sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O nojo dos odores do corpo


*baseado no texto “Nojenta?”, da Revista TRIP.

Uma síndrome dos tempos modernos tem afetado muitas mulheres: o nojo de tudo que sai do próprio corpo. É o que podemos chamar de “doença social” que faz com que passemos a achar que coisas naturais, como secreções, suor, menstruação e pelos são nojentos. Por isto, vamos refletir: aquilo que sai de nosso corpo é mesmo tão desagradável assim?
Parece que sim, pois a indústria dos cosméticos é a que mais cresce no Brasil. É a terceira em tamanho no varejo mundial. Só sabonetes íntimos existem dez tipos. E com vários aromas. Há também uma grande variedade de protetores para calcinha de uso diário. Estes crescem em torno de 15% por ano nas vendas. Absorventes são mais de 30 à venda em supermercados, farmácias, em qualquer lugar, ao alcance da mão. E um dos responsáveis pela poluição à mãe natureza. Na embalagem, o produto já anuncia que ameniza os odores da menstruação e outros carregam no rótulo a promessa de manter o fluxo sem contato com o corpo.
Segundo o filósofo Mario Sergio Cortella, da PUC-SP, isto é uma doença social, pois a cada dia aumenta o processo de desnaturalização do corpo, como se pudéssemos barrar a natureza, e isto tem afetado principalmente as mulheres. Porque será?
O professor compara nosso corpo ao shopping Center. Há 30 anos, diz ele, esse processo antinatureza começou nos shoppings, onde a luz é artificial, as plantas não crescem naturalmente, e não há nem relógio para que as pessoas não vejam o tempo passar. A mesma coisa acontece com o corpo da mulher.
A depilação, principalmente a íntima, é vista como sinal de “limpeza”. Em sites, livros e revistas que ensinam a “se preparar para uma noite de amor”, ela é vista como fator fundamental. Muitas vezes listam uma série de coisas que a mulher precisa, deve fazer para agradar o parceiro. Sempre ela. E a depilação é um dos requisitos que não pode faltar! Enquanto a eles, nada disto é imposto, pelo contrário. Se bem que ultimamente com a criação pela mídia do termo “metrossexual”, usado para definir aqueles homens bastante vaidosos, a depilação também tem feito parte da prática de boa parte do público masculino, que a vêem também como “sinônimo de higiene”.
O ginecologista Adailton Salvatore diz que os pelos tem uma função de proteção. E depilar com muita freqüência a área genital, a mulher ficará sem defesa contra bactérias. O exagero no uso de sabonetes íntimos também pode ser prejudicial, pois as substâncias podem ressecar a área e, a longo prazo, até fazer com que a região fique propicia a infecções. O alerta maior vai para os protetores de calcinha de uso diário.
Mas porque tanta rejeição às nossas “zonas úmidas”? O psicanalista Christian Dunker, da USP, arrisca palpites. Para ele, o corpo se tornou tão importante por ser algo que imaginamos controlar, moldar e produzir como imagem de nós mesmos/as. Não podemos controlar o nosso cheiro, mesmo o uso de xampus, cremes e perfumes, estas práticas são corrompidas pelo nosso suor, pelos odores do ambiente, pela presença do cheiro do/a outro/a.
A historiadora Mary Del Priori, autora do livro Histórias das Mulheres no Brasil, conta que o termo “cc” surgiu na década de 40 e significa extamente cheiro do corpo. A assepsia, conta ela, começou a virar mania a partir dos anos 70. Foi nessa época que a Barbie se espalhou pelo mundo. E com ela a imagem de uma mulher sem pelos, sem manchas, literalmente de plástico.
De acordo com Mary de Priori, a partir daí, a fêmea passou a ser desodorizada.

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