimento mental.”E é tendo como base nessa evidência e tomando como inspiração precedentes jurídicos em Santa Catarina (Farra do Boi), São Paulo (o rodeio em Barretos), Sergipe (Parque de Eventos Zézé Rocha, em Lagarto), Rio de Janeiro (Parque Ana Dantas, Xerém), Bahia (Serra do Ramalho), Ceará (Sobral), e muitos outros, que lançamos essa campanha, que visa impedir que novas vaquejadas venham a acontecer nos dois parques de tortura animal aqui em Campina Grande, o Maria da Luz e o Haras Cunha Lima.
Além dessa intenção, intentamos instigar uma discussão na cidade acerca dessa prática e esclarecer o que é de fato a vaquejada. Para isso, convocamos a todos os indivíduos e grupos simpatizantes da causa animal para organizarmos essa campanha, de maneira a iniciar as discussões e dar conhecimento a todos de que intentaremos impedir o acontecimento não só da próxima vaquejada programada para o parque Maria da Luz no mês de Outubro como tentar findar essa prática violenta na cidade.
Como início dessa campanha, propomos uma manifestação pacífica nas ruas de Campina Grande, no dia 13 de Maio, dia que a história aponta ser o dia da libertação dos escravos. Por crermos que é nessa condição que os animais vivem e tendo consciência dos direitos constitucionais e legais deles que damos esse primeiro passo, e vos convocamos para que juntos demos passos mais significativos e ousados. Vaquejada não significa cultura, e sim tortura.

Frente de Libertação Animal.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ele diz que não disse, mas... leis, ora, as leis..

ele diz que não disse, mas... leis, ora, as leis...
no dia 19 de março, divulguei uma nota cujo título era “o principal do meio ambiente não é o mangue, é o ser humano”. onde manchetei uma frase do presidente da comissão do meio ambiente da ordem dos advogados do brasil (oab) de são paulo, carlos sanseverino, também membro do conselho do estadual de meio ambiente (consema), publicada em "a tribuna", dia 19 de março, um jornal de santos.
e através de um amigo, volmer, o pequeno texto foi encaminhado e publicado na página http://www.vista-se.com.br/, que trata de questões sobre vegetarianismo/meio ambiente, e onde alguns leitores da página postaram alguns comentários. e o curioso, para não usar outro termo mais “carinhoso”, foi o último, supostamente do próprio carlos sanseverino [http://vista-se.com.br/site/o-homem-no-centro-do-universo], leiam, ou riam:
"Aos leitores do Vista-se, em especial para Moésio Rebouças e Volmer:

Inicialmente quero cumprimentar, com respeito, que todos merecem aqueles que têm acesso a esta leitura… Num segundo momento, lamentar os comentários maldosos, desprovidos de qualquer cautela ética, ofensivos e na letra da Lei, alguns até criminosos…

Sempre é saudável que se debata a questão ambiental sobre todos os ângulos e o respeito a opinião alheia além de ser educado permite o crescimento, mesmo por opiniões contraditórias, afinal nem todo mundo pensa igual… mas aqui o que ocorreu foi utilizar uma frase que não foi dita para se cometer um crime contra a honra deste subscritor. Esclareço para o bem da verdade que em momento algum afirmei que “o principal do meio ambiente não é o mangue, é o ser humano” como foi dito.

Na Reunião da Comissão Técnica do CONSEMA que discute o Decreto Lei que regulará o Zoneamento na Baixada Santista na presença de várias autoridades da área ambiental, o que afirmei e que está gravado e a disposição na Secretária do Meio Ambiente é que “Devemos cuidar do Meio Ambiente, da Terra, afinal mais que preservar o mangue ou qualquer espécie em extinção, temos que lembrar que o principal destinatário do meio ambiente saudável e equilibrado é o Homem que tem no planeta Terra o seu único lar”.

Afirmações tendenciosas, maldosas, inclusive criminosas serão rechaçadas na Justiça na forma da Lei. Por outro lado aqueles que tiverem interesse em acompanhar o trabalho sério da Comissão no CONSEMA e mesmo o desenvolvido pela Comissão do Meio Ambiente da OAB/SP, sintam-se desde já convidados ao debate sério, responsável, ético e educado que tenho certeza vem ao encontro da grande maioria dos leitores deste espaço."
Em resumo, faço minhas as palavras do companheiro Volmer: “Patético. Em sua tentativa de corrigir a frase "não dita" o que vi foi a mesma afirmação antropocêntrica com palavras mais toscas.”
Seguimos, sigo, com um nariz de palhaço, o dedo médio levantado e cantarolando: “eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada... yeah yeah uoh...”
el pececito chuva de fogo
"o principal do meio ambiente não é o mangue, é o ser humano"
a frase acima é do presidente da comissão do meio ambiente da ordem dos advogados do brasil (oab) de são paulo, carlos sanseverino, também membro do consema (conselho estadual de meio ambiente). ela foi dita no jornal "a tribuna" de santos de hoje (19), dentro do contexto das discussões sobre a expansão do porto de santos, do nefasto projeto barnabé-bagres (que será o maior complexo portuário da américa latina), e que destruirá uma imensa área de maguezal na baixada santista, entre outras coisas.
nem vou adentrar muito no assunto, não tenho estômago nem paciência para “homens médios”, mas essa passagem resume a arrogância antropocêntrica que ainda vemos na sociedade, destes que se acham “o tal” (os tais especialistas, corpo técnico), que acham que somos o centro do universo, que a natureza, a diversidade da vida é uma propriedade, um negócio, que devemos nos sobrepor a ela, que ela existe para nos servir...
em resumo, continuamos não entendendo nada de natureza, de diversidade da vida. que venha o caos! o caos da natureza, pois "dos homens", dessa sociedade civilizada marcada e remarcada pela insensibilidade, covardia e o senso comum, não dá para esperar muita coisa, não.
ah, e imaginar que este “traste” defende o meio ambiente neste conselho. fala sério! esse merece um raio no meio da cabeça.
el pececito chuva de fogo
“O homem não é superior a outros animais, não tem uma vida mais perfeita que uma ameba, por exemplo, não é mais ou menos perfeito ou real que uma pulga ou uma gota d água. Acontece que sempre se imaginou o homem como uma fina flor da criação! Uma fina flor que gosta muito de defecar e que freqüentemente tem espalhado muita merda na natureza! Pior ainda, o homem é o único animal dentre todos que está separado do que pode, o único que não efetua plenamente suas potências porque criou para si muros e barreiras através de sua rede de valores negativos e de sentidos reativos. (...) é preciso dizer que o homem impotente se revela o mais miserável e inferior dentre os seres vivos. Qualquer carrapato leva suas potências ao limite máximo. Mas é fácil constatar que o homem médio conserva sua vida nos graus mais baixos de intensidade, atrelado a valores vis que impõe a si próprio, prisioneiro de um círculo vicioso gerado pelo movimento estéril de sua impotência.”
in FUGANTI, Luiz Antônio. Saúde, Desejo e Pensamento.

Por Moésio Rebouças

domingo, 12 de abril de 2009

Porque a grande imprensa não noticia o que atinge a maioria da população?

Para Beatriz Barbosa, do Intervozes, a formação tecnicista dojornalista e a informação concebida como mercadoria são duas dasorigens da cobertura desqualificada da grande imprensa sobre políticaspúblicas.[Por Raquel Júnia]A mídia geralmente tem preferência por divulgar notícias dramáticas,números sensacionais e "furos jornalísticos". Os temas sociais sãorecorrentes, mas a abordagem não gira em torno de políticas públicas.É esse o diagnóstico feito pela jornalista Beatriz Barbosa em palestrasobre o desafio de aumentar a pauta de políticas públicas na grandeimprensa, no dia 5 de maio, na Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ).Ela ressaltou ainda que a política pública até pode ser uma pauta, masnão como um processo. Geralmente a cobertura é desqualificada de modoapenas a reafirmar políticas públicas ruins.Um desvio de verba de determinado programa social geralmente énotícia, mas não são notícias, por exemplo, as conferências nacionaisem diversas áreas como saúde e educação. Essas conferências, que sóna área de saúde já foram realizadas mais de uma dezena, seconfiguram, de acordo com Beatriz, como uma etapa da política públicadesconsiderada pelos grandes veículos de comunicação."A Conferência Nacional de Juventude recentemente reuniu dois miljovens em Brasília, e nem 1 linha foi escrita na grande imprensa sobreo assunto", exemplifica.A palestrante foi uma das convidadas da disciplina e curso de extensãode Jornalismo de Políticas Públicas Sociais, uma parceria entre oNúcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência(NETCCON), da Escola de Comunicação da UFRJ, e a Agência de Notíciasdos Direitos da Infância (ANDI).Beatriz Barbosa é jornalista e especialista em direitos humanos, alémde coordenadora do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social,um dos principais movimentos que lutam no Brasil pela democratizaçãoda comunicação.Origem elitista dos jornalistas é uma das raízes do problemaPara Beatriz, a pergunta "de onde vem o jornalista?" pode responderuma das origens da ausência de cobertura de políticas públicas nagrande mídia. Grande parte dos que ingressam nos cursos de jornalismosão filhos de classe média ou alta, assim, "as grandes mazelas sociaisnão fazem parte do cotidiano desses futuros jornalistas".Outra origem da questão destacada pela jornalista é a formação docomunicador: mais técnica do que humanista e com foco no mercado. Essaformação também não possui, de acordo com ela, uma oferta deconhecimentos mínimos sobre o tema políticas públicas.Em um segundo bloco de situações que podem causar essa ausência decobertura, estão as condições de trabalho dos jornalistas. SegundoBeatriz, com as redações bastante enxutas, condições precárias detrabalho, a informação transformada em lucro e a falta deindependência do jornalista na escolha da pauta, o resultado é umjornalismo que não aborda as questões que atingem a maioria dapopulação.Ainda uma terceira raiz do problema apontada por Beatriz é aconcentração dos meios de comunicação. A jornalista lembra que apenas9 famílias controlam 85% da informação no Brasil, apesar do artigo 220da nossa Constituição proibir o monopólio."Só falta fabricarem as pessoas que vão assistir aos programas!",brinca, sobre o fato de uma mesma empresa deter todo o processo deprodução e distribuição da informação.SoluçõesNas redações, uma formação continuada dos jornalistas, a investigaçãode dados e informações públicas, a cobertura do processo das políticaspúblicas, podem, de acordo com a palestrante, serem passos na soluçãodo problema. Além disso, a prática de ouvir os beneficiários dessaspolíticas e de estabelecer canais de comunicação entre a população e aimprensa, como ouvidorias e a própria figura do ombusdman, seriaminiciativas importantes.Na universidade, a criação de disciplinas obrigatórias específicassobre as políticas públicas e projetos de extensão, também atuariamnesse sentido.Essas iniciativas, para Beatriz, devem ser somadas a outras com focoespecífico na sociedade em geral, como a criação de disciplinas nasescolas sobre leitura crítica da mídia e a própria formação do cidadãosobre o papel da Estado e da Sociedade. Nesse sentido, o direito àcomunicação deve ser entendido como um direito tão importante quantoqualquer outro. "Mas enquanto não entendermos que a notícia deve ser deinteresse público e entendermos o ser humano como sujeito da história,não mudaremos esse diagnóstico", afirmou Beatriz Barbosa. A jornalista mencionou ainda que quando se trata de políticas públicas decomunicação, aí é que o tema não aparece de maneira nenhuma na grandeimprensa.

WenDo - caminho das mulheres

A instrutora de WenDo alemã, Trude Menrath, acredita que esta técnica de auto defesa é um dos caminhos eficazes que as mulheres podem encontrar para combater a violência que sofrem no dia-a-dia. WenDo, que significa “caminho das mulheres” surgiu no Canadá nos anos 70 desenvolvido por uma família que treinava artes marciais e que souberam que sua vizinha tinha sido agredida e morta pelo marido dela, sem chances de defesa. Por isto, eles/elas decidiram criar técnicas e estratégicas, fáceis e seguras, de serem aplicadas por mulheres e meninas quando estas fossem vítimas de alguma violência, em casa ou nas ruas. A partir daí, o WenDo começou a ser difundido por diversos países, entre eles, o Brasil que hoje conta com cinco grupos nas cidades de Curitiba, Salvador, São Paulo, João Pessoa e Florianópolis.
Trude Menrath é uma das mulheres responsáveis por esta difusão. Sempre que possível ela vem ao Brasil para poder acompanhar o desenvolvimento do WenDo no país e poder colaborar para que cada vez mais outras mulheres tenham acesso a ele. Foi assim que ela chegou em João Pessoa e realizou uma oficina de uma semana com as mulheres do grupo de WenDo desta cidade. Aproveitando sua passagem pela terrinha, fiz esta pequena entrevista com ela, que nos fala dentre outras coisas, da realização de encontros anuais na França e no Canadá e da organização dos grupos de WenDo pela Europa.

Por Mabel Dias

1) Como você conheceu o WenDo e em que ano foi?
Meu nome é Trude e eu conheci o WenDo no ano de 1980. Participei de uma oficina em uma casa onde tem sempre oficina para mulheres, no campo, perto da minha cidade, Köln, na Alemanha. É uma casa para estudos, férias, voltada para mulheres e nesta casa foi a primeira ou segunda vez que tive uma oficina de WenDo. Fui lá para aprender WenDo.

2) Há quanto tempo você ensina o WenDo?
Eu comecei a ensinar cinco anos depois que o conheci e comecei a treinar cinco anos depois da oficina que participei, que durou uma semana, e então com outras mulheres iniciamos com um grupo na minha cidade. Começamos a treinar auto organizadas, sem treinadora, comecei dois anos depois a treinar jiu jitsu e outras artes marciais, sempre buscando maneiras para oferecer às mulheres meios para elas se auto defender. Há 28 anos comecei com o WenDo e há 23 anos que ensino o WenDo.

3) O que significa o WenDo?
Para mim significa um método feminista, uma resposta e um enfrentamento das mulheres em relação à violência contra as mulheres, não é um conceito só físico, de defesa física, mas é um conceito feminista integral, que usa todas as maneiras como todas as mulheres podem se defender, não é só corpo nem só com golpes.

3) Qual o nome do grupo de vocês, fale sobre o trabalho desenvolvido pelo seu grupo na Alemanha com as mulheres de lá.
O nome do grupo é “Frau Schmitzz”, Frau, em alemão quer dizer “mulher” ou “senhora”, e Schmitzz, é um nome muito comum na região, e queríamos mostrar já com o nome, que o WenDo é para qualquer mulher, não tem que ser jovem, não tem que ser esportiva, pode ser qualquer mulher, de qualquer idade. Trabalhamos muito com meninas, a partir de 6 anos, fazemos cursos com diferentes tipos de mulheres, eu faço muito curso com mulheres imigrantes, falo alguns idiomas e então posso fazer cursos com mulheres que não falam alemão, fazemos cursos para mulheres que tem problemas físicos, qualquer mulher que não pode andar. Nosso grupo funciona desde 1988, eu e mais duas outras mulheres com muitas mais fizemos este grupo e até hoje ele existe, atualmente somos três. Nos encontramos uma vez no mês, antes era uma vez pela semana, e discutimos juntas os temas do WenDo e as vezes treinamos. Discutimos o conceito de WenDo e estamos sempre buscando colocar o WenDo mais próximo das mulheres que precisam, e sempre nas oficinas de WenDo são dados os passos, o que eu aprendi nos anos 80 hoje é muito diferente do WenDo que eu ensino, tem muito a ver com o desenvolvimento que teve no movimento feminista, porque o WenDo está muito perto do movimento feminista, todas as treinadoras de WenDo na Europa são feministas, a maioria são lésbicas, e assim integramos no WenDo os temas que o movimento feminista discute. Um exemplo é que no final dos anos 80 o assunto de abuso sexual de meninas foi muito discutido dentro do movimento feminista e a partir daí integramos este assunto aos treinos, e no final dos anos 80 começamos a dar aulas a meninas, e sempre vemos o WenDo como uma prevenção contra o abuso sexual das meninas e uma maneira para as mulheres sobreviver a violência que elas sofreram na vida.

4) Porque o WenDo é apenas para as mulheres, gostaria que você explicasse isto e falasse da importância das mulheres se organizarem.

Para mim é muito claro porque o WenDo é para mulheres, não sei porquê há dúvidas. Na Alemanha, como aqui no Brasil, na maioria dos outros países do mundo, a mulher se encontra em uma situação de opressão e discriminação e por isto os homens podem usar violência contra ela, até matar a esposa se ela quer se separar, existem vários tipos de violência, discriminação no trabalho, estupro, abuso sexual. Hoje em dia na Alemanha, que é um país desenvolvido como muitos pensam, mas lá a mulher recebe ainda menos dinheiro que os homens, fazendo o mesmo trabalho. Em nosso país, assim como no Brasil, existe muita discriminação, as mulheres sofrem violência e é muito importante que elas se organizem para acabar com isto, eu vejo na Alemanha, como aqui que as mulheres conseguiram muitas coisas, mas ainda não é suficiente, este pensamento que já conseguimos muito e não precisamos mais do movimento feminista, não é verdadeiro, sobretudo na Alemanha vemos a situação das mulheres imigrantes, e no Brasil se olharmos a situação da mulher negra, da trabalhadora, percebemos que temos que continuar lutando.


5) Conte como se dá a organização do WenDo na Alemanha e na Europa.

Temos uma estrutura boa. Tudo começou em 1979 quando as primeiras professoras de WenDo foram formadas lá na Alemanha, mulheres da França e da Bélgica, e de outros países, e lá as mulheres começaram a se encontrar uma vez no ano na França para aprender mais e trocar informações, para trocar idéias e depois começaram a realizar um encontro no sul da França, que é internacional. Em muitos outros países da Europa, como Suécia, Espanha, Suíça, e na Turquia, que não é na Europa, mas fica próximo, existem grupos de WenDo. O encontro lá na França demora três dias, a cada ano, acontece no final de agosto é um ponto de organização, de treinar muito também, na Alemanha a rede de treinadoras se encontra uma vez pelo ano também, e tem encontros entre mulheres de WenDo e artes marciais, tem uma estrutura boa, e procuramos nos manter auto organizadas. Até hoje o WenDo não é uma organização não-governamental (ONG), uma organização institucionalizada, tem grupos autônomos. Eu quero que o WenDo fique sempre autônomo. Somos respeitadas por muitas instituições e na minha cidade até a policia quando as mulheres são violentadas pelos maridos, ou crianças, eles indicam, mandam a mulher, a menina, para nosso grupo, para fazer os treinos conosco, temos uma boa visibilidade e respeito.

6) Como vocês se organizam e como os grupos se mantêm na Europa?

Quando fazemos cursos recebemos dinheiro das instituições, às vezes das mulheres, às vezes uma mistura das duas coisas, somos bem remuneradas pelas instituições, mas também fazemos cursos onde nós recebemos pouco dinheiro em solidariedade com grupos de outras mulheres. Por exemplo, agora estou em João Pessoa treinando com vocês e não estou cobrando a vocês pela oficina que estou dando, sempre tem este lado onde podemos cobrar, cobramos, onde não podemos não cobramos ou cobramos menos, é uma maneira de termos renda para manter o nosso grupo. Quando nos encontramos e fazemos este trabalho de organização e de desenvolvimento, divulgação do WenDo, fazemos com nosso dinheiro, nosso trabalho, não recebemos nada de ninguém.


7) Como são pensados estes encontros que são realizados na França, Canadá e quantos já foram realizados?

Começou em 1979 e a cada ano tem um encontro no sul da França, há 28 anos estes encontros são realizados.
É sempre um grupo de alguma cidade participante do encontro, e agora o encontro é muito mais internacional, o grupo pega a responsabilidade para organização e o grupo vai lá e organiza e tudo isto é feito voluntariamente e sem ajuda financeira, as mulheres quando chegam ao encontro dão apenas uma contribuição, porque temos que pagar pelo acampamento, alimentação, e também tem mulheres que tem mais dinheiro e mulheres que não podem pagar e nenhuma mulher fica de fora se não pode pagar. As primeiras brasileiras, que são as mulheres do grupo de Salvador, que participaram deste encontro não precisaram pagar, foi um ato de solidariedade.



8) Percebo que o WenDo tem algumas características anarquistas, você concorda?
Sim. Eu penso que se você é radical feminista, você também tem ligações, características com o anarquismo, como a busca por autogestão, solidariedade, apoio mutuo, entre outros princípios que fazem parte do anarquismo.

9) Vocês já realizaram oficinas com prostitutas. Conte o que foi mais marcante nesta oficina.
Foi minha colega de grupo quem fez esta oficina, no meu caso posso falar de outras experiências que tive, e o mais marcante é quando chegam as meninas e as mulheres, às vezes são tímidas e quando saem do salão já tem outra expressão do corpo, de auto estima, acho isto muito legal do trabalho. E também com as vitimas de violência o WenDo trabalha com as experiências de violência que cada uma já teve, que é uma maneira de sobreviver, é uma maneira de se sentir melhor e de manter controle sobre a vida melhor que antes, é um lado muito importante do WenDo e também muito bonito, porque quando uma mulher sofre violência é sempre um trauma, ela perde o controle sobre a vida dela, sobre o corpo dela, e com o WenDo ela pode retomar este controle, isto muda muito, na minha vida e também na vida das mulheres, isto eu posso ver na expressão das mulheres, isto é muito lindo do WenDo.

10) E com as prostitutas, como foi?

Foi a Gabi quem fez a oficina junto com outra colega nossa, a Marsha, que hoje não está mais no grupo, elas trabalhavam juntas, porque quando são grupos grandes e que precisam de mais atenção trabalhamos em duas. A experiência foi muito boa, foi difícil porque estas mulheres eram usuárias de heroína, elas vieram algumas semanas, mas foi muito bom porque elas se sentiram mais fortes depois da oficina e as prostitutas são mulheres bem mais vulneráveis a violência, muitas vezes os homens não querem pagar, batem nelas, fazem coisas que elas não foram contratadas. Para elas foi muito legal para elas terem esta experiência e para nós também.

11) Qual o recado que você daria para as mulheres brasileiras, para as mulheres de um modo geral, para que elas saiam deste circulo de violência, que não é nada fácil, mas possível.

Que sempre tem caminho.

12) E o caminho pode ser o WenDo...

E o caminho pode ser o WenDo ou outra coisa, mas penso que sempre tem um caminho, às vezes não é fácil encontrar, mas se estamos de olhos abertos, tem um caminho.

O Direito de não ser mãe

Daqui a duas semanas estaremos comemorando o Dia das Mães e, se eu for a qualquer estabelecimento comercial receberei os parabéns pelo meu dia, de um desavisado funcionário que acha que todas as mulheres são mães. Eu costumo retribuir e digo: Para você também, meu amigo, feliz dia das mães. Afinal, todo mundo, é filho, não é? Se não fossem as nossas mães não estaríamos aqui. Mesmo os futuros clones, terão mães, ainda que sejam gestados em úteros de laboratório, incubadoras, pois terão nascido da célula de alguém.

Vejo muitas mulheres, que absolutamente não têm vocação para a maternidade, gestando filhos que não desejam apenas porque a sociedade espera isso delas. Pode parecer chocante àquelas mães felizes e realizadas dizer isso. Mas é a pura verdade: nem todas as mulheres têm vocação para a maternidade e isso não significa que alguma coisa esteja errada com elas.

Antigamente, como eu já disse em outras oportunidades, o único poder da mulher era a maternidade. Antigamente o mundo precisava de muitos filhos, para garantir a continuidade da espécie. As crianças morriam facilmente. Os adultos morriam muito cedo.

Fomos nós que mudamos tudo no mundo. A ciência, os bons hábitos de higiene, o saneamento básico, a melhoria da alimentação, dos medicamentos...Uma somatória de coisas garante que os nossos filhos, na sua maioria absoluta, sobreviverão e que nós teremos maior longevidade. O mundo, superpovoado, em alguns países tem que impor o controle da natalidade para evitar o desastre do excesso de população. No entanto, a primeira coisa que se pergunta aos recém-casados é quando eles terão um filho.

Como se fosse obrigatório.

Será que é? Para mim, nunca foi. Desde menina eu sabia que não seria mãe, que não queria ter filhos. Eu queria, sim, era ter uma carreira e dar a minha contribuição à humanidade através do meu trabalho. Acho que tenho conseguido, humildemente, colocar o meu tijolinho na nossa grande construção. E filhos não me fazem e nunca me fizeram nenhuma falta.

No entanto, o exercício desse direito de não ser mãe ainda causa pensamentos maldosos nas pessoas, do tipo: o que será que está errado com ela?
Repito: muitas mulheres que, como eu, não têm vocação para a maternidade acabam cedendo à pressão social e tendo um filho. Será esse filho tão feliz quando aquele desejado e planejado? Talvez. Afinal alguns psiquiatras afirmam que o instinto maternal se instala na mulher com a gravidez e faz com que ela passe a amar o feto. Pode ser. Mas mesmo assim existem aquelas que abandonam os filhos na lata de lixo.

O surgimento da pílula desvinculou de vez a atividade sexual da maternidade. As mulheres conquistaram o direito ao prazer sem o medo da gravidez indesejada ou inoportuna. Nos anos sessenta era muito popular uma piadinha profana: Ó, Virgem Maria, tu que concebeste sem pecar, ensina-nos a pecar sem conceber. A camisinha foi inventada na Roma Antiga, visando não a proteção às doenças sexualmente transmissíveis, é claro, mas à contracepção.

As mulheres de hoje encontraram sua realização em outras coisas que não a maternidade. A Dra. Angelita Gama, médica muito importante, fez, como eu, a renúncia consciente à maternidade em favor da carreira.

Mas a nossa sociedade preconceituosa ainda acredita que alguma coisa está errada com mulheres que não querem ser mães.

Acreditando ou não, a verdade é que hoje em dia temos sim o direito de não ser mães. Graças a Deus.

Um filho desejado e planejado é sem dúvida uma benção. Um filho indesejado pode até ser amado mas, de alguma maneira, sofrerá as conseqüências de ter sido um transtorno.

A realização pessoal de algumas mulheres pode estar na maternidade. Mas a realização pessoal nunca está no outro. Está em nós mesmos. Não é o companheiro, nem o filho, nem ninguém que trará a realização. Só nós mesmos podemos encontrá-la, dentro de nós, através do exercício dos impulsos e desejos que existem também dentro de nós.

A realidade é que nem todas as mulheres têm vocação para a maternidade. Assim como nem todos os homens têm vocação para a paternidade.

A idéia de que uma mulher só se realiza plenamente tendo filhos é tão equivocada quanto a idéia de que um homem só se realizaria sendo pai. Os homens colocam sua realização pessoal em muitas outras coisas que não a paternidade. Mas, para a mulheres, ser mãe tornou-se, com o tempo, uma obrigação social. É mais uma falácia que a sociedade e a história impuseram ao nosso sexo. Ser mãe é, para muitas mulheres, uma experiência maravilhosa. Mas isso não quer dizer que o seja para todas as mulheres.

Se você não sente, dentro de você, o desejo de ser mãe, não ceda à pressão social e familiar. Não seja mãe e pronto. É mais um direito que conquistamos: o de dizer não à maternidade indesejada.

Isabela Vasconcelos

A mulher rural é a guardiã dos segredos da Terra e do conhecimento agrícola popular

As mulheres rurais, quantas vezes esquecidas e relegadas para um plano secundaríssimo, têm, no entanto, uma importância capital na defesa da terra. Na verdade, geralmente é conhecido que são elas as principais transmissoras do conhecimento tradicional agrícola e os sustentáculos do modo de vida rural. Segundo os dados da FAO existirão no mundo mais de 1.600 milhões de mulheres rurais, a maior parte delas camponesas, constituindo uma quarta parte da população mundial. Não obstante, o patriarcado tecnológico que governa atualmente a terra levou a que as mulheres possuam tão só 2% da propriedade da Terra e que somente recebam 1% dos créditos destinados à agricultura. Desde 1970 duplicou o número de mulheres rurais em situação de pobreza. Todavia são elas as grandes depositárias da biodiversidade botânica do mundo, que tão ameaçada está pelas mudanças climáticas, pela desertificação, pela poluição ambiental, os incêndios florestais, o cultivo transgênico, a erosão resultante dos produtos químicos sintéticos, a ditadura das espécies a cultivar, e todo um conjunto de fatores que vão até à própria legislação…Na atualidade, as camponesas do planeta são as responsáveis por metade da produção mundial dos alimentos e produzem entre 60% e 80% dos alimentos dos países chamados eufemisticamente “em vias de desenvolvimento”. São elas também as responsáveis pela produção dos principais bens alimentares (o arroz, o trigo, o milho, que representam até 90% dos alimentos consumidos pelos povos das zonas rurais). A contribuição feminina para a produção de outros produtos, como os legumes e as hortaliças, é ainda maior.Tais produções, normalmente realizadas em hortas familiares, proporcionam os nutrientes fundamentais para o bem estar familiar. “Os conhecimentos especializados das mulheres relativamente aos recursos genétic os aplicados à agricultura e à alimentação fazem delas as principais protagonistas do sustento e evolução da variedade genética”, reconhece a FAO.E há que acrescentar que na maioria dos casos, esta produção, realizada esmagadoramente sob forma de agricultura de subsistência, é levada a cabo sem o recurso de produtos químicos, nem sequer biotecnológicos. O que significa que, sem administração de elementos externos, somente as pessoas que têm um conhecimento profundo da fertilidade da Terra podem tirar dela o seu máximo aproveitamento. E se nos recordamos que é a Terra Mãe que nos proporciona os seus frutos, então somos levados a chegar à conclusão que nada melhor que as mães para entenderem o segredo da Terra Mãe. São as mulheres camponesas, fiéis representantes da economia doméstica, e responsáveis pela saúde familiar em metade do mundo, que colhem as ervas medicinais (segundo os dados da ONU, 80% da população mundial ainda utiliza a herborística tradicional), e que se têm mostrado mais resistentes às biotecnologias transgênicos e à agroquímica. Não é por isso que as transnacionais preferem falar com os agricultores, depois de os separar adequadamente do seu meio familiar, vendendo-lhes falsas ilusões. Os livros ecofeministas de Vandana Shiva e de Maria Mies equacionam muito bem toda esta situação através de exemplos e de dados, em especial, na Índia.A tradição judaico-cristã construiu um protótipo de mulher baseada no sentimentalismo, na idéia de agente reprodutora e no papel de submissa à vontade do homem. Um certo feminismo urbano contestou toda esta tradição, mas não realçou o papel das mulheres indígenas e das populações vernáculas, e até de outras minorias, que nunca se sentiram representadas pelos grupos e coletivos feministas europeus e norte-americanos. Só pouco a pouco se tem vindo a reconhecer a enorme capacidade de resistência da mulher rural, intimamente ligada à Terra Mãe, detentora dos seus segredos e protetora da saúde alimentar e da natureza, constantemente assediada pelo patriarcado do “homo tecnologicus”, as empresas e os governos liderados pelos homens. Ora devemos devolver a agricultura às mulheres, ou dito por outras palavras, a todos aqueles que tenham uma mentalidade que seja típica das mulheres rurais e a mesma maneiras destas tratarem da terra.(tradução livre e parcial de um texto de Pedro Burruezo, publicado na revista The Ecologist, de Janeiro de 2002, na sua versão castelhana)
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A mulher é uma mercadoria como outra qualquer

Texto do antropólogo Marc Augé

“A prostituição revela a verdadeira face do utilitarismo capitalista”, diz o antropólogo francês, Marc Augé. E o espetacular incremento do número de prostitutas nos últimos 15 anos “é filho da globalização”.
Marc Augé é o autor da fórmula “não-lugar” [Não-lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade (Papirus, 1994)], que tanto êxito teve para representar e esclarecer dinâmicas da sociedade contemporânea. Perguntado pela formas de exploração que hoje afetam 500 mil pessoas em toda a Europa – mais de 30 mil na Itália –, lança sua acusação: “O tráfico de escravos do Terceiro Mundo é o produto de nossas sociedades. Alimenta-se de necessidades consubstanciais com o atual sistema econômico no qual tudo, inclusive os seres humanos, é reduzido a mercadoria”.
Segue a íntegra da entrevista que o antropólogo Marc Augé concedeu ao jornal italiano Il Manifesto, 3-11-2007. Tomamos a tradução espanhola do sítio La Haine, 7-11-2007. A tradução é do Cepat.
Por que, depois de anos de diminuição, nos últimos quinze anos cresceu novamente de maneira exponencial o número de prostitutas?
Trata-se de um dos vieses negativos de uma globalização em que tudo se converte em objeto de comércio. Também a vida humana. É um fenômeno que se dá em ambos os sentidos: através da importação de escravas que são vendidas nas aceras de nossas ruas, mas também, graças ao turismo sexual, em países em que a pobreza é tão grande, que força muitas mulheres a colocar o próprio corpo em leilão. Um fenômeno que se desenvolveu inclusive em concomitância com a ampliação das economias nacionais e dos mercados.
Então, a prostituição como o negativo de nosso sistema econômico e social?
A prostituição é um fenômeno extremo, e precisamente por isso permite reconhecer mais facilmente as estruturas sociais dominantes. No caso da Europa de hoje, reflete de maneira particularmente explícita e clara a cultura especificamente utilitarista e comercial do capitalismo. Uma cultura na qual tudo, até a própria existência individual, se converte em instrumento de satisfação do consumo. Uma cultura que teoriza a livre circulação das mercadorias, obrigando assim as pessoas que querem chegar ao Ocidente a se transformar em bens de consumo.
Contudo, as nossas são sociedades em que há uma relativa liberdade sexual.
É verdade, mas a ilusão de uma transformação antropológica, característica dos anos sessenta, era isso, uma ilusão. Desaparecida, por exemplo, a perspectiva de uma paridade completa homem-mulher, determinados modelos ancestrais reapareceram com todas as raízes intactas. Por essa razão, muitos clientes sustentam que andar com prostitutas lhes permite fazer com elas coisas que não podem fazer com suas mulheres. Com a diferença de que, hoje, aquelas pulsões ancestrais assumem características típicas de nosso tempo, e se expressam em relações cunhadas pelo sistema em que vivemos. A cultura consumista, por exemplo, estimula a prostituição enchendo a nossa vida cotidiana com inúmeras imagens eróticas, a fim de gerar novas necessidades, novas exigências e novas fatias de mercado.
Num recente estudo francês aparece uma elevadíssima taxa de violência dos clientes em relação às prostitutas.
Trata-se de um fenômeno muito complexo, no qual entram em jogo os clássicos mecanismos de dominação machista. No caso específico, o fato de que estas mulheres não sejam prostitutas, mas verdadeiras escravas, pessoas que não escolheram exercer essa atividade, mas às quais isso foi imposto à força, as torna ainda mais atrativas para um certo sadismo que se alimenta da imagem do branco dominador que maltrata a mulher, ser mais frágil e acima de tudo, pertencente a populações consideradas inferiores. Este é o esquema, alimentado e difundido pelos meios de comunicação e pela natureza arquicomercial do atual capitalismo. Por essa razão, hoje, as prostitutas já não são mais seres humanos, mas objetos para usar e descartar.
Como você analisa o fenômeno fora dos grandes centros habitados, no campo ou nos centros provinciais?
É uma prova a mais de um tipo de globalização consistente em submeter o território às exigências do consumo. Um fenômeno que coincide com o desaparecimento, cada vez mais claro, da distinção entre campo e cidade. Para dar-se conta disso, basta viajar: já não existem oásis ou descontinuidades na exploração do território. As prostitutas-escravas não são uma exceção; estão disponíveis em qualquer lugar.

Mulher, darás a luz com dor! *

Na manhã desta segunda feira a noticia de que uma criança havia sigo jogada em um ribeirão, em uma cidade de Minas Gerais, Brasil, me chamou a atenção. Era um bebê, do sexo feminino, de apenas dias de nascida que foi socorrida por dois rapazes que passavam no local. Após algumas horas, a mãe do bebê, uma mulher desempregada e que não queria ter a filha, foi presa pela policia e no momento, encontra-se internada em um hospital.
Os noticiários dizem que ela provocou um aborto, tomando chá de ervas abortivas e remédios para expulsar o bebê. Já outro diz que ela teve o parto e logo em seguida jogou a criança no ribeirão. A menina, na hora do resgate, ainda estava com o cordão umbilical. Esta segunda informação parece ser a mais coerente, pois não é possível a uma mulher de nove meses de gestação ou oito e até mesmo seis, provocar o aborto e o bebê nascer perfeitamente bem. Na realidade, o aborto só acontece quando se é um feto ou um embrião, e tem semanas de concepção. Fora isto, não é aborto. Com certeza, haverá seqüelas, mas não por se tratar de aborto. A criança está em um hospital e seu estado de saúde é grave, pois assim que nasceu não foi desejada, amada pela mãe e pelo pai e jogada em um rio sujo. Em todas as casas, com certeza esta mãe deve estar sendo recriminada pelo ato que praticou. Mas e como será que ela ficou desde o momento que soube que estava grávida? Como esta mulher ficou e está agora, psicologicamente, já que todos e todas a chamam de “assassina”? Como seria sua relação com o companheiro, sua família e consigo mesma?? A imprensa não pergunta nem deseja saber tais informações, sem nem procurar saber os reais motivos que levaram esta mulher a praticar tal ato. Já vai logo dando a noticia e a conclusão que se pode chegar de acordo com estas informações, é que a mãe que jogou a filha no rio é uma pessoa cruel, má, perversa. Sem dúvida, o ato demonstra o tamanho desespero de uma mulher que não queria ser mãe e sabe-se lá em que motivo isto aconteceu. A imprensa não procura entrevistar o pai. Diz apenas que ele não sabia que a mulher estava grávida. E o que ele fazia na hora da concepção, então??
Mais uma vez, um caso em que envolve abandono de crianças e a mulher é logo condenada. Estamos cansadas e cansados de ver isto na mídia. Parece até que ela fez a filha sozinha e que por não ter se planejado merece ser punida por isto, principalmente por ter jogado a criança no lixo. Mas e porque o pai não é responsabilizado também? Porque só a mulher deve ser a responsável e a culpada por ter engravidado, ou abortado ou jogado a/o filha/o no lixo???
Porque quando a mulher decide abortar, decisão nem sempre fácil de ser tomada e nem desejada, apenas ela é execrada, quando muitas vezes é o marido, companheiro ou namorado que “sugere” que ela aborte?? Este caso reacende, traz à tona diversas questões, pois a sociedade precisa refletir e a imprensa parar de trazer a notícia fria, sem reflexões ou fazer julgamento das mulheres, sem ao menos lhes ouvir profundamente para saber o que aconteceu. Vez por outra a mídia brasileira traz para o debate o assunto aborto, mas não busca se apropiar mais deste tema, fazer debates que mostrem a verdade dos fatos e não aquela história pré-fabricada nas redações. À criança, torcemos para que sobreviva! Mas queremos também que esta mãe possa ser cuidada, como também todas as mulheres possam ter o direito a métodos anticoncepcionais, que não só o preservativo e a camisinha, que conheça o seu corpo e que tenha a autonomia de decidir sobre ele, dizendo quando e com quem quer ter suas/seus filhas/os. E até decidindo sobre se quer tê-los ou não. Que tenha direito a saúde, a uma rede pública de serviços completa, seja ela de que classe social for.
Uma/Um filha/a deve ser desejado, e não uma imposição. No dia 28 de setembro, celebra-se o Dia pela Descriminalização do aborto na América Latina e no Caribe. Estima-se que na Paraíba são realizados cerca de 1000 abortos clandestinos. O Ministério da Saúde aponta o aborto inseguro como um problema de saúde pública, que mata mulheres e precisa ser debatido, sem moral religiosa e sem tabus, pela sociedade. Não se pode criminalizar mulheres que praticam o aborto, mas sim ampará-las e dar-lhes apoio em todos os sentidos. É o que esta mãe e este bebê estão precisando agora. Mais do que nunca. Fazer com que as crianças sejam amadas, e desejadas e dizer que as mulheres não engravidam sozinhas. E que todos, homens e mulheres, sejam colocados nesta discussão, pois as mulheres não engravidam sozinhas.

*trecho da Bíblia em que condena às mulheres a sofrer durante o parto, sentindo dores, por ter tocado na árvore do conhecimento e ter desafiado a Deus.

Mabel Dias
Grupo Wendo –JPA
Coletivo Insubmissas