segunda-feira, 5 de março de 2012

Feminicidios: a palavra de ordem é reagir!



Por Mabel Dias

No próximo dia 12, segunda-feira, faz um mês que a recepcionista Michele Domingues da Silva e a professora Isabella Pajussara Monteiro foram brutalmente assassinadas e mais cinco mulheres foram estupradas por um grupo formado por dez homens, na cidade de Queimadas, interior da Paraíba.


Não só a Paraíba, mas o Brasil ficou chocado, revoltado, atônito diante de tamanha violência, arquitetada friamente pelos irmãos Eduardo e Luciano dos Santos Pereira. Era aniversário de Luciano e como presente, ele pediu ao irmão que providenciasse os estupros!! O “alvo” principal seria a professora Isabella Pajussara. Todos foram presos e lá ficarão até o julgamento.


A violência contra a mulher vem avançando assustadoramente na Paraíba. Este ódio às mulheres que aconteceu em Queimadas reflete bem o quanto nosso corpo tem sido violado e visto pelos homens como propriedade, o que os faz pensar que “pode” ser usado da maneira que eles bem entenderem. Ao passo que avançamos na luta por nossos direitos, a sociedade regride quando acontecem casos como este, que mostra o quanto nós não estamos seguras. E mais uma vez o crime de Queimadas mostra que aqueles que cometem os crimes contra as mulheres são homens próximos a elas. Eduardo Pereira foi casado com uma das irmãs de Isabella Pajussara.


Apesar de ainda não ter sido colocada em prática na sua totalidade, a Lei Maria da Penha é um dos principais aliados de nós mulheres para barrar a violência. E a Paraíba, que até janeiro não contava com um Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar, passou a ter este importante mecanismo, previsto na Lei Maria da Penha.


Estamos na semana do 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Se formos fazer um balanço, tivemos conquistas e perdas. E ainda temos muito a lutar, gritar, exigir respeito e dignidade, deixando bem claro que o corpo da mulher é dela! Vejam só: estamos falando o que nem precisaria ser dito: nosso corpo é nosso! Não importa qual seja sua profissão ou que roupa esteja vestindo, nada justifica a violência contra a mulher. Não seria necessário, mas ainda precisamos dizer frases como esta, pois continuamos sobrevivendo em uma sociedade machista e misógina. As mortes de esposas, namoradas, amigas não são crimes passionais, são feminicídios. Morremos por causa de nosso gênero. Em Ciudad Juarez, no México, milhares de mulheres foram seqüestradas e mortas. Crimes que nunca foram solucionados. E assim como no México, no Brasil somos violentadas a cada minuto, não importa onde nem que horas são.


De acordo com o relatório da organização Small Arms Survey, o Brasil está entre os 25 países com maior taxa de assassinato de mulheres. El Salvador é o país com mais feminicídios: cerca de 66 mil mulheres são mortas por ano no mundo, a maioria com arma de fogo. Segundo o estudo da Small Arms Survey, em torno de 66 mil mulheres são assassinadas a cada ano, 17% das quais são vítimas de homicídios intencionais. O relatório "Feminicídio: Um Problema Global" analisou os dados de assassinatos de mulheres em nível mundial de 2004 a 2009 e concluiu que a porcentagem de feminicídios é "significativamente maior nos territórios com altos níveis de homicídios".


No dia 08 de março, movimentos feministas da Paraíba vão realizar pela manhã um ato político no Centro de João Pessoa para reivindicar políticas públicas e denunciar o crimes contra as mulheres. O lema principal é Nosso Corpo, Nosso Território! Precisaremos ecoar nossa voz por todos os lugares, sempre! E no dia 12 de março, haverá outro ato político, na cidade de Queimadas para que nunca esqueçamos de Michele e Isabella, e das demais companheiras que sofreram violência sexual.


“Desde sempre o corpo está no centro de toda relação de poder. Mas, o corpo das mulheres é o centro, de maneira imediata e específica. Sua aparência, sua beleza, suas formas, suas roupas, seus gestos, sua maneira de andar, de olhar, de falar e de rir (...) são o objeto de uma perpétua suspeita. Suspeita que visa seu sexo, vulcão da terra. Enclausurá-la seria a melhor solução: um espaço fechado e controlado ou no mínimo sob um véu que mascara sua chama incendiária. Toda mulher em liberdade é um perigo". (Michelle Perrot)

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