domingo, 15 de maio de 2011

Quem tem medo da loucura? Estudantes de Psicologia da UFPB realizam IV Semana de Luta Antimanicomial


Por Mabel Dias

O Coletivo Canto Geral, formado por estudantes de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) realiza a partir desta quarta-feira (18) a IV Semana de Luta Antimanicomial. A programação é vastíssima, incluindo rodas de diálogo sobre loucura e arte, a participação da família no tratamento das pessoas que sofrem de transtornos mentais, sociedade e saúde mental, além de lançamento de livros de poesia, ato público, shows e sarau poético.

A proposta do evento é levantar a discussão das várias formas da loucura e de sofrimento psíquico e da importância da saúde mental para a cidade, como o intuito de informar, esclarecer e questionar sobre as práticas que têm sido ferramentas para o tratamento da loucura.

A programação será aberta com o lançamento do livro "Residência Terapêutica: pesquisa e prática nos processos de desinstitucionalização", no dia 18, às 8h30. Em seguida, terá início a primeira roda de diálogo da Semana, “Loucura, Arte e Cidade: as diversas formas de viver a reforma psiquiátrica”, com os facilitadores Paulo Amarante, coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental da Escola Nacional de Saúde Pública, e Flávia Fernando, diretora do Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira, local onde serão realizadas boa parte das atividades.

Será lá, no Juliano Moreira, também no dia 18, às 20h, que o poeta Lau Siqueira, vai lançar seu quinto livro de poesias “Sem pele”, com apresentação do Círculo dos Tambores. E nesta semana que se coloca em discussão a luta antimanicomial, a loucura e a política de saúde mental na grande João Pessoa não podia deixar de contar com a presença de Tom Zé, artista que sempre traz em suas apresentações e em sua música a inclusão das pessoas que sofrem de transtornos mentais. O show de Tom Zé será realizado no Ponto de Cem reis, Centro de João Pessoa, a partir das 20h.

Sem dúvida, o coletivo Canto Geral inovou ao pensar esta programação, trazendo à tona temas muito importantes para serem discutidos por usuários, técnicos, familiares e pela sociedade como um todo, assim como nas atividades que compõem a IV Semana de Luta Antimanicomial, tema muito pouco discutido e principalmente praticado em toda sua plenitude. Senhora das Palavras já publicou textos que falam sobre a loucura e a reforma psiquiátrica no Brasil, e que servem de base para debates nesta IV Semana, que são “Como anda a política de saúde mental no Brasil?” e “Estamira e a loucura. Ou o que é a loucura?”

O 18 de maio é a data que marca o Dia da Luta Antimanicomial. Desde 1987, um grupo de profissionais de saúde lançou um movimento nacional centralizado em Bauru (SP), com o lema "Por uma sociedade sem manicômios". O movimento luta pelo cumprimento da Lei 10.216 de 2001, que normatiza a Reforma Psiquiátrica. Em síntese, a reforma representa a implantação de uma rede de serviços substitutivos aos manicômios, como CAPS, Hospitais Dias, entre outros.

Confira a programação completa: http://semanadalutaantimanicomial.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Na minha cabeça (e no meu blog, sobretudo na 'primeira edição' dele) já está tão trabalhada essa questão de loucura e normalidade...

    Muitos amigos me chamam louco, doido, sem juízo, pelas coisas que faço ou digo, pela ousadia que tenho, pela espontaneidade, pela falta de freios. Não acho que isso seja loucura, mas bem, a sociedade cultiva a noção de que o louco é assim. Parece meio clichê mas concordo com a música "Balada do louco" de Arnaldo Baptista e Rita Lee que diz: Dizem que sou louco por pensar assim / Se eu sou muito louco por eu ser feliz / Mas louco é quem me diz
    E não é feliz, não é feliz.

    LOUCO É QUEM NÃO É FELIZ, quem não se esforça pra tal, quem se segura, se reprime, se esforça pra PARECER normal, quem tem medo de parecer louco e por isso deixa de viver e aproveitar o bom da vida. Ser louco não é doença, é deixar de ligar tanto pra que os outros dizem e viver bem.

    Fico feliz em assistir ao avanço -ainda que lento- do MAM e de toda "descriminalização da loucura" (acabei de inventar a expressão), ou seja, dessa coisa de que o portador de transtornos psiquiátricos é uma ameaça à sociedade, de que não pode viver solto, que não pode casar, ter filhos, trabalhar, enfim, levar uma vida normal. CLARO que pode. E até deve. Da mesma maneira que pessoas com diabete, aids, hipertensão, anemia falciforme, intolerância à lactose, síndrome dos ovários policísticos podem levar uma vida normal os portadores de transtornos psiquiátricos também podem. Por que não?

    Espero que um dia essa discussão seja desnecessária, de tão banal que se tornou. Ainda vou viver no tempo em que a pessoa poderá dizer em público que tem epilepsia ou esquizofrenia sem medo de ser discriminada, como uma pessoa hoje em dia pode falar que tem gastrite e ninguém sai de perto dela ou lhe nega um emprego por conta disso.

    Abraço

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