domingo, 12 de abril de 2009

Porque a grande imprensa não noticia o que atinge a maioria da população?

Para Beatriz Barbosa, do Intervozes, a formação tecnicista dojornalista e a informação concebida como mercadoria são duas dasorigens da cobertura desqualificada da grande imprensa sobre políticaspúblicas.[Por Raquel Júnia]A mídia geralmente tem preferência por divulgar notícias dramáticas,números sensacionais e "furos jornalísticos". Os temas sociais sãorecorrentes, mas a abordagem não gira em torno de políticas públicas.É esse o diagnóstico feito pela jornalista Beatriz Barbosa em palestrasobre o desafio de aumentar a pauta de políticas públicas na grandeimprensa, no dia 5 de maio, na Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ).Ela ressaltou ainda que a política pública até pode ser uma pauta, masnão como um processo. Geralmente a cobertura é desqualificada de modoapenas a reafirmar políticas públicas ruins.Um desvio de verba de determinado programa social geralmente énotícia, mas não são notícias, por exemplo, as conferências nacionaisem diversas áreas como saúde e educação. Essas conferências, que sóna área de saúde já foram realizadas mais de uma dezena, seconfiguram, de acordo com Beatriz, como uma etapa da política públicadesconsiderada pelos grandes veículos de comunicação."A Conferência Nacional de Juventude recentemente reuniu dois miljovens em Brasília, e nem 1 linha foi escrita na grande imprensa sobreo assunto", exemplifica.A palestrante foi uma das convidadas da disciplina e curso de extensãode Jornalismo de Políticas Públicas Sociais, uma parceria entre oNúcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência(NETCCON), da Escola de Comunicação da UFRJ, e a Agência de Notíciasdos Direitos da Infância (ANDI).Beatriz Barbosa é jornalista e especialista em direitos humanos, alémde coordenadora do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social,um dos principais movimentos que lutam no Brasil pela democratizaçãoda comunicação.Origem elitista dos jornalistas é uma das raízes do problemaPara Beatriz, a pergunta "de onde vem o jornalista?" pode responderuma das origens da ausência de cobertura de políticas públicas nagrande mídia. Grande parte dos que ingressam nos cursos de jornalismosão filhos de classe média ou alta, assim, "as grandes mazelas sociaisnão fazem parte do cotidiano desses futuros jornalistas".Outra origem da questão destacada pela jornalista é a formação docomunicador: mais técnica do que humanista e com foco no mercado. Essaformação também não possui, de acordo com ela, uma oferta deconhecimentos mínimos sobre o tema políticas públicas.Em um segundo bloco de situações que podem causar essa ausência decobertura, estão as condições de trabalho dos jornalistas. SegundoBeatriz, com as redações bastante enxutas, condições precárias detrabalho, a informação transformada em lucro e a falta deindependência do jornalista na escolha da pauta, o resultado é umjornalismo que não aborda as questões que atingem a maioria dapopulação.Ainda uma terceira raiz do problema apontada por Beatriz é aconcentração dos meios de comunicação. A jornalista lembra que apenas9 famílias controlam 85% da informação no Brasil, apesar do artigo 220da nossa Constituição proibir o monopólio."Só falta fabricarem as pessoas que vão assistir aos programas!",brinca, sobre o fato de uma mesma empresa deter todo o processo deprodução e distribuição da informação.SoluçõesNas redações, uma formação continuada dos jornalistas, a investigaçãode dados e informações públicas, a cobertura do processo das políticaspúblicas, podem, de acordo com a palestrante, serem passos na soluçãodo problema. Além disso, a prática de ouvir os beneficiários dessaspolíticas e de estabelecer canais de comunicação entre a população e aimprensa, como ouvidorias e a própria figura do ombusdman, seriaminiciativas importantes.Na universidade, a criação de disciplinas obrigatórias específicassobre as políticas públicas e projetos de extensão, também atuariamnesse sentido.Essas iniciativas, para Beatriz, devem ser somadas a outras com focoespecífico na sociedade em geral, como a criação de disciplinas nasescolas sobre leitura crítica da mídia e a própria formação do cidadãosobre o papel da Estado e da Sociedade. Nesse sentido, o direito àcomunicação deve ser entendido como um direito tão importante quantoqualquer outro. "Mas enquanto não entendermos que a notícia deve ser deinteresse público e entendermos o ser humano como sujeito da história,não mudaremos esse diagnóstico", afirmou Beatriz Barbosa. A jornalista mencionou ainda que quando se trata de políticas públicas decomunicação, aí é que o tema não aparece de maneira nenhuma na grandeimprensa.

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