quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O assassinato de mais um jovem negro no Brasil

Por Mabel Dias

O assassinato do jovem Gualter Rocha, no Rio de Janeiro, no dia 1º de janeiro de 2012, me fez refletir sobre a violência urbana que temos assistido cotidianamente e a insuflação, direta ou indireta por parte de alguns jornalistas e outros segmentos da sociedade a reagir sob a máxima “olho por olho, dente por dente”

Gualter que adorava dançar, e foi o idealizador do “passinho”, no funk carioca, gritava por socorro por onde passava. Dizia que estava sendo perseguido. As câmeras de vigilância de uma empresa gravaram o jovem correndo desesperadamente, mas não mostraram quem estaria atrás dele. Pedindo ajuda em várias casas, ele conseguiu entrar em uma, onde morava um casal de idosos e sua filha. Atordoado, Gualter continuava pedindo abrigo, mas o casal, assustado, entrou na casa e nada fez.

A polícia prendeu dois suspeitos de terem matado o rei do passinho. O supervisor de uma empresa de segurança e um dos vizinhos do casal de idosos. De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal, Gualter foi morto por asfixia mecânica, ou seja, estrangulado. Um dos acusados disse que o que o matou foram as drogas. Mas o exame feito no adolescente mostrou que não havia nenhuma substância em seu sangue. Antes de ser asfixiado, Gualter foi brutalmente espancado e seu corpo foi arrastado até a rua.

O casal, que não conhecia o rapaz, ficou obviamente assustado e se recolheu. O medo deles com certeza deve estar associado a tantas notícias de caso de violência que vem tomando conta do país. Não o ajudaram. Gualter estava sozinho e não estava armado. Pedia proteção. Mas a vontade de fazer justiça com as próprias mãos fez com que o segurança e o vizinho do casal matassem Gualter. Um jovem que tinha tudo pela frente e que foi morto por ter sido confundido com “um meliante, elemento”, termos usados constantemente pela polícia e pela própria imprensa para se referir a assaltantes. Não perguntaram nada, apenas bateram e mataram.

E será que é desta forma que o problema da violência no Brasil será solucionado? Reforçando a prática de atos violentos como resposta a outros atos violentos? É desta forma que a imprensa pensa e acredita estar ajudando a mudar o quadro ao qual toda a sociedade brasileira está passando? É incentivando a população a se armar que alguns jornalistas pensam que vão solucionar os índices de assassinatos no país?

Gualter, assim como muitos adolescentes brasileiros, poderia estar vivo, brilhando nos palcos dos bailes e shows de funk, como também em alguns programas de TV, como o de Regina Casé, onde era presença marcante. Gualter – é horrível dizer isto, mas é verdade, faz parte das estatísticas dos diagnósticos realizados pelos mapas da violência que revela o alto índice de assassinato de jovens pobres e negros no Brasil. E fica por isto mesmo. Isto a imprensa não fala tão pouco reflete o porquê que isto acontece. A fala do segurança, suposto assassino de Gualter, revela o pensamento bastante comum na sociedade: o envolvimento com drogas que leva a morte destes jovens. É fácil dizer: morreu porque estava envolvido com o tráfico de drogas. Não era o caso de Gualter e de tantos outros jovens brasileiros. E fica por isto mesmo?

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