quinta-feira, 14 de abril de 2011

Há uma luz no fim do túnel?

Fórum de Mídia é formado para debater banalização da violência em programas policiais de TV na PB

Por Mabel Dias
jornalista


No último sábado (09), o Sindicato dos Jornalistas da PB promoveu um debate sobre ética, sensacionalismo e banalização da notícia, no auditório da OAB/PB, em João Pessoa, onde discutiu-se a proliferação dos programas policiais de TV e a banalização da violência e dos problemas sociais, onde a vida humana nada vale, difundida por estes noticiários.
Durante o evento, foi criado um fórum sobre ética e mídia com o propósito de discutir mecanismos de controle social a estes programas, e assim, mudar este quadro de terror que vem sendo pintado diariamente na hora do almoço de milhares de famílias paraibanas.
Foi uma nutricionista, a cidadã Elaine Oliveira, que deu o primeiro passo ao escrever um texto chamando a atenção da sociedade e da imprensa paraibana para a produção destes programas no estado, e que tem gerado grande rebuliço entre os empresários da comunicação (insatisfeitos com a indignação da sociedade)e a própria classe jornalística. É no mínimo estranho que tenha sido uma nutricionista – com todo o direito de expressar sua indignação a tais programas, e não jornalistas, a escrever este texto. O Senhora das Palavras publicou o texto da nutricionista Elaine Oliveira. Sem falar na falta total de mobilização pela exigência do diploma por parte dos/as coleguinhas. O que tem gerado a contratação de pessoas sem nenhuma ética profissional nestas emissoras e em outros espaços, assumindo cargos de repórter e apresentador, só para citar algumas funções, sem nenhum preparo nem consciência do que é fazer jornalismo. E é claro que não fazem. A precarização do trabalho dos/as jornalistas é público e notório. É importante saber que as empresas de comunicação tem autorização do governo para usar os canais de rádio e televisão, mas não podem fazer isto de qualquer maneira. A concessão é pública e existem preceitos legais e constitucionais que precisam ser respeitados.
O Ministério Público Federal da Paraíba se mobilizou e está atento aos conteúdos e imagens veiculadas por estes programas, que vem promovendo uma “comunicação do grotesco”, como definiu em seu livro Muniz Sodré. Não podemos esquecer o jornal JÁ, que traz em suas páginas o corpo da mulher e a violência como a noticia-mercadoria, contribuindo assim para a prática da violência contra a mulher. Incrível como até agora, o sindicato nem outra instãncia de organização das/os jornalistas tomou alguma atitude em relação a este jornal.
Enquanto as ações concretas não vem, a população paraibana segue assistindo, em larga audiência, os noticiários que passam a mensagem de se fazer a justiça com as próprias mãos e de desrepeito aos direitos humanos. Como disse o jornalista Ivaldo Gomes “crianças e jovens ao ver a violência sendo banalizada começam a achar que isto é fazer jornalismo e esta forma de viver é a correta. Estes programas engordam ainda mais a violência vigente na sociedade”.
Nós que sempre buscamos fazer um jornalismo com qualidade e com ética, estamos atentos a estas iniciativas e esperamos que elas saiam do papel e possam mudar a atual situação em que se encontra “o jornalismo” na Paraíba.
Que a criação do Fórum de Ética e Mídia seja realmente uma instância onde todas/os aquelas/es que se sintam agredidos em seus direitos encontrem respaldo, promovam debates e mudem a situação das coisas. Só depende de nós.
Mas, se não houver movimentação por lá, que se acione o Judiciário. Em 2005, um grupo de entidades da sociedade civil de São Paulo fizeram uma representação ao Ministério Público Federal contra o programa "Tardes Quentes", da Rede TV!, apresentado por João Kleber, que fazia quadros ridicularizando homossexuais. o MPF acatou a representação e pediu à Justiça um direito de resposta coletivo. O resultado foi o programa Direitos de Resposta, que foi ao ar entre dezembro de 2005 e janeiro de 2006.

Inspiração: Cartilha Comunicar para não se trumbicar - lutando pelo direito humano à comunicação - Centro de Cultura Luiz Freire (PE)

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