sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Por onde andam as anarcofeministas?







As mulheres anarquistas tiveram uma participação bastante significativa nas diversas épocas que o anarquismo tinha uma forte e incrível presença social.
As anarquistas, além de se manifestarem pelas inúmeras causas que o anarquismo abraçava, também enfocavam em suas bandeiras de luta a questão da mulher.
Apesar do anarquismo trazer em sua atuação a luta pela emancipação humana, as anarquistas identificavam que a opressão contra a mulher tinha as suas especificidades, e desta forma, precisava ser também visibilizada. Trazer os temas relacionados à mulher para o seio do movimento anarquista era essencial, visto que poucos companheiros estavam interessados em debater a opressão sofrida pelas mulheres, e se debruçavam mais na luta contra a exploração do trabalhador pelo capital e o Estado, e assim, esqueciam ou não davam a mesma importância a violência que o capital e o Estado exerciam contra as mulheres.
A priori, não havia afirmação, identificação das anarquistas com o feminismo (e muitas vezes havia críticas a atuação das feministas) por estas defenderem a existência do Estado e que colocando mulheres no poder não seria a solução para o fim da exploração feminina. Nos escritos de Emma Goldman, por exemplo, não há, por parte dela, nenhuma afirmação de que é feminista. Embora estudiosos/as de sua obra chegassem a defini-la como anarcofeminista.
E foi a partir daí, que o termo anarcofeminista parece ter sido divulgado e é assim até hoje. A fusão de anarquismo com o feminismo “criou” as anarcofeministas. E há diferença entre as feministas e as anarcofeministas? Sim, há. As anarcofeministas mantêm a essência do anarquismo e não concordam em se inserir ou reivindicar direitos ao Estado; acreditam que o voto não muda a situação das mulheres, tão pouco mulheres no poder irá solucionar de fato os problemas pelos quais as milhões de mulheres sofrem atualmente. A História nos mostra isto claramente. Com certeza, mudanças aconteceram, mas no final das contas, ainda continuam as desigualdades entre homens e mulheres e entre mulheres e mulheres. Apesar disto, há muitas afinidades entre anarcofeministas e feministas.
Atualmente, no Brasil, podemos encontrar grupos, zines, bandas, sites, blogs, etc, feitos só por mulheres que se identificam como feministas ou anarcofeministas. O que podemos chamar de um “ativismo virtual”, e as bandas através de seus shows procuram dar o seu recado. Nestes espaços, podemos constatar a presença das anarcofeministas ou feministas libertárias, como queiram, mas nas ruas, nas conferências, nos encontros, nos textos, na produção de livros, revistas, nas manifestações, ao menos no Brasil, não se encontram mais as anarcofeministas. Procuro participar de diversas ações onde moro e de maneira quase que sistemática vou à busca de falas e atuações de anarcofeministas, mas não consigo encontrar. Da mesma forma, procuro documentos escritos por libertárias nos dias atuais, e é praticamente impossível encontrar. É possível perceber, que a visibilidade e presença das feministas continua constante, e que elas estão inseridas em diversas frentes de luta (pela legalização do aborto, contra violência a mulher, pelo controle social da mídia, etc). Mas não vejo a atuação das anarcofeministas nestes campos, uma fala anarquista não há. Porém, há algumas esperanças no final do túnel. Um grupo em Porto Alegre , intitulado “Mulheres Rebeldes”, trazem em sua atuação um discurso libertário, o que anima aquelas que parecem estar órfãs do bom e velho anarcofeminismo.
No entanto, não há mais uma atuação forte e constante do movimento anarquista no Brasil e parece que por isto, as anarcofeministas insistiram em ficar apenas nos livros de História. O que é lamentável e triste. Muitas vezes podemos perceber que em alguns discursos e textos, divulgados em encontros feministas, existe uma tendência libertária, mas é algo que se dá de maneira muito tímida. Não é como acontecia nos anos 30, 40, 50, onde a presença e o ativismo das mulheres anarquistas iam realmente contra a violência que o Estado cometia contra elas e contra os seus companheiros de luta. Hoje, o Estado moderno neoliberal “abraçou” a luta feminista dando-lhes cargos de mando e mostrando que colocou em prática algumas políticas que são reivindicações antigas do movimento. São as chamadas políticas públicas, tão propagadas e que trazem até algumas mudanças na vida das mulheres. Como o combate à violência doméstica, por exemplo. Agora, o que está em discussão, é o Plano Nacional de Direitos Humanos 3, conhecido como PNDH3, e as feministas estão presentes e atentas às discussões e levaram suas metas para serem inseridas neste documento. E por onde anda as libertárias? Seria importantíssimo que nos inseríssemos nesta discussão também, e colocássemos nossas impressões e contribuições.
Só que não se pode conformar. O Estado é o Estado. Que as anarcofeministas saiam dos livros de História e venham às ruas novamente!

Clique aqui e confira o blog das Mulheres Rebeldes
http://mulheresrebeldes.blogspot.com/2010/01/participacao-autonoma-no-contexto-do.html

sábado, 23 de janeiro de 2010

O útero – nossa preciosidade


O útero continua sendo visto pelos/as médicos/as apenas como local natural de gerir bebês. E conhecer nosso próprio corpo é um passo a mais no caminho da autonomia, principalmente em uma sociedade onde a Medicina ainda é conformada, em grande parte, pelo olhar masculino. Para este olhar os órgãos sexuais femininos são apenas um aparelho reprodutivo. Daí tantas remoções de útero (histerectomia) sem sentido, prescritas por médicos/as, sob o pretexto de evitar um mal maior para as pacientes. Mulheres que têm miomas, por exemplo, sempre são orientadas a retirar o útero, e desta forma, não lhes é explicado nem dado escolha de que podem retirar estes tumores benignos sem precisar retirar o órgão.
Nossos órgãos genitais, internos e externos, contudo, têm uma função bem mais ampla do que a de reproduzir a espécie. Em primeiro lugar, são parte integral de nossos corpos e tão necessários à saúde quanto quaisquer outros. Segundo, têm um papel relevante em nossa capacidade de sentir prazer. Não apenas o clitóris – este velho conhecido e querido das lésbicas - entra em ação para dar-nos grandes momentos de alegria. Toda região pélvica responde à excitação sexual e, para várias mulheres, atingir o orgasmo é um trabalho coletivo do cervix e do útero pressionados por penetração do pênis ou manual, ou ainda com o dildo. Conhecer e cuidar bem deste patrimônio, portanto, é uma medida essencial não só para manutenção da saúde como também do prazer.