sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Dez anos do assassinato de Sandra Gomide


Por Rachel Moreno

Já imaginaram se a Sakineh se exilar no Brasil e arranjar um namorado tipo o jornalista Pimenta Neves? - perguntou um amigo...
É, a violência contra as mulheres não é privilégio do Irã, se conclui por seu raciocínio...

Se Sakineh namorar com o jornalista Pimenta Neves, ela se arrisca a levar um, ou talvez uns dois ou três tiros.
Mas não pedrada... por aqui, somos mais "civilizados"...
De vez em quando, tem até quem jogue um pedaço do corpo da mulher da qual quer se livrar, aos cães, num respeito à pirâmide
alimentar - aos cães de estimação, os restos que não mais queremos comer, como petisco especial...

Agora cá prá nós, nem pedrada, nem violência, nem impunidade!!!...
A mídia, desde os tempos do SOS Mulher, sempre se deliciou com noticias do tipo "se torcer, sai sangue".
E agora tentam ao máximo tirar algum dividendo político da atitude do Lula (que teriam criticado se nada tivesse feito),
e da previsível negativa do Irã - já pensou onde eles iriam parar se atendessem a este pedido?! A cada caso, algum país se mobilizaria
para receber a "infiel" e aí, onde ficam os hábitos? Os costumes? O respeito à diversidade cultural?

Sem chegar a este patamar de barbárie, lembro de uma africana, constrangida com a reação do ocidente diante da excisão do clitoris
a que são submetidas - a frio - as jovens africanas, e se dizendo igualmente espantada ante a naturalidade com que as ocidentais "cortam na própria
carne" (fazendo cirurgia plástica), sem ao menos uma motivação cultural...

Hoje eu vi o anúncio da nova Barbie (a bonequinha) com implante de seios de silicone, para meninas a partir de 4 anos,
com os dizeres "just like mom's" (iguaizinhos aos da mamãe)... (re-transmitido na rede pela Rosa de Lourdes)

Claro, nada que se compare a assassinatos ou "justiçamentos". Apenas uma violência mais sutil...

Puniçao ao assassino de Sandra Gomide, que permanece livre. leve e solto!

Vêm-me à cabeça as palavras de ordem de há mais de 30 anos atrás:
O silêncio é cúmplice da violência! Que ama não mata!

O que me irrita em particular, é a atualidade dessas palavras!
O absurdo que é de termos ainda, que falar de violência de gênero - como se estivéssemos na idade da pedra - quando tem tantos problemas e
questões contemporâneas a exigir a nossa ação!

Confira ainda matéria da jornalista Nora Gonzalez sobre o caso neste link:

Caro(a) leitor(a):

Nesta 6ª.feira (20/8), completam-se exatos dez anos do assassinato de Sandra Gomide por Pimenta Neves, seu ex-namorado e ex-chefe nos jornais Gazeta Mercantil e O Estado de S.Paulo. Um crime ainda sem castigo. A convite de J&Cia, a repórter Nora Gonzalez, que trabalhou nos dois jornais por bons anos e conviveu com vários dos personagens que acompanharam de perto a tragédia e o destempero e desequilíbrio de Pimenta Neves, desde que começou a namorar Sandra Gomide, saiu em campo para entrevistar alguns desses colegas. Muitos, por razões compreensíveis, concordaram em falar, mas pediram para que seus nomes não fossem divulgados. Nora reconstrói a tumultuada relação de Pimenta Neves com Sandra desde que se conheceram e começaram a namorar na Gazeta Mercantil e os desdobramentos que o caso veio a ter no ambiente de trabalho, ali mesmo na Gazeta e, em seguida, no Estadão. Mostra a divisão entre os amigos de Pimenta, que a ele se mantiveram fiéis mesmo depois do crime, e os de Sandra. Revela detalhes das atitudes nada convencionais de Pimenta de promover, rebaixar ou demitir Sandra, e que eram tomadas por impulso no auge da raiva – muitas vezes delas se arrependendo depois. Relata ainda desdobramentos jurídicos do caso, trazendo à tona informações que muitos desconhecem, como a de que a pena a ser cumprida por Pimenta, caso a sentença condenatória seja confirmada, não caduca em função da idade avançada dele, como diz a lenda urbana sobre o assunto. Confira a matéria completa neste J&Cia Especial.

Boa leitura!
http://www.jornalistasecia.com.br/edicoes/jornalistasecia757a.pdf?__akacao=303531&__akcnt=6c290a83&__akvkey=7748&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Jornalistas%26Cia+--+Edi%E7%E3o+757A+--+Especial+Pimenta+Neves

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Machismo adoece e mata! Mulheres ás ruas!


Por Mabel Dias

Manifestações silenciosas. Outras barulhentas. As mulheres vão aos espaços públicos para denunciar as violências que sofremos diariamente. São assassinatos, agressões, maus tratos, violência psicológica, patrimonial, desrespeito, humilhações. Não importa em que parte do mundo, seja na Paraíba ou no Irã, as mulheres continuam a ser vistas como objetos, propriedade dos homens, que ao pequeno sinal de autonomia, usam a violência para poder barrar nossa liberdade.
Foi assim com Eliza Samudio, Vanessa Oliveira, Ariane Thaís, Sakineh Ashtiani, Irís Bezerra, Mércia Nakashima, Wélia Gomes, Maria da Guia da Silva. E com tantas outras companheiras, que ficamos sabendo através da imprensa, e que infelizmente, vão se transformando em números.
E a hora de dar um basta em todo este alto índice de violência contra as mulheres já passou. Porém, a raiz do problema é bem mais profunda e está inserida na forma que a sociedade foi construída, há muitos anos. O patriarcado, o machismo, que o movimento feminista sempre lutou contra e conseguiu vitórias é o grande responsável por toda esta violência que atinge as mulheres. O que as feministas autônomas chamam de feminicídio. A psicóloga Regina Navarro Lins, autora do livro “A cama na varanda”, diz que o sistema patriarcal estendeu o poder que tinha às mulheres e aos homens também. “O homem se sentia dono da mulher, ela era uma propriedade. Ele sempre se sentiu no direito de agredir a mulher e até de matar, mas ele tinha legalmente esse direito de puni-la severamente. Adultério então, nem se fala. Nos países islâmicos, até hoje a mulher é apedrejada e morta. Isso porque bota em risco a questão financeira do marido. O homem ficou obcecado pela exclusividade da mulher porque ele não queria dividir a herança com os outros. O homem ainda é criado para achar que é superior à mulher.”, disse Regina Navarro, em entrevista concedida à jornalista Maíra Kubik Mano.

E o patriarcado está presente em todos os setores da sociedade. Dentro de nossa casa, nos locais de trabalho, nas ruas, na mídia e na música, como o forró e o funk, que reproduzem conceitos que alimentam o machismo. Somos obrigadas/os a ouvir, seja nas ruas ou do apartamento das/os vizinhas/os, músicas de bandas de forró, que em sua grande maioria, divulgam letras de alto teor machista e que incitam a violência contra a mulher. E outras que colocam as mulheres umas contra as outras. A mais recente é da banda Aviões do Forró, que chama uma mulher de “vaca” porque ela “roubou” o seu marido. Parece até uma luta injusta, pois se de um lado lutamos arduamente para acabar com a violência contra a mulher, de outro, vemos um estímulo a esta violência, e ainda com o título de diversão. Nos próprios shows de forró, ouvimos relatos de mulheres que foram agredidas pelos homens: são puxões de cabelo, pegadas na bunda, nos seios, e outras que são agarradas a força para beijá-los. E enquanto isto, as cantoras e cantores destas bandas sorriem e cantam “os seus versos”, que lhes rende milhões e alimentam a violência. Desde a música “Tapinha não dói”, que o movimento feminista conseguiu tirar de circulação através de ação no Ministério Público, até as músicas de Sirano e Sirino às letras de Duquinha, incitam a violência contra a mulher, seja de maneira direta ou indireta. Nos bailes funks, nem precisamos falar os detalhes, pois as músicas e as danças são ainda mais explícitas. Quando não são explicitas neste sentido, falam do amor romântico, que é uma verdadeira cilada para as mulheres, pois pinta uma ilusão e de que tudo deve ser permitido e perdoado, já que se trata de amor (?). E é aí, onde pode começar o círculo de violência.
Mas porque os assassinatos contra as mulheres? Porque tanto ódio? Mais uma vez, a questão da propriedade. Regina Navarro Lins diz que o homem quer matar a mulher porque na cultura patriarcal o menino tem que romper logo cedo com a mãe. “Então, por defesa, ele vai desenvolvendo um comportamento de negação da necessidade dos cuidados maternos. E também como defesa ele desvaloriza a mulher em geral. Aí esse menino cresce, se torna um adulto e aparentemente foge do casamento, das relações afetivas. Cria-se o mito de que ele não quer casar, como se só as mulheres quisessem. Mas quando o homem entra numa relação estável, é impressionante como ele baixa a guarda e se torna um bebê perto da mulher”, explica Regina.
Sabemos que o machismo adoece e mata. E que a cada minuto, a cada hora, uma de nós é vítima ou sobrevivente desta violência. Porém, não agüentamos mais. Sabemos a raiz do problema, sabemos quais caminhos percorrer para denunciar e buscar ajuda, mas, mesmo assim, continuamos a ver nossas companheiras perderem a vida de maneira banal. E daí, o que podemos fazer? Acredito que esta é a grande pergunta: O que podemos fazer para acabar com a violência contra a mulher? E que ela não se torne banal.