sexta-feira, 29 de julho de 2011

Enegrecendo a pauta da mídia paraibana



Por Mabel Dias

A feminista Sueli Carneiro, do grupo Geledés –Instituto da Mulher Negra, de São Paulo, afirma em um seus textos que o feminismo precisa enegrecer. Parafraseando esta ativista do movimento de mulheres negras do Brasil, digo que, além do feminismo, o jornalismo teria que também ser enegrecido.

Esta semana o movimento de mulheres negras celebrou o dia 25 de julho, estabelecido em 1992 durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latinas Americana e do Caribe, realizado na cidade de Santo Domingo, República Dominicana, como Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. A Bamidelê – Organização de Mulheres Negras na PB realizou debates com as fundadoras da organização, Solange Rocha e Efu Nyaki, e com Jurema Werneck, da Criola e da Articulação Nacional de Mulheres Negras, do Rio de Janeiro, além da exposição Visões Negras – simbologias, trajetórias e histórias que conta toda a caminhada da Bamidelê nestes 10 anos de existência.
Pois bem! Em nenhum veículo de comunicação foi falado sobre o dia 25 de julho e seu significado para as mulheres negras. Assisti a um dos jornais da TV local, afiliada a Rede Globo, e na escalada de noticias estava lá o dia do motorista – que também é comemorado nesta mesma data, entre outras informações diárias. Mas o Dia da Mulher Negra sequer foi mencionado.

Apenas um jornal impresso divulgou no domingo, véspera do dia 25, o release enviado pela assessoria de comunicação da Bamidelê, informando sobre as atividades que seriam realizadas durante esta semana que se finda.
Durante o debate do qual participaram Solange Rocha e Jurema Werneck, que falaram sobre a luta antiracista e antisexista na Paraíba e no Brasil, a professora de sociologia e integrante da Bamidelê, Vânia Fonseca, também trouxe esta reflexão: a falta de atenção da mídia paraibana sobre uma organização que tem 10 anos de existência e que vem promovendo ações significativas para promoção da identidade negra, combatendo o preconceito racial, bem como da ausência de atenção para o dia 25 de julho. Será que esta não é uma pauta importante? Será que este tema não rende um bom debate, um bom texto, uma boa noticia?

Sabemos bem que negros e negras na mídia paraibana, ao menos no vídeo, não existem. Nos bastidores, elas/eles estão lá, mas menos da metade se assume enquanto negra/o. Porque a pauta da mídia paraibana não está enegrecida? Porque negros/as são lembrados/as apenas quando se divulga um mapa da violência 2010, de maneira negativa? Para não ser injusta é importante lembrar que outro jornal impresso, aproveitando o recente censo divulgado pelo IBGE sobre a influência que a cor/raça desenvolve nas relações interpessoais, fez uma boa matéria enfocando este tema.

Não é apenas a ausência de atenção na mídia paraibana às ações positivas realizadas pelo movimento negro e de mulheres negras organizadas. O atual momento mostra, principalmente no rádio e na TV que é preciso, urgentemente, revermos o modo que está sendo utilizado pelas empresas de comunicação para noticiar um fato. A busca de audiência e do lucro tem promovido declarações e atitudes absurdas e inaceitáveis por parte de alguns locutores/apresentadores de programas policiais e políticos na Paraíba.

Uma importante iniciativa está sendo promovida pela Onu Mulheres e pela Federação Nacional de Jornalistas, que é um curso em gênero, raça e etnia voltada para a categoria. O curso será realizado em oito cidades brasileiras - Recife, Rio de Janeiro,Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Maceió, São Paulo e Belém. Através de ações como esta é possivel vislumbrarmos mudanças no exercicio da profissão de jornalistas na hora que forem cobrir atividades do movimento de mulheres e do movimento negro, e não reproduzam os estereótipos e preconceitos raciais, de gênero e sociais que permeiam esta sociedade.
Alguma coisa está fora de ordem e não pode ser tida como natural.

domingo, 24 de julho de 2011

Mulheres em luta pelo direito à comunicação

Carta aberta por um novo marco regulatório para as comunicações no Brasil

As organizações do movimento feminista há tempos discutem a necessidade de mudanças no sistema midiático em nosso país de forma a garantir a liberdade de expressão e o direito à comunicação de todos e todas, e não apenas daqueles que detêm o poder político ou econômico e a propriedade dos meios de comunicação em massa.




Historicamente, combatemos a mercantilização de nossos corpos e a invisibilidade seletiva de nossa diversidade e pluralidade e também de nossas lutas. Denunciamos a explícita coisificação da mulher na publicidade e seu impacto sobre as novas gerações, alertando para o poder que esse tipo de propaganda estereotipada e discriminatória exerce sobre a construção do imaginário de garotas e garotos. Defendemos uma imagem da mulher na mídia que, em vez de reproduzir e legitimar estereótipos e de exaltar os valores da sociedade de consumo, combata o preconceito e as desigualdades de gênero e raça tão presentes na sociedade.




No momento em que o governo federal, o Parlamento e a sociedade brasileira discutem a elaboração de um novo marco regulatório para as comunicações em nosso país, nós, mulheres, trazemos a público nossas reivindicações, somando nossos esforços ao de todos os movimentos que acreditam na urgência de uma mídia efetivamente plural e democrática para a consolidação da democracia brasileira.




Afirmamos a importância da adoção de medidas de regulação democrática pelo Estado sobre a estrutura do sistema de comunicações, a propriedade dos meios e os conteúdos veiculados, de forma que estes observem estritamente os princípios constitucionais do respeito aos direitos humanos e à diversidade de gênero, étnico-racial e de orientação sexual. Já passou da hora de o Brasil respeitar os acordos e tratados internacionais que ratificou sobre este tema e de colocar em pleno vigor sua própria Constituição Federal, cujo capítulo da Comunicação Social é, até hoje, vergonhosamente, o menos regulamentado.




Neste sentido, reivindicamos a criação do Conselho Nacional de Comunicação, uma das resoluções centrais da I Conferência de Comunicação, até hoje não tirada do papel. Defendemos ainda a instituição de mecanismos de controle de propriedade, com o estabelecimento de limites à propriedade cruzada dos meios; o fortalecimento do sistema público e das mídias comunitárias; transparência e procedimentos democráticos no processo de concessão das outorgas de rádio e televisão, com o fim das concessões para políticos; o estímulo à produção regional e independente, garantindo espaço para a expressão da diversidade de gênero, étnico-racial e de orientação sexual; mecanismos de proteção à infância e adolescência, como o fim da publicidade dirigida à criança; e procedimentos de responsabilização das concessionárias de radiodifusão pela violação de direitos humanos na mídia, entre outros.




Num cenário de digitalização e convergência tecnológica, entendemos que o marco regulatório deve responder às demandas colocadas em pauta e promover uma reorganização do conjunto dos serviços de comunicações. Trata-se de um processo que não pode ser conduzido de forma apartada das diversas definições que já vem sendo tomadas pelo governo federal neste campo, como os recentes acordos anunciados com as empresas de telefonia em torno do Plano Nacional de Banda Larga.




As organizações do movimento feminista se somam à Campanha Banda Larga é um Direito Seu! e repudiam não apenas o recuo do governo em fortalecer a Telebrás e dar à empresa pública o papel de gestora do PNBL como a total entrega ao mercado da tarefa de ofertar à população aquilo que deveria ser tratado como um direito: o acesso a uma internet de qualidade, para todos e todas. Para as mulheres, a banda larga é uma ferramenta essencial de inclusão social, acesso à saúde e educação, geração de emprego e renda, acesso à informação e exercício da liberdade de expressão. Um serviço que deveria, portanto, ser prestado sob regime público.




Por isso, e porque queremos um novo marco regulatório para as comunicações, nós iremos às ruas. Trabalharemos em 2011 para sensibilizar, formar e mobilizar mulheres em todo o país. Defenderemos esta pauta na III Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres; no processo da Reforma Política; nas marchas que faremos a Brasília; junto à Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular; em nosso diálogo com o governo federal e com a Presidenta Dilma.




Esta é uma luta estratégica para as mulheres e fundamental para a democracia brasileira. Dela não ficaremos fora.




Brasil, julho de 2011.





Instituto Patrícia Galvão – Mídia e Direitos

Geledés – Instituto da Mulher Negra
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social

Escola de Comunicação da UFRJ

CFP - Conselho Federal de Psicologia

FNDC - Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação

Rede de Mulheres da AMARC-BRASIL

Associação Cultural Ilê Mulher - Porto Alegre/RS

Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos

SOS CORPO - Instituto Feminista para a Democracia

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul

Idec - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

Instituto Flores de Dan

Articulação Mulher & Mídia Bahia

Liga Brasileira de Lésbicas de São Paulo

Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras

Coletivo Soylocoporti

Conajira - Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial


Laboratório de Políticas de Comunicação (LaPCom) da Universidade de Brasília (UnB)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

União homoafetiva: Juíza oficializa relação com sua companheira



Por Mabel Dias, com dados do Correio do Brasil

A juíza Sônia Maria Mazzetto Moroso, da 1º Vara Criminal de Itajaí (SC) oficializou nesta sexta-feira (22), sua união com a servidora pública, Lilian Regina Terres. Em maio, as duas já haviam celebrado a união em uma cerimônia da Umbanda.

Esta é a primeira união civil homoafetiva registrada em Santa Catarina , após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A primeira aconteceu em Goiânia (GO)no dia 9 de maio, entre Liorcino Mendes e Odílio Torres. Até agora, ninguém da magistratura brasileira tinha antes, assumido publicamente esse tipo de relacionamento.
"É a primeira, pelo menos no Estado de Santa Catarina, e eu sou a primeira juíza brasileira a assumir", comemorou Sônia.

O casamento entre Sônia Mazzetto e Lilian Terres foi realizado pelo juiz Roberto Ramos Alvim, da Vara de Familia da comarca no cartório Heusi.

Familiares e amigos delas acompanharam a cerimônia. Rafaello, filho da juíza Sônia, também estava presente e ansioso pela união. "O meu filho me chama de mãe e se dirige à Lilian como mamusca", conta Sônia.

Com o casamento, Lilian e Sônia decidiram acrescentar os sobrenomes uma da outra, ficando Sônia Maria Mazzetto Moroso Terres e Lilian Regina Terres Moroso.

Mulheres do Pstu divulgam carta de repúdio a quadro do Zorra Total

Abuso sexual não tem graça!

Talvez você não perceba. Talvez até ache graça. Mas a violência contra as mulheres está sendo incentivada dentro da sua casa, de forma nada sutil, no humorístico Zorra Total. No principal quadro do programa, chamado “Metrô Zorra Brasil”, todos os sábados à noite, duas amigas travam um diálogo dentro do vagão lotado. Na fórmula do roteiro, lá pelas tantas, em todos os episódios, um sujeito se aproxima, encosta e bolina a mulher de várias formas. No episódio do dia 9 de julho, o quadro mostrou a mulher sendo “tocada” em suas partes íntimas com a “batuta” de um maestro.

A mulher atacada, Janete (Thalita Carauta), cochicha com sua amiga Valéria (Rodrigo Sant’anna), que, ao invés de defendê-la, diz: “aproveita. Tu é muito ruim, babuína. Se joga”. A claque ri.

O ataque relatado pelo programa acontece todos os dias com milhares de mulheres no nosso país. Só nós mulheres podemos medir a humilhação pela qual passamos nos trens e ônibus lotados e suas consequências. Não tem graça.

No metrô de São Paulo, o mais lotado do mundo, numa manhã de abril, uma jovem trabalhadora foi violentada sexualmente num vagão da linha verde, considerada uma das melhores. Um crápula a segurou pelo braço, ameaçou, enfiou a mão sob sua saia, rasgou sua calcinha e a tocou. Os passageiros perceberam, tentaram agir, mas o homem fugiu. O caso foi registrado como estupro na 78º DP da capital paulista. Impossível rir disso.

É sabido que a Rede Globo nunca foi uma defensora das mulheres e da diversidade. Neste momento mesmo, o diretor-geral da emissora exigiu que os autores da novela Insensato Coração acabassem com comentários favoráveis às bandeiras gays, e recomendou menos ousadia nas cenas entre os dois personagens homossexuais.

Mas o Zorra Total foi longe demais. O quadro do programa incentiva a violência contra às mulheres e o estupro, de uma forma sistemática, já que o ataque é parte da estrutura permanente do texto. Ou seja, todas as semanas, a Rede Globo diz que as mulheres que sofrem abuso sexual devem “aproveitar” e “agradecer”, como se fosse uma dádiva.

Repete a lógica do humorista Rafinha Bastos que, pelo Twitter, escreveu que as feias deveriam agradecer ao serem estupradas. E está sendo processado por isso.

O quadro tem alcançado liderança de audiência nas noites de sábado, atingindo cerca de 25 pontos de audiência. Ou seja, milhões de lares recebem toda semana a mensagem de que é natural abusar sexualmente de mulheres no metrô, nos trens, nos ônibus. Não é preciso muito para saber que o quadro certamente terá efeitos sobre esse público, naturalizando a violência contra a mulher, diminuindo a gravidade de um crime, tornando-o algo menor, sem importância.

Essa brincadeira não tem graça. É no mínimo lamentável que o talento da dupla de humoristas esteja sendo desperdiçado em um quadro que incentiva o ataque às mulheres trabalhadoras. É revoltante que a emissora líder mantenha um programa que defende práticas tão nefastas, num país onde uma mulher é violentada a cada 12 segundos; onde uma mulher é assassinada a cada duas horas; onde 43% das mulheres sofrem violência doméstica.

FONTE: CICLOS NATURAIS FEMININOS

quinta-feira, 14 de julho de 2011

#QuemmatouJuan?



Faz pouco tempo que ingressei nas redes sociais. Talvez por ser resistente ao novo (pra não dizer que sou cabeça-dura), ainda prefiro o bom e velho email. Tenho algumas restrições à exposição exacerbada cometida por alguns no twitter e no facebook. Concordo com o Ziraldo quando ele diz que vivemos um momento de evasão de privacidade.
Críticas à parte, é incontestável o poder de mobilização que as páginas de relacionamento possuem, como foi mostrado na Carta Capital no mês passado. Assistimos a eclosão das Marchas das Vadias em vários estados, o sucesso do Churrasco da Gente Diferenciada e da Marcha pela Liberdade. Esses são apenas alguns exemplos dessa nova forma de ativismo, que não requer necessariamente um líder e um gabinete para exigir direitos e mudanças.

E por acreditar na força dos protestos virtuais, participei do twitaço realizado na noite de sexta-feira passada – #QuemmatouJuan?. As centenas de posts no twitter foram uma reação ao assassinato do garoto Juan Moraes, na Comunidade Danon, localizada na Baixada Fluminense. O corpo do menino de 11 anos foi encontrado num rio, em 6 de julho, 16 dias após o seu desaparecimento. Os principais suspeitos do crime são quatro policiais militares que lideraram uma ação de combate ao tráfico de drogas no local na data em que Juan desapareceu. O irmão de Juan também foi baleado e por sorte sobreviveu.

Temos no assassinato de Juan uma continuidade histórica. Ainda no século XIX, intelectuais brasileiros tomaram de empréstimo as teorias raciais disseminadas na Europa, que atestavam a inferioridade dos negros. Ao adaptá-las à realidade nacional, imputaram aos descendentes de escravos uma suposta tendência ao crime. Outrossim, o negro associado à criminalidade foi fundamentado pela Ciência, ganhou caráter institucional no Estado e foi amplamente disseminado pela população.

Passado mais de um século, este estigma permanece arraigado no inconsciente coletivo e nas abordagens policiais. Os moradores das periferias, vilas e favelas, sobretudo os negros e do sexo masculino, são vistos como “Elementos suspeitos”. Do ponto de vista da violência urbana, um estudo realizado pelo Laboratório de Análises Estatísticas Econômicas e Sociais das Relações Raciais da UERJ mostrou que, entre os anos de 1999 e 2005, o número de pretos e pardos assassinados cresceu 46,3%. No contingente branco, esse crescimento foi de 0,1%. Os reflexos das teorias raciais formuladas pela elite brasileira nos primeiros anos da República também são visíveis no sistema prisional. No Rio de Janeiro, 90% da população carcerária é formada por afro-descendentes. Impossível não lembrar dos versos de Gil e Caetano: “mas presos, são quase todos pretos, ou quase brancos, quase pretos de tão pobres, e pobres são como podres, e todos sabem como se tratam os pretos”.

Como se sabe, racismo é uma palavra praticamente proibida no Brasil. Dessa forma, crimes como o ocorrido em Nova Iguaçu dificilmente são associados à violência racial. Além disso, quando chegam a ser noticiados na mídia impressa e televisa são fruto de denúncias de moradores e de pressões dos movimentos sociais. Embora eu não tenha assistido, é necessário louvar as reportagens veiculadas recentemente pelo SBT e pela Rede Record, que recentemente levaram ao ar matérias sobre a discriminação racial e a violência policial no Brasil. Fato raro na televisão brasileira.

No ano passado, em um dos debates entre os presidenciáveis, Plínio Arruda, candidato do PSOL, nos poucos minutos em que teve direito de se pronunciar, sintetizou um dos legados deixados pelos quase quatro séculos de escravidão no país: “Ser negro no Brasil é extremamente perigoso”. A assertiva de Plínio deve ter passado desapercebida para muitos, porém, a morte precoce de Juan não deixa dúvidas de que o militante socialista estava coberto de razão.
O assassinato de Juan ganhou o noticiário, mobilizou a comunidade, as redes sociais e as organizações não-governamentais. Maria do Rosário, Ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, exigiu rigor nas investigações através de uma Nota Pública. O depoimento de uma testemunha aponta #QuemmatouJuan. Resta saber se os acusados serão julgados e condenados.

FONTE: BLOGUEIRAS FEMINISTAS

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Socióloga lança livro sobre mulheres e loucura


Por Mabel Dias

Eleonor Silva é internada em um hospício após ter matado o marido. Neste local, ela escreve um livro, onde cada poesia é uma mulher e um mundo onde se precisa defender um gênero para não cair numa sexualidade que estigmatiza, fragiliza cada aspecto do ser diferenciado.
Esta é a principal história que norteia o livro Noor em Nós, da artista e socióloga, Bartira Dias. “O livro trata de esboços da vida de muitas mulheres subtraídas pela incoerência deste mundo capitalista”, explica a autora.
O livro encontra-se a venda nas livrarias Arte e Ciência e na Cultura, na cidade de Fortaleza. Mas é possível adquiri-lo pelo correio. É só enviar um email para Bartira, no endereço bartira_albuquerque@yahoo.com.br e solicitar seu exemplar.
O livro de Bartira Dias lembra a peça Hysteria, do grupo XIX de teatro da cidade de São Paulo. Na peça, que é baseada na pesquisa de documentos de hospícios femininos do século 19, quatro mulheres estão trancadas em um manicômio. São elas: M.J, Hercília, Clara e Maria Tourino. Esta última, assim como a personagem Eleonor Silva, também mata o marido após viver em uma relação de total submissão. Cada personagem conta uma história das mulheres do século 19 que eram encerradas em manicômios para “tratar de suas histerias”, que naquela época era considerada uma doença tipicamente feminina. Mas, se consultarmos o dicionário Aurélio hoje, encontraremos a seguinte definição da palavra histeria: “afecção mental cujos sintomas se baseiam em conversão, caracterizada por falta e controle sobre atos e emoções, ansiedade, sentido mórbido de autoconsciência, exagero do efeito de impressões sensoriais e por simulação de diversas doenças.”
Vale a pena conhecermos a história destas mulheres e de suas loucuras para podermos compreendê-las, e assim exercitar a solidariedade entre nós. De fato. As mulheres loucas, podemos dizer, são as mais discriminadas na sociedade, pois sem consciência de seus atos, são isoladas do convívio social, pela família e pela sociedade em geral. Com as mudanças provocadas pela luta antimanicomial este quadro começa a mudar, porém o preconceito com a loucura continua existente. Neste aspecto, temos muito ainda a caminhar...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Os dois lados da mesma moeda

Por Mabel Dias

No dia 25 de janeiro, o lutador e professor de jiu jitsu, Rufino Gomes, conhecido por “Morceguinho”, foi assassinado no bairro do Bessa. Poucos meses depois, as pessoas responsáveis pelo crime foram descobertas pela polícia. Três jovens, um empresário e dois estudantes de medicina, de classe média alta, brancos, que estavam foragidos até a presente data, quando se apresentaram a polícia na manhã desta sexta-feira (1º) e foram notificados oficialmente da acusação.
Apesar de serem os autores e mentores do assassinato do professor, os rapazes vão responder ao processo em liberdade. O desembargador Leôncio Teixeira concedeu habeas corpus em favor dos mesmos. O motivo do crime?O mais torpe possível: por causa de briga em uma casa de show na cidade de Cabedelo. Rufino Gomes foi pego em uma emboscada e assassinado com três tiros da cabeça.
É difícil entender como funciona o Judiciário brasileiro. Mas sei que a lei proporciona várias brechas para conseguir não ir para cadeia e responder a crimes em liberdade. Os juristas virão com outra conversa, mas sabemos muito bem como a banda toca. Principalmente, quando se tem dinheiro para se pagar bons advogados e quando se tem influência e “alguns conhecimentos”. Em alguns casos, quando é decretada e prisão de um acusado de um crime, que seja de classe média alta, ou ele morre, consegue fugir ou fica apenas alguns dias na prisão e logo em seguida é liberado.
Casos como o do lutador de jiu jitsu existem aos montes na Paraíba e no Brasil. Um deles é o da estudante Aryane Thais, que foi assassinada há 3 anos, e até hoje, o principal suspeito de tê-la matado, seu namorado, estudante de Direito, Luis Paes, continua solto. Ele deve ir a júri popular, mas mesmo assim a data ainda nem foi marcada.
Outra caso, também na Paraíba, foi da estudante Márcia Barbosa, que foi assassinada e o acusado do crime foi o ex-deputado, Aécio Pereira, já morto. Ele foi a júri popular, condenado, mas respondia ao processo em liberdade. Morreu poucos meses depois de ser condenado.
Se os assassinos de “Morceguinho” fossem moradores de bairros carentes de João Pessoa com certeza estariam encarcerados. O julgamento? Nossa! Aconteceria muito tempo depois da prisão. Não é à toa que muitos permanecem anos esperando julgamento, dentro dos presídios. Quando conseguem pagar algum advogado tem até esperança de fazer com que o processo corra mais rápido. Quando não, dependem de um defensor/a público para poder ajudá-los. Sem falar nos casos em que existem acusações e prisões arbitrárias e inocentes pagam o preço pelos verdadeiros culpados.
Em entrevista a um jornal de TV, a mãe de “Morceguinho”, disse que a família está destruída e que depois de tudo isto está difícil acreditar em Justiça. Será que precisa dizer mais alguma coisa?