quinta-feira, 27 de maio de 2010

Líder católico diz que mulher deveria morrer com seu feto




A noticia abaixo expressa claramente como a maior parte dos representantes
da Igreja Catolica ainda estão em total dissonância com as necessidades e
demandas da sociedade atual. A Atitude do Padre da Diocese de Phoenix,remonta aos tempos da santa inquisição. Mas, no entanto, se calam e
nada fazem diante dos padres católicos pedófilos.


Por Redação Opinião e Notícia

O caso está tendo ampla repercussão nos EUA.

O padre da Igreja Católica e diretor de ética médica da Diocese de
Phoenix, John Ehrich, fez uma afirmação que já levantou muita polêmica nos Estados
Unidos. Ao falar sobre o caso de uma mulher que teve o aborto autorizado
pela freira Mary Margaret McBride, o líder católico disse que a atitude da
Irmã deveria ter sido outra: deixar a mulher morrer junto com o feto. Sem
considerar que a mãe de quatro filhos morreria se o aborto não fosse
realizado, o Reverendo foi além: excomungou a freira.

O caso está tendo ampla repercussão nos Estados Unidos e dividindo
opiniões em relação ao aborto. Parte da população aponta que a diocese de Phoenix
interpretou mal as diretrizes católicas, que permitiria o aborto caso a
vida de uma mulher estivesse em perigo. Outros comentaram que se a mulher
tivesse morrido, não só o bebê não teria sobrevivido, mas quatro crianças estariam
sem mãe. Há também quem tenha relembrado que a rapidez em excomungar a
freira não se assemelhou nem um pouco à falta de atitude da Igreja em
relação aos padres pedófilos descobertos nos últimos meses.


(Envolverde/Opinião e Notícia )
Denise de Mattos Gaudard
Consultoria Socioambiental

terça-feira, 18 de maio de 2010

Quem matou Aryane?


Por Mabel Dias

No dia 15 de abril, o corpo de uma mulher foi encontrado na BR 230. Era a jovem Aryane Thais, de apenas 22 anos. No pescoço havia marcas de estrangulamento e no bolso da calça de Aryane um exame comprovando que ela estava grávida. No dia anterior, Aryane havia procurado o ex-namorado, o estudante de Direito, Luiz Paes Neto, pra comunicar que estava grávida dele. Logo após, ela aparece morta.
Hoje 22 de maio faz um mês que Aryane Thaís foi assassinada e a policia, responsável por investigar o que aconteceu com ela e encontrar quem a matou, ainda não conseguiu responder a tais questões. Até o momento, o suspeito de matar Aryane seria o ex-namorado dela, Luiz Paes, que nega ter matado a jovem. Marcas de arranhões foram encontradas no pescoço dele. Porém, nada parece comprovar que foi ele o assassino de Aryane.
O caso chegou ao Fórum Criminal e está nas mãos do promotor Alexandre Varandas, que vai pedir a exumação do corpo de Aryane, para saber se ela foi sedada antes de ser estrangulada. Bom, mas isto vai chegar ao assassino de Aryane? O promotor também disse que a polícia deve continuar as diligências para encontrar quem matou a jovem e que Luiz Paes, suspeito de matá-la, terá a prisão prorrogada até as investigações serem encerradas.
Será que este é um quebra-cabeça que não terá solução? Será que Aryane ficará, como tantas mulheres, nas estatísticas dos casos de violência contra a mulher? O fato dela estar grávida do estudante de Direito, Luis Paes Neto seria motivo para ele tê-la assassinado? E onde estão as provas deste assassinato? Será este mais um caso a ser arquivado?
É o que a policia e o Judiciário estão tentando responder. O fato é que já se passou um mês, e até agora, a resposta a este crime contra mais uma paraibana, não existe (?). A sociedade paraibana parece acordar todos os dias e buscar juntar as peças deste quebra-cabeças para poder entender o que levou o assassino de Aryane a cometer tal ato.
A morte de tantas mulheres nos faz pensar se seria crime passional o termo mais adequado para podermos designar os assassinatos contra as mulheres. Na maioria das vezes, os homens que as matam são seus maridos, namorados, pais, tios, levados por ódio e posse, elementos de uma cultura machista cruel, que coloca a mulher como propriedade do homem e como uma “coisa” ,que pode ser descartada quando atrapalha ou quando não serve mais. Estudiosas feministas apontam que estes casos, cada vez mais crescentes, são feminícidios, ou seja, homens que matam por ódio às mulheres. O pior é sabermos que quase todo dia mulheres e meninas são assassinadas, e que muitas vezes, estes crimes poderiam ter sido evitados. O caso de uma cabeleireira, em Brasília, que foi assassinada pelo seu ex-marido, mesmo após ter registrado vários boletins de ocorrências na delegacia, é ilustrativo da falta de ouvidos que a sociedade, o Judiciário e a policia continuam a dar aos gritos das mulheres.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Navegando os rios da Amazônia nas ondas do rádio


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É desta forma que a jornalista e radialista, Mara Régia, leva informação, cultura e muita alegria a milhares de pessoas por todo o Brasil. As ondas do rádio chegam aos principais recantos do país, principalmente aqueles onde os direitos essenciais do ser humano, como saneamento básico, ainda não chegaram em pleno século XXI para todas/os as/os brasileiras/os. Com 30 anos de experiência profissional, ela já trabalhou nos principais veículos de comunicação do Brasil, como a Globo e a Bandeirantes, tanto na TV como no rádio, e foi neste último que se encontrou com a sua verdadeira paixão. Esta entrevista foi concedida na Oficina de capacitação em rádios comunitárias, que aconteceu nos dias 24 e 25 de abril, em Recife (PE).

1) Como você começou a gostar de rádio?


Essa paixão parece que sempre esteve presente na minha vida. Na verdade, remonta a época das novelas, na Rádio Nacional, minha avó ouvia assiduamente a novela “O Direito de nascer”, em 1957, 1958, e eu cantava a trilha da novela. Anos mais tarde, lembro que o primeiro “puxão de orelha” que eu recebi de minha mãe e de meu pai foi por ter ido, sozinha, na praça Mauá para conhecer a Rádio Nacional, no Rio de Janeiro. Eu tinha o maior fascínio. E curiosamente, eu nasci no dia 12 de setembro, dia de inauguração da Rádio Nacional. Veja que nada é por acaso, já havia uma certa conspiração. Inclusive no nome, porque meu nome é Mara Régia, e eu já estou navegando os rios da Amazônia nas ondas do rádio há cerca de 20 anos. O pessoal acha que é nome fantasia. Toda vez que chego numa comunidade, as pessoas dizem: “Mara Régia, você é a flor símbolo da nossa Amazônia!”. É muito lindo! Eu amo o rádio.


2) E qual foi o seu primeiro programa no rádio? Como você se sentiu?

O primeiro programa, onde eu fiz a apresentação foi o Viva Maria, mas o primeiro, como produtora, assim que entrei na rádio, foi o Clube do ouvinte, voltado para atendimento às demandas da audiência na Amazônia.


3) E como veio a idéia de fazer um programa voltado para as mulheres e a natureza?

Eu tive uma história pessoal que me fez pensar sobre a condição feminina. Meu pai, infelizmente, quando bebia era muito violento, batia muito na minha mãe. E eu me lembro quando tinha uns oito anos de idade, entre as tantas brigas que presenciei, eu disse “Não, quando eu crescer vou fazer alguma coisa para as mulheres não apanharem mais”, isto já estava plantado no meu coração. Quando eu me casei, no início dos anos 70, fui para a Inglaterra e lá comecei a ficar fascinada pelos programas que tratavam da condição feminina, programas de rádio, de TV.Existia uma consciência, uma rede de solidariedade às mulheres vítimas de violência e foi lá que eu fiz minha estréia como feminista ao participar da primeira manifestação de rua em prol do aborto , pois o parlamento inglês queria mudar isto e aí a gente engrossou as fileiras, dizendo “Não ao Estado, não à Igreja, as mulheres tem o direito de escolher seu destino, as mulheres tem de ser donas de seu corpo”. Ficou a semente. Quando voltei ao Brasil, e me foi dada a oportunidade de trabalhar na rádio, um gerente tinha um espaço na rádio AM de Brasília, ai ele falou: Você não quer fazer um programa, não?!” E eu falei : “Só se for um programa voltado para a condição feminina”. Assim nasceu o “Viva Maria”, que é um programa pioneiro no trato das questões de gênero e na mobilização das mulheres na luta por seus direitos . E desde 1980 estamos no ar, com algumas interrupções . No governo Collor houve uma perseguição política grande na então Radiobrás, e o programa foi retirado do ar da forma mais arbitrária. Em nome da modernidade, já que a luta das mulheres , para a direção da empresa , não fazia sentido . Daí eu fui para a Rádio Capital em Brasília e comecei a fazer, através do rádio, oficinas de capacitação em gênero para mulheres que eram lideranças populares. Por força dessa capacidade de mobilização e resistência do “Viva Maria” , uma homenagem: em 1990, durante um Encontro Feminista, em San Bernardo , Argentina, foi criado o Dia Latino Americano da Imagem da Mulher nos Meios de Comunicação – 14 de setembro- data em que o Viva Maria foi ao ar pela primeira vez .


4) Os programas que você faz atualmente chegam a quais regiões e cidades do Brasil?

O “Natureza Viva” é transmitido aos domingos para os nove estados da Amazônia Legal, do Acre ao Maranhão. Trata-se de uma revista radiofônica com duas horas de duração, das 8h às 10h, voltado para a proteção ambiental. Dentro do programa tem o quadro “Natureza Mulher”, que fala do impacto do meio ambiente no corpo feminino com ênfase na saúde feminina e no uso das plantas e ervas medicinais . Pra isso, contamos com a participação da ginecologista e obstetra, Livia Martins , que é também fitoterapeuta. Além do Natureza Viva, aos sábados , eu produzo e apresento também o “Trilha Animal”. Transmitido pela Rádio Nacional AM, Rádio Nacional Amazônia, Radio Difusora de Macapá e Radio Universidade de Santa Maria, RGS. O programa também é retransmitido pela RDS portuguesa em Lisboa, Portugal. Para ouvir o “Trilha” em podcast pela internet basta entrar no site :www.wspabrasil.com.

Quanto ao Viva Maria”, hoje ele perdeu espaço . Tornou-se uma coluna diária de cinco minutos e é transmitido pelas emissoras da EBC- Empresa Brasil de Comunicação : Rádio Agência, Nacional da Amazônia, Nacional Alto Solimões , Nacional Brasília e Nacional Rio de Janeiro.


5) E como é a repercussão destes programas junto à população destas regiões?

Quem mora nas cidades, nas grandes capitais, se comunica por email. A Nacional tem uma Central do Ouvinte muito concorrido. São centenas de mensagens por dia . Já no interior da Amazônia , a audiência é medida através do volume de cartas. Há meses que elas chegam aos montes, mas a média é de 150 por mês vindas dos mais distantes rincões , onde o Correio nem chega é por isso que cada carta dessas vale por mil .


6) E o que contam estas cartas?

Contam histórias de vida . Compartilham tristezas , alegrias e dúvidas. A maioria sobre saúde . Mas muitas dela também são denúncias. Outras apelam ainda por justiça já que na zona rural da Amazônia ela é ainda mais lenta e inoperante que na cidade.

7) Entre os programas que você apresenta, o “Viva Maria” é voltado para as mulheres. Conta como ele é produzido e como surgiu?

“Viva Maria” é uma revista radiofônica semanal e onde são debatidos assuntos como a legislação que defende a mulher, meio ambiente, saúde e é pautado pelo movimento de mulheres. A jornalista e escritora Sônia Hirsch também participa do programa pra fazer as Marias “meditarem na cozinha” e sobre a qualidade do pão nosso de todo dia. O programa surgiu como te disse antes, através de minhas inquietações sobre a cidadania feminina no Brasil e também pela oportunidade de ocupar um espaço na rádio AM de Brasília .


8) Você é radialista, jornalista e feminista. Sabemos que em nosso meio, infelizmente, o machismo ainda faz parte das redações, do ambiente de trabalho e há muita discriminação em relação às mulheres. Com toda sua experiência, você ainda encontra preconceito por parte dos homens?

Sempre! Há violência de todas as formas: na jornada que nos é imposta, na imagem que a mídia constrói da mulher,na ditadura da beleza,na pouca representatividade das mulheres no poder , nos cargos de chefia etc. Infelizmente, nossa cidadania ainda é pautada por leis que são feitas pelos homens . Isto é muito louco! Temos muito que lutar, como por exemplo, pela implementação da lei Maria da Penha, acusada de ser inconstitucional. Lembrar que ela é uma grande conquista para todas as mulheres no combate a violência. Precisamos lutar também pela ampliação de nossos direitos. Destaque para os direitos das trabalhadoras domésticas, que até hoje não tem Fundo de Garantia, remuneração de horas extras, etc.

9) E como fazer para combater este machismo?

Criar agências de noticias que tragam informações sobre os direitos da mulher, assim como é a ANDI, que cuida dos direitos de crianças e adolescentes, além de investir na capacitação, conscientização dos/as professores/as sobre a política de gênero e colocar em prática os parâmentros curriculares. Sem falar do monitoramento da mídia que, diariamente, veicula mensagens extremamente preconceituosas.


10) Você percebe alguma diferença entre o feminismo lá dos anos 70 para o dos anos 2000?

Sim , a vida não tem replay. O momento histórico que vivemos no Brasil e no mundo é outro. As mulheres continuam em movimento, mas tem nas mãos outras ferramentas para fazer valer seus direitos na lei e na vida!


segunda-feira, 3 de maio de 2010

O amor é livre




[Marian Pessah é fotógrafa e escritora feminista lésbica super ativa e
integrante do coletivo Mulheres Rebeldes. Ela concedeu a entrevista
abaixo à Leonor Silvestri, onde fala da questão do amor livre.]

Sua oficina sobre Amor Livre, no Encontro de mulheres
lesbianas e bissexuais, que se realizou este ano [2008] em Rosário
[Argentina] foi a mais concorrida…

Marian < Sim, foi muito louco. Sabia que iam ir muitas, mas não esperava tanto. A primeira vez que fizemos isto foi no Encuentro Lésbico Feminista de América latina y el Caribe no México com Ochy Curiel, e foi uma das mais disputadas, ou seja, não me surpreendeu tanto, de 400 mulheres mais de 100 vieram, e fisicamente não houvera mais lugar…

O que pensa que estão buscando as garotas?

Marian < O comum denominador das que assistiram não buscou um lugar rupturista senão veio em buscas de uma maneira de manejar os cornos. “Lhe conto ou não lhe conto se gosto desta mina ou gosto da outra?” Não vão ao ponto da questão, de porque têm que se fechar as relações. Existe uma fita que te diz “assim tem que pensar” e o repete. Também vieram muitas muito perdidas que nunca haviam escutado falar de nada disto. Há muitas que não são conscientes de que reprimem seus desejos, nem sequer pensam em seu desejo e não vão ao ponto da questão: porque tem que fechar. Por exemplo, uma garota em uma oficina me contou: “Se eu estou com alguém e outra me excita, deixo esta relação e começo uma nova”, unindo sempre sexo com namoro.

Existe o mito de que as mulheres são mais conservadoras…

Marian < Eu acredito no sexo sem amor, porque ai também está o mito de que nós não nos excitamos: nós queremos foder e somos sexuais, queremos sexo selvagem. Sempre que há mutuo acordo e cuidado, está tudo bem. Se eu quero que me chicoteiem e outra quer chicotear-me – porque não? -, tudo o que seja mutuamente consensual, tudo o que seja prazer consensual faz parte disto. Contudo, a oficina foi muito boa, visibilizou, denunciou e serviu para começar a falar deste tema e ademais foi a única que questionou a monogamia. Estas oficinas que eu armo são egoístas, as faço para poder entender mais. O sistema não vai se meter no meu corpo. Se algum dia estiver só com uma mulher, será uma escolha, a questão é escolher.

Como se diz: amor livre, casamento aberto ou relações abertas?

Marian < Eu digo amor livre, é um termo que vem da anarquia, e por isso é político, ou relações abertas, que tampouco significa um namoro, namoro é dois, é fechado. Relações que são muitas e vão e vem, é disto que falo. Para mim, amor livre e relações abertas são sinônimos. Meu trabalho enfoca-se em feministas lésbicas, nesse marco teórico. Cito o trabalho começado por Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, Alexandra Kollontai ou Emma Goldman, Pizano também. Sou anarquista, quero falar deste lugar politicamente, não só da cama.

Porque pensa que a gente necessita de relações abertas?

Marian < Eu começaria pelo contrário: porque a gente necessita fechá-las, quando é uma imposição da sociedade que diz que há de fechá-las, e reproduzir modelos. Se fecha o amor porque a sociedade necessita organizar-nos, o mesmo que necessita a polícia e os militares. Quando falamos disto surge: “até onde vamos chegar?”. E eu mudo a ênfase e digo: “Até onde iremos chegar? Que será bom que possamos descobrir desde o amor e desde a liberdade.

O pratica?

Marian < Eu tenho uma relação aberta. Faz 4 anos que estamos juntas e 3 que vivemos juntas, mas desde um ano e meio atrás eu tenho viajado muito. Clarisse disse que nos agüentamos porque eu viajo, uma piada. Com Clari tenho uma relação profunda, mas em outras relações odeio hierarquizar, dizer que ela é minha relação principal, mas esta relação é mais forte e isso se dá “naturalmente”. É complicado o tema de nomear, mas se não damos nome, não existe. Tampouco sei se vamos estar toda a vida juntas. Como começou? Marian < Quando me separei, depois de uma relação de 6 anos super hermética, conheci a Clarisse e começamos a ficar juntas; até estar com ela nunca imaginei que eu fosse isto que sou hoje. Não sei como passou, mas começamos a conversar sobre fidelidade; a medida que nosso afeto crescia, eu lhe falei que não sabia como era ser fiel ou infiel e que não queria voltar àquele tipo de relação de antes porque muitas vezes reprimia o que sentia e desejava. Desde de que estou com Clari eu nunca estive com tantas mulheres e nunca amei a alguém tanto como amo ela, porque com ela descobri a liberdade. Eu gosto de mulheres, porque tenho que deixar de gostar? Há uma que amo profundamente, mas não é a única que gosto. Eu ponho palavra ao desejos, não tenho só desejo por essa única mulher, a qual deveria jurar amor eterno, temos uma relação conversada. Clarisse me disse “se um dia nos separamos você segue vivendo aqui, juntas”, nosso amor vai mais além do sexual, que de todas forma existe, que nos une.

Conhece outras mulheres que trabalham este tema?

Marian < Somos poucas as que vêm trabalhando isto, há algumas que o trabalham mais teoricamente, mas nunca na prática. Eu queria um grupo de estudo, além de oficinas de vivência. Eu não quero dar aulas. É mais: uma vez quisemos abrir um albergue transitório de lesbianas, porque não há, mas com um preço econômico, que não se lucre. Os espaços onde relacionar-se com uma sexualidade mais livre como fazem os homens (motéis, sex shops, saunas) se podem propor, mas sem ânimos de ganhar dinheiro. Porque é tão difícil viver uma relação aberta? Marian < É um tema que custa muitíssimo porque trata de se meter com o cimento, com a base, de ir ao fundo e não fica nada em pé: toca a família, a religião, seu pai e sua mãe, a economia e todo que te ensinaram. Vamos para além de uma relação convencional e nos unimos a destruição da família e buscamos armar núcleos afetivos, não famílias alternativas como se diz agora, que continuam com o peso tão forte do patriarcado e da igreja. Eu quero destruir, começar pela raiz. Teríamos que voltar a inventar novas formas de relacionar-se, porque até o meio arquitetônico predispõe e arma; se vivêssemos de outra maneira, em contato com a natureza, onde eu pudesse ter meu próprio espaço em comunidade, talvez se resolveria.

Como é o dia a dia em uma relação aberta?

Marian < Com Clari temos alguns acordos que são importantes e que não são imóveis. Por exemplo, quando juntas no mesmo espaço não flertamos. E na cidade, Porto Alegre, onde vivemos, não buscamos outras pessoas. Cada relação tem seus próprios acordos, estes são nossos acordos, cada uma terá os seus. Os ciúmes desconstroem no espaço, o ciúme é o medo de perder. Eu gosto de outra pessoa, mas te sigo querendo, e não quero escolher. Eu a ajudei a traduzir e-mails para uma mulher espanhola com a qual ela esteve. E isso nos une mais.

Mas você sempre volta a Clarisse?

Marian < Eu estou com ela, não volto por que não me vou. Ainda que isto gere conflito porque gera hierarquias.

Sua postura gera algum conflito com as pessoas que te conhecem?

Marian < Estamos cheias de moral e misoginia, chegaram a me chamar de “puta arrebentada”; e muitas não me dizem, mais sei que pensam. Algumas vezes me fazem pergunta do tipo: “e se os braços de tua Clarisse abraçam a outra mulher?” E bom -eu digo- são seus braços, não os meus, e não me pertencem.

Tradução > Antonio Henrique

Revisão > Íris Nery

agência de notícias anarquistas-ana