sábado, 9 de abril de 2011

Como anda a política de saúde mental no Brasil?



Por Mabel Dias

A Reforma Psiquiátrica no Brasil tem seu início nos anos 70, com o objetivo de oferecer um tratamento digno e humanizado àquelas pessoas que sofrem de transtornos mentais, eliminando gradualmente as internações visando à integração delas a vida em comunidade. Para substituir o sistema de internações nos manicômios foram criadas alternativas, como os Hospitais Dias, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), entre outros serviços, que pudessem oferecer melhores condições de tratamento e um acompanhamento adequado a cada paciente.

É sabido que muitas famílias abandonavam o parente que sofria de transtorno mental nos hospitais psiquiátricos. Algumas até faziam isto para ficar com dinheiro de aposentadoria ou outro beneficio que o doente recebia. Tais fatos geraram denúncias e ações de órgãos do Judiciário, como o Ministério Público, para que esta situação chegasse ao fim. Este abandono fez com que milhares de pessoas ficassem para sempre naqueles locais escuros, sujos, e sem nenhuma assistência, chegando até a morrer lá mesmo. Sabemos muito bem como as pessoas acometidas de transtornos mentais eram tratadas. O filme “Bicho de sete cabeças” ilustra bem esta realidade. Diante de todo este quadro e das situações precárias em que funcionavam os hospitais psiquiátricos, a reforma psiquiátrica era mais do que necessária acontecer.

Vários movimentos foram realizados para se mudar a prática da “hospitalização”, e em 2001, foi aprovada a Lei Federal de Saúde Mental (nº 10.216), que regulamenta o processo de saúde mental no Brasil. Porém, ao passo que a reforma aconteceu, os serviços alternativos que foram criados para atender estes pacientes, e dar-lhes condições de lidar bem com a doença e retornar ao convívio social normalmente, parecem não terem sido devidamente estruturados e os profissionais que lá trabalham não terem sido treinados para passar orientações adequadas às famílias.

Nos CAPs, por exemplo, o paciente que entra em crise, pode ficar lá durante o período de 7 dias, e em seguida volta para casa, mesmo que não esteja totalmente bem. Ele deve voltar ao serviço uma ou mais vezes por semana, para continuar pegando a medicação e participando de atividades terapêuticas para sua completa recuperação. As famílias, na maioria das vezes, não estão preparadas para cuidar de seus doentes. E não é fácil cuidar de uma pessoa com transtorno mental, principalmente, em crise. A esquizofrenia é uma das doenças mais difíceis neste rol. O poeta Ferreira Gullar tem dois filhos que tem a doença. Um deles já é falecido. O outro quando entra em crise, fica agressivo, e quando está bem, não quer tomar a medicação. A família pode ser responsável pela melhora como pela piora do paciente. E se não for devidamente orientada, e até acompanhada por psicólogos, na primeira oportunidade, procurará internar em algum manicômio seu parente. Ferreira Gullar, em entrevista à revista Época em 2009, dizia que não queria internar seu filho, mas que muitas vezes não tinha outro jeito, pois não sabia lidar com a situação. Por isto, como estes serviços alternativos podem também ajudar os familiares a cuidar de seus doentes, para que eles não recorram aos manicômios que trazem lembranças horríveis e que não vão resolver o problema?

Muitos profissionais dizem que quando o paciente adoece a família também adoece. Sendo assim, onde está o acolhimento e orientação a esta família doente, que quer cuidar de seu parente, mas que não sabe lidar com a situação?? Se os serviços como os CAPs, Hospitais Dias e outros que propõem um tratamento humanizado, não funcionarem adequadamente, o ciclo de internações que é combatido pela Luta Antimanicomial, pode voltar a acontecer. E aí todo o trabalho realizado, desde os anos 70, terá sido em vão. As políticas de saúde mental devem discutir e atualizar todos os meios de acesso da população às informações, visando melhorias para os usuários e facilitando o processo de inclusão e inserção social. Sendo assim, é preciso estarmos atentos para que aquilo que está no papel da Lei de Saúde Mental seja devidamente colocada em prática. Integralmente aos doentes, à família e a toda a sociedade.

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