quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Hipernestre e Zuzu Angel - duas histórias e uma só busca: JUSTIÇA




Por Mabel Dias

O que estas duas mulheres têm em comum? A história de Zuleika Angel Jones, mais conhecida como Zuzu Angel, estilista brasileira morta pela ditadura militar em 1975, é sabida pela maioria das/os brasileira/os, principalmente depois do filme que tem seu nome como titulo.
Já a história de Hipernestre Carneiro só foi conhecida este ano, quando sua filha de 22 anos, Aryane Thais, foi assassinada em abril, e seu corpo largado na BR 230, em João Pessoa. Chico Buarque na música “Angélica” ,composta para Zuzu, já perguntava: “Quem é esta mulher que chora sempre este lamento?” E agora, eu pergunto: quem são estas mulheres? São duas guerreiras que perderam seus filhos/filha de maneira brutal e que retiraram da dor a força para lutar por Justiça.
A luta de Zuzu Angel, que enfrentou os militares brasileiros em plena ditadura, exigindo reaver o corpo de seu filho, Stuart Angel, que foi capturado pela Marinha, morto, e teve o corpo jogado ao mar. Nunca os militares deram noticias a Zuzu sobre o que tinha acontecido com Stuart. Só alguns anos depois, um militar que havia saído da Marinha procurou o advogado dela e revelou toda a verdade. A partir daí, Zuzu arregaçou as mangas e começou a denunciar o que havia acontecido com seu filho e juntou todas as provas que pode para poder denunciar à Anistia Internacional o que os militares tinham feito com Stuart Angel. No filme, entre inúmeras cenas emocionantes, há uma que ela está dentro do avião, voltando dos Estados Unidos e pega o microfone da aeromoça para falar com os demais passageiros sobre o que a ditadura militar está fazendo no Brasil e que seu filho foi uma das vitimas do regime. Este ato fez com que ela fosse intimada à Marinha, sendo chamada a atenção para que ficasse calada ou isto lhe custaria à vida. E de fato, custou.
A mesma determinação que tinha Zuzu Angel tem Hipernestre Carneiro. Em agosto, ela participou de uma sessão especial na Assembléia Legislativa da Paraíba, que tratava da violência contra a mulher no estado. Ela se tornou um símbolo das famílias paraibanas que perderam filhas, mães, tias, irmãs, primas, e que vem exigindo Justiça para os crimes que acometem dezenas de mulheres na Paraíba. Durante a sessão, Hipernestre explicou de onde ela conseguiu tanta força para participar de atos de combate a violência contra a mulher, dar entrevistas e até ir a São Paulo participar de uma atividade que também tratava da violência contra as mulheres naquele estado. Desde a morte de Aryane, que ela procurou entidades feministas de João Pessoa e se engajou na luta de combate a violência de gênero. Durante a sessão na Assembléia, Hipernestre estava vestida com uma camisa que tinha a bandeira da Paraíba e a foto de sua filha. Ela disse que esta camisa, entre tantas outras que mandou fazer, havia se tornado uma farda e que por toda a cidade ela iria, mesmo que sozinha, espalhar cartazes com a foto de Aryane para que a sociedade nunca esquecesse o que aconteceu com ela e que soubesse que o assassino de sua filha continuava livre, assim como panfletos contando o que havia acontecido com Aryane. A mesma atitude teve Zuzu Angel quando distribuiu para a sociedade carioca, e até para o presidente Médici (que governava o país quando Stuart desapareceu) várias cartas, contando o desaparecimento de seu filho e as brutalidades que a ditadura vinha cometendo no país.
A história destas mulheres que agora, mais do que nunca, sabemos quem são e o que representam para a luta das mulheres no Brasil acontecem em períodos e contextos distintos, mas ilustram a determinação que elas têm de ir até o fim, sem medir esforços, ainda chorando a morte dos filhos, acreditando na Justiça (não falo justiça no sentido de Judiciário), mesmo que as adversidades venham e que a Justiça aconteça de maneira tardia. Infelizmente, Zuzu foi assassinada por apenas querer a verdade, por querer embalar seu filho, como dizia Chico Buarque na música. E Hipernestre continua sua luta, chorando seu lamento de maneira seqüencial, mas com fibra e apoio de tantas outras mulheres que se solidarizam com sua história. Agora ela espera pela próxima audiência do acusado de matar sua filha, o estudante de Direito, Luiz Paes Neto.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ética na comunicação


Por Mabel Dias


Foi realizado em São Paulo, nesta semana, o seminário “A liberdade de imprensa e a ética na comunicação”. A iniciativa é do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, através de sua Comissão de ética.
De acordo com Denise Fon, uma das integrantes da Comissão de Ética do Sindicato paulista, a quantidade de denúncias que chega a entidade contra os jornalistas é alarmante, passando por abordagens preconceituosas, pré-julgamentos e apelos à execração pública.
Algumas destas denúncias, conforme Denise, são direcionadas àqueles/as que não são jornalistas, mas “fazedores” de notícias, que começaram a surgir desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que para exercer a profissão de jornalista não se precisa do diploma e que qualquer um/a pode ser jornalista. E desde então, a qualidade do profissional de imprensa caiu muito e com isto os direitos e a valorização da categoria também. Se antes já havia muitos que se diziam jornalistas porque faziam um curso de rádio e TV ou sabiam diagramar um jornal, agora, então, tornou-se ainda mais fácil conseguir um emprego de jornalista e emitir uma carteirinha entre diretores de sindicatos que estão nos cargos apenas para garantir o seu quinhão.
O secretário do Interior e Litoral do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Alcimir Carmo, aponta que é na televisão que se assiste ao maior número de casos de flagrante desrespeito aos direitos humanos, direitos de cidadãos, e até linchamentos morais, em programas os mais diversos nas emissoras de TV, tanto na Capital quanto no interior de São Paulo. A realidade de São Paulo não é diferente da do restante do país.
Aqui na Paraíba, seja na TV, no rádio ou no jornal, podemos conferir diversos programas/matérias que encaram os problemas sociais como caso de polícia, e fazem um verdadeiro tribunal midiático, expondo as pessoas à execração pública, como bem atestam as/os companheiras/os do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. O que se passa em São Paulo é a realidade do que vemos aqui na Paraíba.
A exposição de cadáveres, a busca por histórias grotescas e de onde se possa “extrair sangue” para atrair o público, além da exposição do corpo da mulher como mercadoria, fazem parte da pauta daqueles veículos de comunicação que há muito perderam o interesse em fazer um jornalismo ético, e comprometido em informar de fato. O interesse passa apenas pelo lucro e nos índices de audiência.
Diante deste quadro quase aterrador que passa o jornalismo brasileiro, iniciativas como esta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo são mais do que louváveis e devem ser reproduzidas pelo Brasil. Precisamos cada vez mais incentivar eventos como este e traçar meios de combate ao que nos empurram como jornalismo, e que só faz prestar um mal serviço de comunicação à sociedade. Nós, jornalistas, fazemos parte da sociedade, e junto com ela, precisamos exercer o controle social da mídia, fiscalizá-la, e fazer com que se produza programas com conteúdo qualificado e que digam respeito aos reais interesses da população. Afinal, somos comunicadores SOCIAIS.