terça-feira, 4 de agosto de 2009

Mulher e Poder

Por Mabel Dias

João Pessoa sediou de 28 a 30 de julho o “Seminário Mulher e Democracia – fortalecendo o mandato de prefeitas e vereadoras”, na Estação Cabo Branco, na praia do Cabo Branco.
O objetivo do seminário, de acordo com suas organizadoras, foi criar uma rede de articulação entre as mulheres parlamentares, prefeitas e vereadoras potencializando o mandato e fortalecendo o intercâmbio com os movimentos de mulheres e organismos de políticas públicas.
O seminário reuniu vereadoras e prefeitas, além de representantes de movimentos sociais e de mulheres da Paraíba e trouxe ainda a Secretária da Mulher de Pernambuco , Cristina Buarque e a coordenadora nacional do projeto Mulher e Democracia, Sílvia Cordeiro.
Um dos temas trabalhados pelo seminário foi “Mulher e Poder”, onde foi apresentado um painel com o histórico da presença da mulher na sociedade, desde a Inquisição até a conquista em poder participar da vida pública, além de ser debatido a necessidade maior das mulheres ocuparem cargos de mando.
Mas, será que a troca de um sexo por outro nas relações de poder mudaria de fato a vida de todas as mulheres ? Estas mudanças alcançariam desde uma juíza a uma lavadeira ? Sabemos que muitas mulheres já ocuparam e ocupam posições de comando na sociedade, seja no Legislativo, no Executivo e no Judiciário, mas que mudanças, reais, ocorreram na vida das mulheres, principalmente as que estão nas periferias? Será que elas não continuam a mercê de algum/a parlamentar, que faz um discurso todo baseado na condição de vida destas mulheres, para continuar no poder propondo políticas públicas que chegam à conta gotas até elas? (isto quando chegam!) O voto, que é tido como umas das principais conquistas da emancipação feminina, em que alterou a vida das mulheres?
A mídia noticia quase todos os dias, desvios de recursos públicos da educação, saúde, habitação, praticados por governantes que são os responsáveis pela aplicação de tais verbas. A população está de olho, critica, a mídia denuncia, mas são escândalos em cima de escândalos na republiqueta Bra$il e tudo vai se tornando “natural”, “comum”. As mulheres no poder alterariam esta situação radicalmente?
Enquanto anarcofeminista, concordo que é necessário que as mulheres, TODAS, tenham poder de decisão, sobre suas vidas, sobre os destinos da sociedade da qual fazem parte. Que tenham voz e vez próprias, e que ocupem todas as tribunas em busca de liberdade e autonomia. Nós mulheres ainda necessitamos avançar mais, sem dúvida, e precisamos ter poder. Porém, PODER para TODAS, entendem? E não é este poder de se tornar vereadora ou prefeita de que falo. Mulheres em cargos de mando podem até fazer alguma diferença no começo, mas ao final, as práticas continuam se repetindo. E tenho visto isto bem de perto. Até porque a raiz do problema é bem mais profunda. Maria Lacerda de Moura e Emma Goldam, só para citar duas das mais importantes anarcofeministas, já diziam isto. Poder não só para as que estão dentro e fora das faculdades, não só para as que estão nos poderes constituídos, não só as que são chamadas de lideranças. A TODAS, o direito ao poder. As experiências mostram que a mudança de homens por mulheres não tem alterado muito o rumo das coisas. E não é justo, nós que lutamos toda nossa vida por igualdade, querermos oprimir o sexo oposto quando chegarmos ao poder, usando a justificativa que passamos anos, séculos sendo oprimidas. E pior, oprimir outras mulheres que chamamos por tanto tempo de companheiras, apenas por estarmos em cargos de comando. Estamos propondo uma guerra dos sexos ou a igualdade e o respeito? A luta por poder é para podermos dominar o/a outro/a? Para que queremos o poder?
Quero realmente entender todo este discurso, pois na prática ele tem funcionado de uma maneira bem diferente e em vez de libertar as mulheres está construíndo muros e novas amarras para nós mesmas.

"O direito ao voto, a igualdade civil, podem ser reivindicações justas, mas a emancipação real não começa nem nas urnas nem nos tribunais. Começa na alma de cada mulher" - Emma Goldman.

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