terça-feira, 5 de junho de 2012

João Pessoa realiza Marcha das Vadias próximo sábado



“Se não posso dançar, não é minha revolução!” – Emma Goldman

Por Mabel Dias

A Marcha das Vadias (Slut Walk) é um movimento que já acontece mundialmente desde 2011. Seu início se deu na cidade de Toronto, no Canadá, quando um elevado número de estupros de mulheres em uma universidade local fez com que um policial, durante uma palestra sobre segurança, “aconselhasse” as mulheres para não se vestirem como “vadias” para não serem estupradas. Estudantes da universidade canadense se indignaram diante de tal declaração e a reverteram em um protesto político, bem humorado, organizando a primeira Marcha das Vadias, que levou às ruas cerca de três mil pessoas, que se manifestaram publicamente contra a alegação absurda de que as mulheres são violentadas por causa da forma como se vestem.

Mas, só este ano a Marcha das Vadias será realizada em João Pessoa, capital da Paraíba, no próximo sábado, dia 09. Assim como no Canadá, a iniciativa em João Pessoa também partiu de estudantes universitárias. A Marcha das Vadias é uma manifestação, um grito de revolta contra o crescente índice de violência contra mulheres e meninas. Segundo o Mapa da Violência 2012, a Paraíba ocupa o 4º lugar em casos de homicídios contra mulheres e a capital está na 12ª posição.

O índice de violência contra as mulheres no Estado em 2012 é 50% maior em relação ao ano passado. Até abril deste ano, já foram assassinadas 41 mulheres na Paraíba, sendo 26 por crimes machistas e sexistas e 15 por suposto envolvimento com drogas (Fonte: Centro da Mulher 8 de Março). Esses números com certeza devem ser bem maiores, pois a maioria dos casos não chega a ser noticiado na imprensa nem denunciado pelas mulheres.

A fala do policial durante a palestra sobre segurança no campus da universidade canadense reflete o pensamento machista e sexista que permeia a sociedade, seja em qualquer parte do mundo. A mulher ainda é considerada propriedade masculina e o homem se vê no direito de fazer com ela o que quiser. A impunidade ainda é gritante, apesar dos mecanismos de proteção à mulher, como os dispositivos previstos na Lei Maria da Penha.
A violência contra as mulheres e as meninas se dá também na mídia, com seus corpos mercantilizados, jornadas triplas de trabalho, o assédio moral e sexual no trabalho, a pouca cobertura de creches para as mães pobres que precisam trabalhar e não tem onde deixar seus/suas filhas/os, entre outras reivindicações.

Em pleno século XXI, mulheres são oferecidas como presente de aniversário de um irmão para outro, e em seguida estupradas e mortas. Foi o que aconteceu na cidade de Queimadas, na Paraíba, onde cinco mulheres foram estupradas e duas assassinadas. Todos os dias, mulheres e meninas são vítimas da violência, simplesmente por serem do sexo feminino. E ainda por cima, culpabilizadas pela violência que sofrem. Para as lésbicas, negras e pobres esta violência é ainda mais intensa quando essas identidades se articulam entre si, promovendo uma discriminação e preconceito sem precedentes. As mulheres negras estão mais expostas à violência sexual do que as brancas. De 2009 a 2010, no Brasil, a cada hora, duas negras ou pardas foram submetidas à violência sexual (Dados do Laeser/UFRJ).

E é contra esta violência misógina que a Marcha das Vadias se posiciona. Mesmo com o crescimento e a positiva aceitação do movimento Slut Walk no Brasil, posições contrárias ao nome são constantes. A alegação é que o termo soa agressivo e preconceituoso. Para a jornalista Carla Rodrigues, o termo “vadias” tem sido uma irreverente estratégia de deboche do preconceito. Parte da exigência de que os direitos das mulheres não podem ser violentados em nenhuma hipótese, seja lá quem ou como for a vítima. Pauta urgente para o Brasil, onde domésticas, moradores de rua, prostitutas e homossexuais, são agredidos duplamente. A primeira vez, pelo agressor. A segunda, pelas justificativas para a agressão. Passa a ser tarefa da mulher não ser estuprada, enquanto deveria ser responsabilidade do homem não cometer o crime”, diz Carla em seu recente texto “O deboche das Vadias”, publicado no jornal O Estado de São Paulo.

E as vadias vão às ruas na capital da ainda conservadora Paraíba para afirmar que “queremos ser mulheres livres de qualquer tipo de exploração e de opressão e não ficamos caladas diante de uma situação de violência, seja ela física, simbólica ou psicológica... Dizemo-nos “vadias” porque nossos corpos nos pertencem!” (trecho do manifesto das Vadias de João Pessoa)

Acompanhe a Marcha das Vadias JP na internet:
Email: marcha.das.vadias.jp@gmail.com



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