domingo, 12 de abril de 2009

O Direito de não ser mãe

Daqui a duas semanas estaremos comemorando o Dia das Mães e, se eu for a qualquer estabelecimento comercial receberei os parabéns pelo meu dia, de um desavisado funcionário que acha que todas as mulheres são mães. Eu costumo retribuir e digo: Para você também, meu amigo, feliz dia das mães. Afinal, todo mundo, é filho, não é? Se não fossem as nossas mães não estaríamos aqui. Mesmo os futuros clones, terão mães, ainda que sejam gestados em úteros de laboratório, incubadoras, pois terão nascido da célula de alguém.

Vejo muitas mulheres, que absolutamente não têm vocação para a maternidade, gestando filhos que não desejam apenas porque a sociedade espera isso delas. Pode parecer chocante àquelas mães felizes e realizadas dizer isso. Mas é a pura verdade: nem todas as mulheres têm vocação para a maternidade e isso não significa que alguma coisa esteja errada com elas.

Antigamente, como eu já disse em outras oportunidades, o único poder da mulher era a maternidade. Antigamente o mundo precisava de muitos filhos, para garantir a continuidade da espécie. As crianças morriam facilmente. Os adultos morriam muito cedo.

Fomos nós que mudamos tudo no mundo. A ciência, os bons hábitos de higiene, o saneamento básico, a melhoria da alimentação, dos medicamentos...Uma somatória de coisas garante que os nossos filhos, na sua maioria absoluta, sobreviverão e que nós teremos maior longevidade. O mundo, superpovoado, em alguns países tem que impor o controle da natalidade para evitar o desastre do excesso de população. No entanto, a primeira coisa que se pergunta aos recém-casados é quando eles terão um filho.

Como se fosse obrigatório.

Será que é? Para mim, nunca foi. Desde menina eu sabia que não seria mãe, que não queria ter filhos. Eu queria, sim, era ter uma carreira e dar a minha contribuição à humanidade através do meu trabalho. Acho que tenho conseguido, humildemente, colocar o meu tijolinho na nossa grande construção. E filhos não me fazem e nunca me fizeram nenhuma falta.

No entanto, o exercício desse direito de não ser mãe ainda causa pensamentos maldosos nas pessoas, do tipo: o que será que está errado com ela?
Repito: muitas mulheres que, como eu, não têm vocação para a maternidade acabam cedendo à pressão social e tendo um filho. Será esse filho tão feliz quando aquele desejado e planejado? Talvez. Afinal alguns psiquiatras afirmam que o instinto maternal se instala na mulher com a gravidez e faz com que ela passe a amar o feto. Pode ser. Mas mesmo assim existem aquelas que abandonam os filhos na lata de lixo.

O surgimento da pílula desvinculou de vez a atividade sexual da maternidade. As mulheres conquistaram o direito ao prazer sem o medo da gravidez indesejada ou inoportuna. Nos anos sessenta era muito popular uma piadinha profana: Ó, Virgem Maria, tu que concebeste sem pecar, ensina-nos a pecar sem conceber. A camisinha foi inventada na Roma Antiga, visando não a proteção às doenças sexualmente transmissíveis, é claro, mas à contracepção.

As mulheres de hoje encontraram sua realização em outras coisas que não a maternidade. A Dra. Angelita Gama, médica muito importante, fez, como eu, a renúncia consciente à maternidade em favor da carreira.

Mas a nossa sociedade preconceituosa ainda acredita que alguma coisa está errada com mulheres que não querem ser mães.

Acreditando ou não, a verdade é que hoje em dia temos sim o direito de não ser mães. Graças a Deus.

Um filho desejado e planejado é sem dúvida uma benção. Um filho indesejado pode até ser amado mas, de alguma maneira, sofrerá as conseqüências de ter sido um transtorno.

A realização pessoal de algumas mulheres pode estar na maternidade. Mas a realização pessoal nunca está no outro. Está em nós mesmos. Não é o companheiro, nem o filho, nem ninguém que trará a realização. Só nós mesmos podemos encontrá-la, dentro de nós, através do exercício dos impulsos e desejos que existem também dentro de nós.

A realidade é que nem todas as mulheres têm vocação para a maternidade. Assim como nem todos os homens têm vocação para a paternidade.

A idéia de que uma mulher só se realiza plenamente tendo filhos é tão equivocada quanto a idéia de que um homem só se realizaria sendo pai. Os homens colocam sua realização pessoal em muitas outras coisas que não a paternidade. Mas, para a mulheres, ser mãe tornou-se, com o tempo, uma obrigação social. É mais uma falácia que a sociedade e a história impuseram ao nosso sexo. Ser mãe é, para muitas mulheres, uma experiência maravilhosa. Mas isso não quer dizer que o seja para todas as mulheres.

Se você não sente, dentro de você, o desejo de ser mãe, não ceda à pressão social e familiar. Não seja mãe e pronto. É mais um direito que conquistamos: o de dizer não à maternidade indesejada.

Isabela Vasconcelos

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