Por Mabel Dias
Noomi Rapace
No começo deste ano, chegou as
telas brasileiras o segundo filme da trilogia Millenium, “Os Homens Que Não
Amavam As Mulheres”, em sua versão americana, dirigida por David Fincher.
A primeira versão da trilogia,
escrita pelo jornalista Stieg Larson, um workaholic nato, foi lançada em 2009,
porém, não traz o mesmo vigor da americana que já na abertura provoca um forte
impacto no espectador. Imagens cibernéticas embaladas pelo som da banda Led
Zeppelin nos fazem entrar, fascinantes, na história do jornalista Mikael
Bloomkvist e da hacker e riot grrrl (porque não?) Lisbeth Salander, que em um
determinado momento se juntam para investigar o desaparecimento da
sobrinha-neta de um empresário sueco. Não haveria melhor pessoa para investigar
o sumiço de Harriet Vanger do que Lisbeth. Além de uma ótima investigadora,
Lisbeth Salander sentia na pele a misoginia e a violência que esta causava às
mulheres. Em pouco tempo que está na investigação, ela já descobre o porquê o
assassino cometia os crimes: ódio às mulheres.
Ao lado de Bloomkvist, ela vai
desvendando, não apenas o sumiço de Harriet, como também começa a descobrir uma
série de assassinatos de jovens mulheres na época em que os nazistas estavam no
poder. E na Suécia de 1940 os nazistas tocavam o terror, o que não era
diferente em outros países.
Apesar de não ser tão dinâmico
quanto o americano, a versão sueca dos “Homens Que Não Amavam As Mulheres”,
dirigida pelo dinamarquês Niels Arden Oplev, também traz uma boa interpretação
da personagem Lisbeth, incorporada pela atriz Noomi Rapace. Na americana, é a
atriz Rooney Mara, que dá vida a riot grrrl e até ganhou o Oscar de melhor
atriz pela sua Lisbeth Salander.
Sem dúvida, as cenas mais
chocantes de ambos os filmes, são a do estupro que Lisbeth sofre por parte de
seu tutor. É nojento, repugnante! No filme mais recente, além do estupro, ela é
obrigada a fazer sexo oral em seu tutor. Ao invés de denunciar ao Estado a
violência que sofreu, Lisbeth pratica uma ação direta impressionante. Depois de
torturar seu agressor, ela tatua no peito dele a frase “Sou um porco
estuprador”. Seria um recado indireto
para dizer que não acredita no Estado?
A trilogia Millenium que deveria
ter sido uma decalogia não fosse a morte prematura de seu autor, Stieg Larson,
é muito bem escrita e elaborada. As duas versões cinematográficas trazem um
belo roteiro e uma impecável produção. A versão americana traz um novo final
onde o assassino das cinco mulheres judias (diga-se de passagem) é o irmão de
Harriet, Martin Vanger, sobrinho neto de Henrik Vanger, o empresário que
contrata o jornalista Mikael Bloomkvist para encontrar sua sobrinha
desaparecida há 40 anos. E Harriet não está morta, apenas assumiu uma outra
identidade para fugir da violência que era submetida, primeiro pelo seu pai, e
depois da morte dele, pelo seu irmão, Martin.
Lisbeth Salander dá o toque
especial aos dois filmes. Pelo seu visual dark/punk quanto por sua inteligência
e anti sociabilidade. Ela não sorri e não quer fazer amigos. Mas se pudermos
conviver mais de perto com Lisbeth, percebe-se que ela é fascinante e
encantadora. Stieg Larson ao criá-la pode desconstruir o estereótipo do visual
punk, apesar de dar-lhe uma personalidade agressiva. O autor do livro
Millenium, que deu origem aos dois filmes, dá dicas do porque do comportamento
anti social da hacker, e tudo parece ter origem na sua adolescência. Depois de estabelecer um vínculo maior com
seu parceiro de investigação (e em seguida um vinculo amoroso), Lisbeth abre o
jogo e conta que vive sob a tutela do Estado porque aos 12 anos tentou matar o
pai, queimando-o vivo. Mas ela não revela o motivo. Ou não haveria?
Rooney Mara
Só sei que vale muito a pena
assistir a nova versão de “Millenium – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”, e
assim como a sua edição sueca. Melhor ainda, é conseguir o livro e devorá-lo,
pois com certeza muitas outras histórias serão desvendadas. Não só a da riot
grrl Lisbeth Salander.
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