domingo, 13 de fevereiro de 2011

Seminário de militantes do direito à comunicação no FSM propõe novo Fórum Mundial de Mídias Livres

Por iniciativa da Ritimo, uma organização francesa voltada para a comunicação, a serviço da solidariedade internacional e do desenvolvimento sustentável, da Ciranda Internacional de Comunicação Compartilhada e do Intervozes, organizações brasileiras, foi realizado um seminário reunindo mídias alternativas de vários países, durante este primeiro dia de atividades autogestionadas Fórum Social Mundial de Dacar.

Na busca da construção “de um mundo menos desigual, que dê a palavra aos
excluídos”, disse Myriam Merlant, da Ritimo, “estas organizações são essenciais para o contraponto com a grande mídia”. O objetivo do seminário, que constou de três momentos, foi a troca de experiências e a proposição de ações conjuntas, que levem à organização de um novo Fórum Mundial de Mídias Livres.

Um panorama das novas mídias nos continentes foi desenvolvido no primeiro
momento, reunindo experiências diversas realizadas na África, América Latina,
Ásia e Europa. Na França, onde há boas leis para a garantia da liberdade de
expressão, “a realidade mostra que a liberdade de imprensa já não é tão grande
assim, como diz David, do Repórter Cidadão. A classificação desse quesito,
medido anualmente naquele país europeu, mostra uma queda do 31º lugar para o 44º, segundo o jornalista. “Metade dos franceses dizem hoje que as coisas não acontecem como a mídia diz, 66% acham que a grande imprensa está sob domínio dos políticos, e principalmente as classes populares acreditam cada vez menos na grande mídia”.

A concentração dos meios também é algo que vem acontecendo na França nos últimos anos, inclusive com novos decretos de Sarkozy, um dos quais determina a nomeação da direção da televisão pública pelo governo. “Nos últimos trinta anos, os pequenos veículos de mídia deixaram de existir”, conta David, e a informação vem se concentrando nos grandes meios, cujos donos são, por exemplo, dois grandes industriais que fabricam armas e aviões; outro investidor da mídia é um negociante de mineração na África. “Estamos cada vez mais dependentes dos grandes meios, mas este não é o único problema”, continua o repórter cidadão.
“Antes, os movimentos sociais gostavam quando a mídia aparecia, hoje os
movimentos querem a mídia longe, e as pessoas perguntam porque as coberturas são todas iguais”.

Sabemos bem como é essa história no Brasil, e as semelhanças não param por aí. “Tenta-se produzir informação da forma mais barata possível, não há mais
reportagem; os jornalistas tem o mesmo perfil social, a maioria vem das classes
altas, estudam nas mesmas escolas”. Além disso, segundo David, há o “mito do
indivíduo”, onde se valoriza as personalidades por isso e aquilo. “O indivíduo
constrói a sociedade, não é a sociedade que constrói o indivíduo, para a mídia;
privilegia-se os eventos e não o contexto histórico e difunde-se um pensamento
utilitarista. O leitor é consumidor, não cidadão”.

America Latina, África, tudo igual
Na América Latina o modelo de comunicação é o das mídias privadas americanas, não o das mídias públicas da Europa, falou Sally, da ALAI (Agencia Latinoamericana de Información). “As mídias comunitárias procuram preencher o espaço da mídia pública, mas são ainda marginais e pequenas, são principalmente rádios”. Neste lado sul do planeta, “falamos mais do direito à comunicação do que à informação”, nestes últimos quinze anos, quando fortalece-se um movimento de luta por esse direito essencial. Grandes empresas, mais que os governos, concentram a comunicação e o debate aumentou com os novos governos mais à esquerda. Sally citou os exemplos da Argentina e da Venezuela, onde grandes mobilizações influíram nesta pauta, e onde o tema vem alcançando os movimentos sociais, que percebem a necessidade de criar suas próprias mídias.

Como participante da comissão de comunicação do FSM, a coordenadora da Ciranda, Rita Freire, salientou a importância de que o Fórum Social Mundial seja portador da mensagem pela democracia nos meios de comunicação. Apresentando os contrastes existentes no Brasil, Rita destacou a criminalização da pobreza e a mercantilização feita pela mídia, distorcendo a realidade, a imagem da mulher, escondendo a maioria afrodescendente, agredindo os direitos da infância. “No Brasil, iniciou-se um movimento para que essa situação seja modificada, que nasceu dos ativistas da comunicação, dos meios alternativos, dos jornalistas ligados aos movimentos sociais, e se transformou num chamamento para que a sociedade brasileira compreenda que essa estrutura de comunicação não é natural, não é democrática e precisa ser modificada”.

Essa movimentação conseguiu que o governo brasileiro convocasse uma conferência nacional de comunicação, e isso aconteceu no último FSM, em Belém, como lembra Rita. “Essa conferência mostrou o quanto estamos cercados e controlados pelos grandes meios no Brasil, que passaram um ano fazendo esforços para que o encontro não acontecesse”. A jornalista lembrou ainda que no último período houve o fechamento de 3 mil rádios comunitárias no Brasil e que os grandes meios atuam para criminalizar as mídias populares, pois existe hoje concretamente um processo de articulação das pequenas mídias, que são agentes de defesa de novas políticas de comunicação em nosso país”.

Informação alternativa no continente africano
Para Alymana Bathily, da Amarc – Sénégal, “hoje, o cenário midiático na África tem pluralismo de informação; mas isso vem da metade dos anos 90, e foi
conseguido graças a luta dos movimentos sociais e por conta das revoluções,
algumas violentas, como a do Mali, ou a conquista do fim do apartheid na África do Sul. Vimos nascer mídias plurais, temos mídias estatais, que antes eram as únicas, nada privado havia. Aqui no Senegal temos quinze jornais diários; em 1995 haviam dez rádios comunitárias em toda a Africa Ocidental, hoje temos 200”. As televisões privadas desenvolvem-se em toda a África, só no Senegal existem meia dúzia de canais, o que Alymana considera muito para um país pequeno (12 milhões de habitantes). Há muita diversidade, segundo o ativista, há jornais pró governo, contra, de opinião, religiosos, etc.

Outra novidade, segundo ele, é a internet, embora tenha pouca penetração na
África subsariana (5 ou 6% da população), em comparação com a África do norte. “A internet desenvolve-se lentamente, mas é bem utilizada pelas rádios
comunitárias (62% acesso) e pelos movimentos sociais. Outra coisa é o celular,
metade da população africana tem acesso, e isso fez diferença enorme, mesmo que não possam ser usados de modo muito criativo. Até pouco tempo era difícil
jornalistas saírem e passarem informação para a redação”. Exemplo disso foram as ultimas eleições, quando os jornalistas puderam cobrir em todos os locais e isso permitiu que a oposição ganhasse. Por outro lado, existe um arsenal de leis sobre difamação e calúnia contra os chefes de estado, o que faz com que os jornalistas pratiquem autocensura; também a formação de jornalistas é outro problema, assim como a falta de equipamentos, principalmente para as rádios comunitárias.

Mohammed Legtas, atua no E-Joussour, do Marrocos, projeto feito pelos movimentos sociais para coordenar ações no norte da África e no Oriente Médio. Nessa região, "o ambiente é hostil aos direitos das mulheres, à liberdade de expressão, as mídias convencionais são totalmente controladas pelo Estado,
jornalistas são mandados para a prisão freqüentemente”. O desenvolvimento da mídia alternativa, com a internet, gerou novos militantes, que aprenderam a
desenvolver novas plataformas, e filmaram, por exemplo, os soldados recebendo
dinheiro da corrupção. Mohammed lembra que nos recentes acontecimentos na Tunísia o celular teve papel primordial, embora o 3G tenha chegado há apenas
oito meses por lá. Promover o rádio e a televisão via web é muito importante
devido ao analfabetismo.

O E-Joussour não é apenas um site de informação. “Somos muitos ativos na
dinamização dos movimentos sociais, trabalhamos muito com tradução, para
permitir que o conhecimento chegue para a população árabe e também no uso do vídeo, inclusive com celular. Usamos o software livre, o mais fácil possível, e
ensinamos a editar e publicar”. Foi assim que se publicou muito do que ocorreu na Tunisia e Egito. Video-maker no Egito, Mahmoud El-adawy, nos disse que o
caminho foi mostrado pelos tunisianos. “Durante muito tempo não imaginamos que uma revolução podia acontecer no Egito, militávamos a partir do Facebook, trocando informações a que tínhamos acesso, e isso é até meio irônico, mas
descobrimos que isso permitia realizar o sonho de ação juntos”.

Maris de la Cruz, do Network for Transformative Social Protection, das
Filipinas, diz que sua rede trabalha pela dignidade e vida das pessoas, mas
perceberam a importância de lutar pela comunicação. O trabalho começou em 2009 juntando vários movimentos, envolvendo a Tailândia, Tunísia e Vietnã, além das Filipinas. A idéia é conseguir “garantia dos direitos e fortalecer os movimentos sociais, e ajudando os pobres a conquistarem força coletiva, econômica e política, a partir de benefícios concretos, e transformá-los em atores do movimento social”.

Para ela, o processo de informação tem sido fundamental para a luta por qualquer outro direito. A constituição de 1987 garante o direito das pessoas à informação e declara que é necessário haver transparência completa do Estado, mas até agora o congresso não regulamentou essa legislação. Desde 2000 a sociedade civil luta por isso, “lutam para construir mídia alternativa, mas a influencia das empresas privadas ao governo constitui barreira muito forte, a grande mídia só difunde informações que sejam uteis para eles”.

Assembléia de convergência e novo Fórum de Mídia Livre
Tanta convergência de situações em relação à grande mídia foi mostrando a
importância de incrementarmos nossas redes mundiais e a urgência da realização de um novo Forum Mundial de Mídia Livre, com propostas para que seja realizado antes do próximo FSM. Mario Lubetkin, do IPS-Terra Via, de Roma, defendeu que seja realizado no Rio + 20, a realizar-se no próximo ano no Brasil, aproveitando a presença de pessoas do mundo todo.

A proposta também foi defendida por Renato Rovai, da Revista Fórum, do Brasil. Ele acredita que já devíamos ter realizado esse encontro de midialivristas, para que nos sentíssemos mais empoderados. "Precisamos de muitos veículos, inclusive com divergências entre eles, para termos uma visão da diversidade. É fundamental que disputemos a informação, mas não construamos nossos veículos nas mesmas bases da mídia comercial, nossos meios não são verticais, não são comerciais, não utilizam a informação como mercadoria".

O debate veio a propósito de uma colocação de Fazila Farouk, da agência Sacsis, da África do Sul, que defendeu nosso trabalho em conjunto com as mídias já
existentes, pois não podemos competir com elas, e "gastamos muito tempo falando uns com os outros". Participaram das mesas ainda Michel Lambert, do
Alternatives, no Canadá, as francesas Agnès Rousseaux, do Basta, e Anne Laurence Mazenq, da RadioForum, e Bia Barbosa, do Intervozes, Brasil.

Para o encaminhamento da proposta de novo Fórum mundial de mídia alternativa, Bia propôs a elaboração de um documento conjunto a ser levado na assembléia de convergência dos comunicadores a ser realizada no dia 10, neste FSM. "É preciso envolver o FSM com a luta da comunicação", disse ela, apoiada por vários dos participantes. O documento conjunto está sendo construído, para que se faça um proposição internacional da realização do novo Fórum Mundial de Mídia Livre, provavelmente no ano que vem.

Fonte: Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada (por Terezinha
Vicente)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Falsa

# "São só barganhas..." Eis o motivo de ter entregue a cabeça do colega, de bandeja. Entre uma desfaçatez e outra, sorri docemente. Como foi frustrado o meu desejo de trabalhar com teatro, interpreto o tempo inteiro na minha vida.

Qualquer situação de impasse exige um sorriso que liquida toda dúvida. Mas minha maior maestria foi ter adotado a distração como tática. As inúmeras lições de comodismo e mau caratismo que absorvi trabalhando compuseram meu perfil profissional, só que a cara de lesada era um trunfo individual.

Há consonâncias entre o ideal e o real, mas não para uma pessoa que entregou-se às crenças comuns, materiais e de estatus. Faço apologias ao bitolamento sim! Creio que estar presa, numa gaiola linda, espaçosa, com grades finíssimas folheadas a ouro, é o máximo que qualquer ser vivo consegue, não?

Ninguém se presta atualmente, gratuitamente, à bondade. Não fujo a essa regra ultrapassada e me mostro típico protótipo da humanidade. Conheço milhares de pessoas, chamo todo mundo de amigo (incluindo os inimigos). Mastigo, com os parentes mais velhos, esse bolo solado e sem açúcar que é a falsidade.

O jeito, para mim, foi continuar sendo isso: uma farsa. Podia ser melhor, eu sei. "Devia ser o que todos são, medíocres... seria prudente", refleti assim já, um dia. Por piedade de quem me vê com uma das minhas dezenas de máscaras. Rio muito ao tirá-las, por dentro de mim, rio demais!

Em todo caso prefiro a ilusão real ao sonho inalcançável. Cubro tudo com minha existência irreal, com meus 300 fakes para as milhares de redes sociais... fazendo crer, em minha atuação eterna, que sou uma sendo outra pessoa.

#valdívia costa

O Oriente Médio e Seus Ditadores



Estevam Dedalus*

Andava meio preguiçoso e desinteressado com a matemática, até encontrar números politicamente interessantes: Muamar Kadafi governa a Líbia desde 1969. O Aiatolá Khamenei é o líder supremo iraniano há 21 anos. O falecido, Zayed bin Sultan Al Nahayan, presidiu os Emirados Árabes Unidos por mais de 30 anos. Após sua morte, em 2004, o cargo vitalício passou às mãos do seu filho. Sadam Hussein esteve à frente do Iraque de 1979 a 2003. Provavelmente não fosse a intervenção armada ianque ainda estaria por lá. Já o atual presidente do Egito, Hosni Mubarak, se arrasta há mais 29anos no poder – desde o assassinato de Anwar Al Sadat pelo grupo terrorista Jihad Islâmica Egípcia.


Mubarak é um desses homens empedernidos. Ao longo do tempo sufocou seus opositores diretos através da violência e corrupção de instituições democráticas, impondo barreiras legais ao multipartidarismo e a alternância de governo. Atualmente crises socioeconômicas balançaram o país; o elevado índice de desemprego aliado à inflação estimulou o maior descontentamento da população. Milhares e milhares de pessoas, insatisfeitas com o regime político e às más condições de vida, enfrentam corajosamente nas ruas toda a brutalidade das forças de repressão governamental. Até o dia 10 de fevereiro registraram-se ao menos 151 mortes e milhares de feridos nos confrontos; especula-se que o número de vítimas seja bem maior. Entre elas, feridos com armas de fogo, bombas, gás tóxico, coquetéis molotov, facas, pedaços de pau e pedra, torturados.


As consequências desses protestos podem ser sentidas em várias partes do mundo. Além do já esperado aumento no preço do barril de petróleo, o evento criou uma nova onda de instabilidade numa área marcada por tensões e acendeu a expectativa de que países vizinhos também sejam contagiados por sublevações, alterando a geopolítica da região. Podemos, então, conjecturar que a ideia de efeito dominó ganha força, na medida em que muitos desses países guardam, entre si, semelhanças sociopolíticas importantes. Especialistas relacionam os atuais levantes egípcios à influência dos protestos que ocorreram anteriormente na Tunísia, que ficaram conhecidos como a Revolução de Jasmim.



Como observador distante, fico aqui em casa imaginando o que deve se passar, nesse momento, pela cabeça de “sujeitinhos” como Murabak e Kadafi: será que eles sentem medo? Quem nos garantirá que à noite, entregues à própria consciência, não reconheçam o desastre de seus governos?


Há mais de 40 anos Kadafi é o chefe de Estado da Líbia. Nasceu numa família de beduínos e durante parte da infância flanou como nômade pelas areias do deserto do Saara. Sunita, foi educado sob rígidos preceitos muçulmanos e desenvolveu, logo cedo, grande aversão aos ocidentais – em grande parte, resultado da dominação estrangeira imposta ao seu país. Aos 10 anos de idade foi estudar no colégio da cidade de Sidra; seus pais o achavam um menino muito inteligente e por isso decidiram apostar nos seus estudos. Durante a adolescência acabou influenciado pelos discursos nacionalistas de Gamal Nasser, presidente do Egito e líder do movimento dos Oficiais Livres, responsável pelo golpe de Estado contra o rei Faruk, discursos estes que ele costumava ouvir no rádio. Com apenas 17 anos fundou um grupo secreto revolucionário, de inspiração islâmica e socialista, do qual as células posteriormente se expandiriam para o exército líbio. Estudou história, ciência política e direito na Universidade da Líbia; entrou para o exército e pôs em prática audacioso plano de tomada do poder. Muitos oficiais e soldados aderiram ao movimento; alguns membros da organização ocupavam posições bastante influentes na estrutura das forças armadas. Kadafi tinha acesso a informações governamentais secretas e valiosas. O golpe de Estado aconteceu no dia 01 de setembro de 1969, durante as férias do rei Idris na Turquia. Engenhosamente fez com que pelotões do exército tomassem de assalto o palácio real, ao mesmo tempo em que outros grupos rendiam os quartéis generais. Em seguida, açambarcaria os meios de comunicação pelos quais anunciou ao país o fim do antigo regime.




Talvez os movimentos populares no Egito ultrapassem as fronteiras nacionais, escorram pela Líbia e deságuem em outros países árabes, reescrevendo assim a “hidrografia” política da região. Devemos, no entanto, ficar de olhos bem abertos ao perigo de regressão desse processo. Grupos islâmicos conservadores estão vivos na disputa pelo poder político, o que torna ainda mais dramático o desfecho dos acontecimentos. Infelizmente o que nos resta agora é aguardar os próximos capítulos dessa batalha e torcer por um bom desenlace. O escritor venezuelano Mariano Picón-Salas dizia que "a história é o incalculável impacto das circunstâncias sobre as utopias e os sonhos". Meu desejo é que esse impacto não passe de um carinhoso afago.

Meninos e meninas: qual o papel de cada um/a?

O que significa ser uma menina? E um menino? Há comportamentos inatos, capacidades ou interesses que vão além de ser um menino ou uma menina? Existem coisas que meninos ou meninas não podem ou não estão autorizados a fazer por causa de seu sexo? Ambos têm as mesmas oportunidades na vida?

Meninas são… Menino são… é o tema do Dia Internacional da Criança no Rádio e na TV, que será celebrado este ano no dia 6 de março. A ideia do Unicef, promotor do evento há mais de 15 anos, é contar com a participação dos meios de comunicação. Neste dia, o Unicef sugere que a mídia em geral abra sua programação para dar vez e voz as crianças e, neste ano, para debater a questão do gênero.

O Dia Internacional da Criança no Rádio e na TV foi criado para dar mais visibilidade aos direitos de meninas e meninos. Com o passar dos anos, tornou-se também um dia para celebrar os mais jovens na mídia.

O direito à participação e à liberdade de expressão é essencial para o desenvolvimento dos adolescentes. Ao dar voz aos mais jovens, as emissoras têm a oportunidade de fortalecer meninas e meninos em seus conhecimentos sobre os meios de comunicação. Isso mostra a outros adolescentes que eles também podem se expressar. E mostra ao mundo o que os mais jovens pensam sobre sua vida e suas comunidades.

Para mais informações
http://www.unicef.org/videoaudio/video_55906.html
Karen Cirillo
kcirillo@unicef.org

http://www.revistapontocom.org.br/ponto-central/meninos-e-meninas-qual-o-papel-de-cada-um

Lei Maria da Penha precisa ser apoiada e não desfigurada

Ana Claudia Jaquetto Pereira, consultora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria-CFEMEA, fala um pouco sobre a Lei Maria da Penha, que tem por objetivo proteger a mulher vítima de agressão e violência.

Ela nos conta que a Lei Maria da Penha tem o apoio de ampla maioria da população brasileira. Contudo, ainda precisa ter seus instrumentos priorizados pelas autoridades públicas. Para que a Lei funcione bem é necessário que o orçamento, da União, dos Estados e dos Municípios, contemple recursos para políticas públicas relacionadas à proteção das mulheres, formação dos agentes públicos, inclusive do Judiciário, construção de casas-abrigo, de creches, para políticas de geração de emprego e renda, para apoio à organização autônoma das mulheres etc. Para que os poderes Executivo e Legislativo priorizem no orçamento as políticas públicas voltadas as mulheres é importante que movimento sociais se organizem para pressionar.

No Legislativo, ela nos informa, há uma série de propostas de mudança da Lei, mas elas não melhoram em nada o que já está estabelecido, há algumas que podem prejudicar a lei. Por isso sugere que as alterações que sejam propostas à Lei sejam debatidas amplamente com os movimentos feministas e todas as pessoas que atuam na proteção das mulheres.

Assista ao video em: http://vimeo.com:80/19211233


Saiba mais em feminismo.org.br

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Estamira e a loucura. Ou o que é a loucura?


por Tomazio Aguirre - retirado do site Overmundo

Vou tentar responder rapidamente a uma pergunta que poucas pessoas que ainda gostam de compreender as coisas têm se feito, já que as ciências aplicadas, como psiquiatria, psicologia e antropologia, têm se restringido a retóricas em torno dos temas que abordam, à medida que se concentram em pequenas disputas de poder institucionais e preciosismos pessoais. A pergunta é: O que é a loucura? E, mais particularmente, o que é a loucura no Brasil?


Vou tentar responder usando um documentário muitíssimo instrutivo, de Marcos Prado, chamado Estamira, sobre uma mulher louca (oficialmente esquizofrênica) moradora de um lixão no Rio de Janeiro.

Para começar, esqueçam o lugar-comum: a crença mundialmente difundida de que a loucura é uma doença do cérebro, de nome esquizofrenia, e a crença de que quem dela entenderia seriam os psiquiatras ou profissionais da “saúde mental”. Alguns poucos, raríssimos profissionais, sim, ainda se esforçam para não serem apenas cegos num tiroteio, mas a maioria deles não entende nada sobre loucura. São apenas práticos, prescritores de remédios ou de terapias vazias, mas sem compreender a essência daquilo com o que lidam. Também os antipsiquiatras, psicólogos e antropólogos têm se convertido apenas em ilusionistas, ideólogos, às vezes bem intencionados, que querem salvar o mundo, começando pelos loucos, mas pouco entendendo daquilo a que se referem. Apenas tentam arregimentar seguidores, e muitas vezes conseguem. O Brasil é um país de messiânicos.

Curiosamente, fui surpreendido pelo documentário Estamira, que é justamente interessante por não apresentar voz de narradores ou especialistas da psiquiatria, da saúde mental, da psicologia ou da antropologia brasileira abrindo a boca para explicar o que estava sendo mostrado. O documentário é apenas a voz de uma louca se auto-explicando, e explicando o mundo que a fez ser como é, e no qual ela vive do jeito que é possível: bruta, enraivecida, solitária, sofrida, que prefere viver no meio do lixo, cercada de outros restos humanos como ela, do que com sua família; vendo o mundo como um lugar de violência, conspirações, barbaridades, falsidades, genocídio, em que cada um tem que ser seu próprio herói, seu próprio deus, seu próprio mito e seu próprio guia, auto-construindo seu próprio sentido de vida; porque tudo o mais além do que a própria pessoa pode inventar para si mesma são mentiras que a levarão no máximo a uma vala comum de indigentes, de bandidos ou de loucos humanizados, medicados e intolerados.

Sei que após a década de 1960 loucura passou a ser sinônimo de "rebeldia", de "transgressão", de "desbunde", de "porralouquice", e muitos bem-nascidos passaram a ter um certo prazer em se auto-denominar ou se exibir como loucos, diferentes, extravagantes, viajandões, rebeldes, etc. Mas não é a este deleite burguês que me refiro como loucura.

Estou aqui falando da loucura trágica, da loucura catástrofe, da loucura fim-de-mundo, da loucura que leva um sujeito a se desesperar e a viver em um mundo delirante próprio, solitário, correndo pelas ruas e rejeitando a vida com os demais seres humanos, e sendo ao mesmo tempo rejeitado por todos, como seres indesejáveis e insuportáveis. Loucura esta que a Estamira do documentário expressa aos berros, sem ter sido silenciada por drogas, caridade, psicologias, polícia ou assassinato - que é o fim que tem levado a maioria dos milhões de loucos reais desse país. Mas curioso é que, por ser o Brasil um país que não se civilizou, Estamira conseguiu escapar a todas essas armadilhas modernas para os inadaptados, sobrevivendo sem ser silenciada e ainda indo parar em um filme. Trágica contradição deste país moribundo: apenas no caos a loucura tem voz própria. A Alemanha não deixou nem mesmo Nietzsche continuar berrando audivelmente depois de ter se tornado oficialmente doido. Mas aqui os loucos conseguem fugir ao controle dos "normais".

Essa loucura real, de loucos reais, subumanos, e não dos desejosos de serem artistas ou transgressores em suas "modinhas" intelectuais, é a solidão extrema e total a que o ser humano pode chegar; é quando tudo que existe aos olhos de todos os outros deixa de fazer sentido, só restando à pessoa reinventar solitariamente seu próprio mundo, sua própria crença, seus próprios fantasmas, seus próprios ídolos míticos, sua própria identidade, a par de todos, diferentemente de todos os outros em suas ilusões compartilhadas coletivamente.

A Estamira do filme foi uma mulher brasileira comum até o período da vida em que a sucessão de atos típicos do caos nacional a levaram a não mais conseguir acreditar e sentir o mundo como ela fazia até então, com valores morais cristãos, acreditando em um Deus bom, protetor e coerente, sendo boa mãe, cordial, limpa, educada, contida e auto-controlada. Mas quando a realidade do caos ao seu redor desnudou todas essas suas fantasias morais e ilusões de um mundo que não mais existia, ela tornou-se uma pessoa sem "mundo" no qual acreditar: perdeu seus valores e suas ilusões necessárias à vida compartilhada com outras pessoas, e não conseguiu ter novas ilusões (crenças, ou sentidos para a vida), no lugar das anteriores. Ao contrário, em seu mundo anterior à loucura, a brutalidade real da vida brasileira não podia existir, e quando esta brutalidade foi escancarada em sua vida, sucessivamente, com estupros, violências e caos sem coerência, ela tornou-se uma pessoa sem um mundo dotado de sentido. Ela tornou-se um vazio existencial completo, um ser amorfo, com restos de identidades fragmentadas, com resquícios de valores morais contra os quais agora passava a lutar, por sabê-los irreais, com restos de crenças em Deus e coisas do tipo das quais agora tinha apenas raiva - por ter se descoberto uma pessoa enganada quanto a si mesma e quanto ao mundo real, brutal, caótico, genocida, no qual o ser humano não tem valor algum, a não ser em jogos de palavras hipócritas, com falsos humanismos – ou seja, o típico mundo da pobreza urbana brasileira, cercado de violênicia e de intelectuais humanistas.

Assim amorfa, aos olhos dos outros ela tornou-se louca, alguém a quem não se dá crédito, a quem não se compreende, com quem não se consegue compartilhar opiniões e crenças. Se lhe dessem ouvido, e se compreendessem o que ela fala, somado ao que falam os milhões de loucos brasileiros que não têm voz (por isso são loucos aos olhos dos outros), e sobre os quais não se faz filmes, viria à tona a realidade de um país e de um mundo de que a maioria da população não quer saber - preferindo todos continuar vivendo em seus estragados castelos de areia. Viria à tona um país brutal, catastrófico, apocalíptico, um povo se auto-destruindo e ainda tendo que se acreditar alegre, carnavalesco e humanista-cristão. Quem quiser ver este país, no entanto, basta apenas parar de assistir a Matrix, de jogar vídeo-game, de fumar maconha, e assistir a Estamira; e, principalmente, basta abrir os olhos e a mente para o que está ao seu redor - se conseguir. O Brasil apocalíptico de Estamira está escancarado. Pena que os cristãos e humanistas brasileiros vão apenas achar o filme bonito, com boa fotografia, com uma personagem cativante e digna de ser celebrada como pobre e excluída, por quem se deveria lutar ardorosamente por "inclusão social" e dignidade. Mas isto é apenas parte da ilusão dos que querem coletivamente continuar sonhando com um país que não existe e nunca existirá.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Menina de 14 anos morre em Bangladesh ao receber 80 chibatadas

Uma adolescente de 14 anos morreu após ter recebido 80 chibatadas em Bangladesh, como punição por ter tido um relacionamento com um primo que era casado.

A sentença tinha sido decretada por um tribunal religioso na cidade em que a jovem vivia, Shariatpur, no sudoeste do país, a 56 quilômetros da capital, Daca.

Hena Begum foi acusada de ter mantido uma relação sexual com seu primo de 40 anos de idade, que era casado. Ele também foi condenado a receber cem chibatadas, mas conseguiu fugir.

A adolescente desmaiou enquanto recebia as chibatadas e chegou a ser levada para um hospital local, mas não resistiu aos ferimentos, morrendo seis dias após ter sido internada.

O caso teve grande repercussão no país e provocou protestos de moradores de Shariatpur. Há relatos na mídia de Bangladesh de que Hena, na verdade, foi raptada e estuprada pelo primo.

O imã (clérigo muçulmano) Mofiz Uddin, responsável pela fatwah (sentença) contra Hena, e outras três pessoas foram presas. O caso está sendo investigado.

'Atos imorais'
Atraídos por gritos de socorro de Hena, moradores locais chegaram a acudir a adolescente. Mofiz Uddine também se dirigiu ao local, juntamente com professores da madrassa (escola de ensinamentos islâmicos) da região.

Os jornais bengalis informaram que em vez de tomar uma ação contra o autor do suposto estupro, os religiosos trancaram a jovem dentro de um quarto. No dia seguinte, o mesmo imã e representantes do Comitê da Sharia, o código de leis muçulmanas, acusaram Hena de ter cometido atos de ''sexualidade imoral'' fora do casamento.

Os religiosos disseram à polícia que Hena teria sido pega em flagrante quando mantinha relações sexuais com um morador do vilarejo.

Pessoas da família do primo casado também teriam espancado a adolescente, um dia antes da fatwa ter sido decretada.

Autoridades do vilarejo também exigiram que o pai da jovem pagasse uma multa equivalente a R$ 419.

Na quarta-feira, um grupo de moradores de Shariatpur foi às ruas em protesto contra a fatwa e contra os autores da sentença.

''Que tipo de justiça é essa? Minha filha foi espancada em nome da justiça. Se tivesse sido em um tribunal de verdade, minha filha jamais teria morrido'', afirmou Dorbesh Khan, o pai da adolescente.

Punições realizadas em nome da sharia (legislação sagrada islâmica) e decretos religiosos foram proibidos em Bangladesh, país secular, mas de maioria muçulmana, desde o ano passado.

Comitês que obedecem princípios religiosos vêm se tornando influentes em diferentes países com população de maioria islâmica, mesmo sendo ilegais em muitos deses países.

A sentença contra Hena Begum foi a segunda morte provocada por uma sentença ligada à sharia desde que a prática foi proibida pela Corte Suprema de Bangladesh.

Cerca de 90% dos 160 milhões de habitantes de Bangladesh são muçulmanos, dos quais a maior parte segue uma versão moderada do Islã.

Do G1