“Se não posso dançar, não é
minha revolução!” – Emma Goldman
Por Mabel Dias
A Marcha das Vadias (Slut
Walk) é um movimento que já acontece mundialmente desde 2011. Seu início se deu
na cidade de Toronto, no Canadá, quando um elevado número de estupros de
mulheres em uma universidade local fez com que um policial, durante uma
palestra sobre segurança, “aconselhasse” as mulheres para não se vestirem como “vadias”
para não serem estupradas. Estudantes da universidade canadense se indignaram
diante de tal declaração e a reverteram em um protesto político, bem humorado, organizando
a primeira Marcha das Vadias, que levou às ruas cerca de
três mil pessoas, que se manifestaram publicamente contra a alegação absurda de
que as mulheres são violentadas por causa da forma como se vestem.
Mas, só este ano a Marcha
das Vadias será realizada em João Pessoa, capital da Paraíba, no próximo
sábado, dia 09. Assim como no Canadá, a iniciativa em João Pessoa também partiu
de estudantes universitárias. A Marcha das Vadias é uma manifestação, um grito
de revolta contra o crescente índice de violência contra mulheres e meninas.
Segundo o Mapa da Violência 2012, a Paraíba ocupa o 4º lugar em casos de homicídios
contra mulheres e a capital está na 12ª posição.
O
índice de violência contra as mulheres no Estado em 2012 é 50% maior em relação
ao ano passado. Até abril deste ano, já foram assassinadas 41 mulheres na
Paraíba, sendo 26 por crimes machistas e sexistas e 15 por suposto envolvimento
com drogas (Fonte: Centro da Mulher 8 de Março). Esses números com certeza
devem ser bem maiores, pois a maioria dos casos não
chega a ser noticiado na imprensa nem denunciado pelas mulheres.
A
fala do policial durante a palestra sobre segurança no campus da universidade
canadense reflete o pensamento machista e sexista que permeia a sociedade, seja
em qualquer parte do mundo. A mulher ainda é considerada propriedade masculina
e o homem se vê no direito de fazer com ela o que quiser. A impunidade ainda é
gritante, apesar dos mecanismos de proteção à mulher, como os dispositivos
previstos na Lei Maria da Penha.
A
violência contra as mulheres e as meninas se dá também na mídia, com seus
corpos mercantilizados, jornadas triplas de trabalho, o assédio moral e sexual
no trabalho, a pouca cobertura de creches para as mães pobres que precisam
trabalhar e não tem onde deixar seus/suas filhas/os, entre outras
reivindicações.
Em
pleno século XXI, mulheres são oferecidas como presente de aniversário de um
irmão para outro, e em seguida estupradas e mortas. Foi o que aconteceu na
cidade de Queimadas, na Paraíba, onde cinco mulheres foram estupradas e duas
assassinadas. Todos os dias, mulheres e meninas são vítimas da violência,
simplesmente por serem do sexo feminino. E ainda por cima, culpabilizadas pela
violência que sofrem. Para as lésbicas, negras e pobres esta violência é ainda
mais intensa quando essas identidades se articulam entre si, promovendo uma
discriminação e preconceito sem precedentes. As mulheres negras estão mais
expostas à violência sexual do que as brancas. De 2009 a 2010, no Brasil, a
cada hora, duas negras ou pardas foram submetidas à violência sexual (Dados do
Laeser/UFRJ).
E
é contra esta violência misógina que a Marcha das Vadias se posiciona. Mesmo com o
crescimento e a positiva aceitação do movimento Slut Walk no Brasil, posições
contrárias ao nome são constantes. A alegação é que o termo soa agressivo e
preconceituoso. Para a jornalista Carla Rodrigues, o termo “vadias” tem sido
uma irreverente estratégia de deboche do preconceito. “Parte da exigência de que os direitos
das mulheres não podem ser violentados em nenhuma hipótese, seja lá quem ou
como for a vítima. Pauta urgente para o Brasil, onde domésticas, moradores de
rua, prostitutas e homossexuais, são agredidos duplamente. A primeira vez, pelo
agressor. A segunda, pelas justificativas para a agressão. Passa a ser tarefa
da mulher não ser estuprada, enquanto deveria ser responsabilidade do homem não
cometer o crime”, diz Carla em seu recente texto “O deboche das Vadias”,
publicado no jornal O Estado de São Paulo.
E as vadias vão às ruas na
capital da ainda conservadora Paraíba para afirmar que “queremos ser mulheres livres de qualquer tipo de exploração e de
opressão e não ficamos caladas diante de uma situação de violência, seja ela
física, simbólica ou psicológica... Dizemo-nos “vadias” porque nossos
corpos nos pertencem!” (trecho do manifesto das Vadias de João Pessoa)
Acompanhe a Marcha das
Vadias JP na internet:
Email: marcha.das.vadias.jp@gmail.com
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