Neste 8 de março, resgato uma idéia que já havia discutido aqui, mas que não mudou muitos nos últimos tempos: o jornalismo ajuda a manter, de diversas formas, a desigualdade de gênero:
Vocês já repararam que muitos veículos de comunicação quando citam pela segunda vez o nome de um entrevistado, repetem o sobrenome no caso de homens e o primeiro nome no caso de mulheres? “De acordo com Fonseca” em contraste a “segundo Paula”. Já perguntei a um editor de um veículo que faz isso o porquê e ele disse que era apenas um padrão adotado para não confundir o leitor, uma vez que é mais comum chamar o homem pelo sobrenome do que a mulher. Mais respeito dedicado a um, mais informalidade a outra?
Parece besteira esse tipo de coisa, mas minha profissão está recheada de sexismo de linguagem. Isso sem falar dos temas abordados, como saúde da mulher, que, contraditoriamente ,são tratados muitas vezes sob o ponto de vista masculino. Quando se adota um manual de redação, algumas dessas arestas são aparadas, mas ele não resolve tudo.
Há muitas bizarrices cravadas em nossa formação e até os que têm consciência disso cometem barbaridades de vez em quando – eu, envergonhadamente, sou um exemplo disso. O que me lembra uma antiga militante pelos direitos das mulheres que dizia que todo o homem é inimigo até que tenha sido educado para o contrário. Nesse sentido, a formação educacional e social dos jornalistas continua pré-histórica, retrato do restante de nossa sociedade.
Apesar delas serem a imensa maioria nas redações, são minoria nos cargos de alto comando. Há poucas que fazem parte das equipes que escrevem os editoriais. Na média, também recebem salários menores que os dos homens. As editoras, muitas vezes, têm que trabalhar mais e mostrar serviço por serem testadas o todo o tempo. Isso sem contar o estresse de não poder engravidar e ter filhos para não perder o que já foi conquistado devido ao afastamento.
Já participei de encontros reunindo representantes de veículos de comunicação progressistas. Muitas vezes são poucas as mulheres presentes, o que mostra que o problema não afeta apenas um grupo ou uma posição ideológica.
Neste 08 de março, gostaria de poder dizer que tudo isso vai mudar e rápido. Mas tenho certeza que não. Jornalistas acham que são iluminados pela razão. O jeito que tratamos nossas companheiras de trabalho – conscientemente ou não – mostra que não, que vamos na mesma lenta toada da sociedade como um todo, engatinhando para sair da idade das trevas do preconceito.
Retirado do Blog do Sakamoto - http://blogdosakamoto.uol.com.br--
Hoje escutei o seguinte comentário de um colega de trabalho:
ResponderExcluirEle: "Hoje é dia 08 de março, dia da mulher?"
Eu: "Não, hoje é dia 11."
Ele: "Ah tá! Nem me lembrei do dia da mulher! Ainda mais lembrar de dia da mulher...isso é só um dia. Todos os outros trezentos e tantos dias do ano são do homem. Por isso não precisamos comemorar nada."
Eu: "É melhor você calar a boca e voltar a trabalhar, antes que eu te force a isso. Sua misoginia me dá nojo."
Esse comentário foi como um tapa em minha cara!
Este foi o texto que eu sempre quis escrever!
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