domingo, 24 de abril de 2011

Existe padrão de beleza entre as mulheres do cenário alternativo?



Por Mabel Dias

Geralmente é pela manhã que me dão uns “estalos” na mente, de onde brotam reflexões sobre momentos/temas que discuto ou vivencio. E na manhã deste domingo, 24, acordei com a seguinte reflexão: existe padrão de beleza entre as mulheres do cenário alternativo? Infelizmente, cheguei à conclusão que sim. Lancei o questionamento no facebook (página de relacionamentos virtuais na internet) e algumas pessoas se pronunciaram, concordando comigo.
Pois é, se em um cenário alternativo onde podemos nos vestir e agir como somos encontramos moldes estéticos parecidos com o que existe na sociedade que questionamos, o que fazer então? Continuar refletindo até conseguirmos quebrar com isto? Queremos quebrar com isto? Certa vez, uma garota chegou para mim e disse que foi muito discriminada na adolescência porque não estava dentro dos padrões de beleza da turma com quem ela andava. Resultado: tem traumas até hoje e não sai de casa sem estar maquiada. Pegando o gancho nesta história, me vem a mente o preconceito que sofrem as mulheres negras, devido ao seu cabelo crespo. A maioria lida bem com isto depois que cresce, mas ainda carrega mágoas ou traumas dos preconceitos que sofreu quando era pequena. Há casos de crianças negras que negam sua cor, sua identidade porque acham o padrão branco bonito e o negro feio. Vejam só!
Não é apenas este padrão de beleza que vemos nas Tvs, revistas, internet, etc, que está inserido dentro do meio alternativo. O próprio cenário alternativo cria padrões de como se vestir e agir. Por exemplo, observei algumas vezes que aquela menina que tem mais piercing ou tatuagens, ou que usa uma camisa “transada” ou com estampa de banda que a maioria gosta, ser mais bem aceita do que aquela que não tem/usa nada disto. Rola uma aproximação maior com esta que está com piercing e tatuagens do que com a que não tem.
Muitas vezes estes comportamentos acontecem de maneira despercebida, inconsciente. As meninas gordas também são discriminadas. O fato de não querer uma aproximação maior ou amizade com ela já demonstra este tipo de preconceito. Conheço outro caso de uma amiga que recebeu inúmeros xingamentos por discordar de algumas atitudes e foi discriminada só pelo fato de ser gorda. O caso dela foi bem sério e veio de um movimento que não dava para esperar que viesse: o anarcopunk.
É realmente lamentável que este tipo de comportamento aconteça entre as mulheres alternativas, que até questionam este padrão de beleza que é vendido diariamente pela mídia; porém, acabam por reproduzi-lo. Parece que fazemos todo um discurso, mas nossa prática sai totalmente da rota que nos propomos a seguir: nos debates que realizamos, nos zines/blogs que escrevemos, etc. Ser à margem realmente não é fácil. Mas não custa nada nos atentarmos a isto e sermos um pouco autocríticas e não reproduzirmos aquilo que discordamos e sabemos, causa problemas a nós mesmas, pois para se chegar a este padrão (que não é nada aceitável), muitas mulheres acabam ficando anoréxicas ou bulímicas, fazendo tratamentos estéticos para ficar com o rosto claro, alisando os cabelos, enfim, se utilizando de toda a industria da estética e da moda para poder ser aceita pela sociedade. Fica aqui o debate.

6 comentários:

  1. Tema interessante. Esses dias eu comecei a relacionar a vaidade feminina excessiva (aquela empurrada pelo Capitalismo, comprada principalmente pelas classes mais altas) com a sua auto-estima com relação aos homens. Não apenas como uma maneira de "conquistá-los", mas, também, como uma forma de superar a inferioridade que nos é imposta nessa estrutura social (patriarcal).
    Bom, mas, voltando ao foco do texto, acho que algumas coisas são imposições do sistema econômico. Outras não.
    Roupa é um fator cultural. A cultura é imposta pelo sistema econômico, mas, o povo acaba adaptando construindo a cultura com esses elementos impostos. Nesse sentido, a "moda" torna-se uma padronização cultural e, mais importante, "coisificação" dos seres humanos.

    Quando nos inserimos em algum movimento ou organização, acabamos desenvolvendo uma cultura (ou contra-cultura) própria. E isso vai influenciar na maneira de vestir. Nesse sentido, a menina tatuada e de brincos pode representar uma menina que conseguiu romper com as imposições do sistema econômico e, por isso, acaba se tornando mais interessante, talvez.

    Mas, acho que, com certeza, dentro dos movimentos, a maneira de vestir reflete tanto uma identidade ideológica de grupo como uma relação de referência (por exemplo, se a menina que eu tenho por referência, ou seja, aquela que me inspira confiança política, é a tatuada, posso querer me parecer um pouco com ela e também fazer uma tatuagem).

    Não sei se me fiz entender, até porque, eu normalmente sou bastante confusa... hehe

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    1. Pois é, e é esse o grande problema - sempre fazemos parte, de alguma maneira, de algum grupo. E dentro desse grupo, mesmo que o alternativo, há um padrão de beleza.
      No seu exemplo, de repente quem não for tatuado acaba não sendo tão bem aceito pelo grupo. "ahhh olha lá, ela não é tatuada, não rompeu com o capitalismo!é uma alienada!"
      Exageros à parte, percebe-se que é muito difícil fugir de algum tipo de classificação, por mais alternativo que o grupo possa parecer.

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  2. valeu pelo seu comentário, cabelo de fogo, muito boa sua linha de racicionio e concordo em alguns pontos. atualmente, infelizmente, tatuagens e piercings viraram moda ao invez de ser um questionamento ao sistema, a esta cultura burgyesa, assim como o cabelo moicano. uma pena! vc é de joão pessoa?

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  3. Parabéns pelo texto, Mabel! Continuemos na luta!

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  4. Vi seu texto no blog psicossomatica do ser e resolvi postar o comentario aqui tambem, gostei muito da reflexao.

    Os padrões de beleza estão aí, sempre estiveram.

    Na Grécia eu imagino que Gisele bundchen seria apedrejada de tão feia, imagina uma mulher magérrima naquele tempo em que as ancas caídas, coxas grossas e seios fartos é que simbolizavam o padrão que uma mulher deveria ser.

    Então desde sempre houve os padrões de beleza, que mudam, e sempre haverá. Mas sempre haverá também os revolucionários, os subversivos, haverá aquela que admite publicamente que tem estrias, haverá um movimento de retorno aos cabelos cacheados, uma manifestação pela valorização da beleza negra, genuína e autêntica.

    Se existem padrões existem também os que se rebelam a esse padrão, refutando-o ou criando um novo padrão.

    Quando viajei pra França fiquei admirado com a beleza natural das coroas Francesas, elas andam maquiadas, com brincos reluzentes, batom, e têm rugas, mantêm as rugas ali visíveis.

    Elas têm cabelos grisalhos, não tem vergonha disso, assumem os fios brancos, e antes que você imagine coisas, elas não andam descabeladas ou com o cabelo amarrado num rabo de cavalo; mantêm o cabelo bem arrumado, cortado, elas são elegantes mesmo com cabelos brancos. Qual o problema de ter cabelos brancos ?

    Então eu que sempre estive habituado a ver as mulheres Brasileiras, as quais morrem de medo de ficarem 'velhas', recorrendo a inúmeros tratamentos, pláticas, procedimentos e etc etc etc, me admirei em ver senhoras com seus 40 a 50 anos tão elegantes e finas assumindo sua idade.

    Eu achei massa, um comportamento maduro e seguro de si mesma. Acho ridículo as senhoras de 50 que pensam/querem aparentar ter 30 anos, usando minisaia e decote... Nada contra a pessoa querer ser feliz e se cuidar, mas há um limite no ridículo. Além disso ninguém me convence de que essas que se entopem de plásticas e cremes são mais felizes que aquelas que assumem sua própria idade.

    Se cabe aqui uma indicação literária, eu li o livro A BELEZA ESTÁ NOS OLHOS DE QUEM VÊ, de Camila Cury no qual ela trata a beleza como sendo algo que nasce de nossas mentes, uma questão de auto-imagem e amor-próprio. Como ela mesma diz, não adianta fazer diversas plásticas se não operamos uma cirurgia na nossa mente.

    E pra terminar, aviso aos homens, depois de séculos sendo cobradas pela sua imagem, agora as mulheres começam a dividir esse fardo com os homens... Cuidado, tem muito homem por aí se entregando aos medos de aparentar a idade que tem e recorrendo a tratamentos e mais tratamentos de beleza. Será que está por vir a era do homem fabricado, siliconado, turbinado, plastificado, dominado pela vaidade e pelos ideais inatingíveis de beleza ?

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  5. Muitxs dxs libertarixs dx movimentx anarcopunk reproduzem fielmente o discurso massificante/estereotipado de beleza. Já presenciei inúmeros casos em que o corte de cabelo,a roupa e o corpo de uma pessoa se tornaram motivos de "brincadeirinhas", ou seja, nada mais que verdades disfarçadas.X GORDX, para muitXs libertárixs, é ux ser aliadx ao consumismo e a gula capitalista. Há um estética "oficial", mas não assumida por muitos grupos libertários, em que o corpo magro é o tipo mais valorizado e mais aceito no meio punx. X gordx assim como no cristianismo é ux ser errante de um certo padrão moral/estético.

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