domingo, 12 de abril de 2009

Mulher, darás a luz com dor! *

Na manhã desta segunda feira a noticia de que uma criança havia sigo jogada em um ribeirão, em uma cidade de Minas Gerais, Brasil, me chamou a atenção. Era um bebê, do sexo feminino, de apenas dias de nascida que foi socorrida por dois rapazes que passavam no local. Após algumas horas, a mãe do bebê, uma mulher desempregada e que não queria ter a filha, foi presa pela policia e no momento, encontra-se internada em um hospital.
Os noticiários dizem que ela provocou um aborto, tomando chá de ervas abortivas e remédios para expulsar o bebê. Já outro diz que ela teve o parto e logo em seguida jogou a criança no ribeirão. A menina, na hora do resgate, ainda estava com o cordão umbilical. Esta segunda informação parece ser a mais coerente, pois não é possível a uma mulher de nove meses de gestação ou oito e até mesmo seis, provocar o aborto e o bebê nascer perfeitamente bem. Na realidade, o aborto só acontece quando se é um feto ou um embrião, e tem semanas de concepção. Fora isto, não é aborto. Com certeza, haverá seqüelas, mas não por se tratar de aborto. A criança está em um hospital e seu estado de saúde é grave, pois assim que nasceu não foi desejada, amada pela mãe e pelo pai e jogada em um rio sujo. Em todas as casas, com certeza esta mãe deve estar sendo recriminada pelo ato que praticou. Mas e como será que ela ficou desde o momento que soube que estava grávida? Como esta mulher ficou e está agora, psicologicamente, já que todos e todas a chamam de “assassina”? Como seria sua relação com o companheiro, sua família e consigo mesma?? A imprensa não pergunta nem deseja saber tais informações, sem nem procurar saber os reais motivos que levaram esta mulher a praticar tal ato. Já vai logo dando a noticia e a conclusão que se pode chegar de acordo com estas informações, é que a mãe que jogou a filha no rio é uma pessoa cruel, má, perversa. Sem dúvida, o ato demonstra o tamanho desespero de uma mulher que não queria ser mãe e sabe-se lá em que motivo isto aconteceu. A imprensa não procura entrevistar o pai. Diz apenas que ele não sabia que a mulher estava grávida. E o que ele fazia na hora da concepção, então??
Mais uma vez, um caso em que envolve abandono de crianças e a mulher é logo condenada. Estamos cansadas e cansados de ver isto na mídia. Parece até que ela fez a filha sozinha e que por não ter se planejado merece ser punida por isto, principalmente por ter jogado a criança no lixo. Mas e porque o pai não é responsabilizado também? Porque só a mulher deve ser a responsável e a culpada por ter engravidado, ou abortado ou jogado a/o filha/o no lixo???
Porque quando a mulher decide abortar, decisão nem sempre fácil de ser tomada e nem desejada, apenas ela é execrada, quando muitas vezes é o marido, companheiro ou namorado que “sugere” que ela aborte?? Este caso reacende, traz à tona diversas questões, pois a sociedade precisa refletir e a imprensa parar de trazer a notícia fria, sem reflexões ou fazer julgamento das mulheres, sem ao menos lhes ouvir profundamente para saber o que aconteceu. Vez por outra a mídia brasileira traz para o debate o assunto aborto, mas não busca se apropiar mais deste tema, fazer debates que mostrem a verdade dos fatos e não aquela história pré-fabricada nas redações. À criança, torcemos para que sobreviva! Mas queremos também que esta mãe possa ser cuidada, como também todas as mulheres possam ter o direito a métodos anticoncepcionais, que não só o preservativo e a camisinha, que conheça o seu corpo e que tenha a autonomia de decidir sobre ele, dizendo quando e com quem quer ter suas/seus filhas/os. E até decidindo sobre se quer tê-los ou não. Que tenha direito a saúde, a uma rede pública de serviços completa, seja ela de que classe social for.
Uma/Um filha/a deve ser desejado, e não uma imposição. No dia 28 de setembro, celebra-se o Dia pela Descriminalização do aborto na América Latina e no Caribe. Estima-se que na Paraíba são realizados cerca de 1000 abortos clandestinos. O Ministério da Saúde aponta o aborto inseguro como um problema de saúde pública, que mata mulheres e precisa ser debatido, sem moral religiosa e sem tabus, pela sociedade. Não se pode criminalizar mulheres que praticam o aborto, mas sim ampará-las e dar-lhes apoio em todos os sentidos. É o que esta mãe e este bebê estão precisando agora. Mais do que nunca. Fazer com que as crianças sejam amadas, e desejadas e dizer que as mulheres não engravidam sozinhas. E que todos, homens e mulheres, sejam colocados nesta discussão, pois as mulheres não engravidam sozinhas.

*trecho da Bíblia em que condena às mulheres a sofrer durante o parto, sentindo dores, por ter tocado na árvore do conhecimento e ter desafiado a Deus.

Mabel Dias
Grupo Wendo –JPA
Coletivo Insubmissas

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