segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Machismo adoece e mata! Mulheres ás ruas!


Por Mabel Dias

Manifestações silenciosas. Outras barulhentas. As mulheres vão aos espaços públicos para denunciar as violências que sofremos diariamente. São assassinatos, agressões, maus tratos, violência psicológica, patrimonial, desrespeito, humilhações. Não importa em que parte do mundo, seja na Paraíba ou no Irã, as mulheres continuam a ser vistas como objetos, propriedade dos homens, que ao pequeno sinal de autonomia, usam a violência para poder barrar nossa liberdade.
Foi assim com Eliza Samudio, Vanessa Oliveira, Ariane Thaís, Sakineh Ashtiani, Irís Bezerra, Mércia Nakashima, Wélia Gomes, Maria da Guia da Silva. E com tantas outras companheiras, que ficamos sabendo através da imprensa, e que infelizmente, vão se transformando em números.
E a hora de dar um basta em todo este alto índice de violência contra as mulheres já passou. Porém, a raiz do problema é bem mais profunda e está inserida na forma que a sociedade foi construída, há muitos anos. O patriarcado, o machismo, que o movimento feminista sempre lutou contra e conseguiu vitórias é o grande responsável por toda esta violência que atinge as mulheres. O que as feministas autônomas chamam de feminicídio. A psicóloga Regina Navarro Lins, autora do livro “A cama na varanda”, diz que o sistema patriarcal estendeu o poder que tinha às mulheres e aos homens também. “O homem se sentia dono da mulher, ela era uma propriedade. Ele sempre se sentiu no direito de agredir a mulher e até de matar, mas ele tinha legalmente esse direito de puni-la severamente. Adultério então, nem se fala. Nos países islâmicos, até hoje a mulher é apedrejada e morta. Isso porque bota em risco a questão financeira do marido. O homem ficou obcecado pela exclusividade da mulher porque ele não queria dividir a herança com os outros. O homem ainda é criado para achar que é superior à mulher.”, disse Regina Navarro, em entrevista concedida à jornalista Maíra Kubik Mano.

E o patriarcado está presente em todos os setores da sociedade. Dentro de nossa casa, nos locais de trabalho, nas ruas, na mídia e na música, como o forró e o funk, que reproduzem conceitos que alimentam o machismo. Somos obrigadas/os a ouvir, seja nas ruas ou do apartamento das/os vizinhas/os, músicas de bandas de forró, que em sua grande maioria, divulgam letras de alto teor machista e que incitam a violência contra a mulher. E outras que colocam as mulheres umas contra as outras. A mais recente é da banda Aviões do Forró, que chama uma mulher de “vaca” porque ela “roubou” o seu marido. Parece até uma luta injusta, pois se de um lado lutamos arduamente para acabar com a violência contra a mulher, de outro, vemos um estímulo a esta violência, e ainda com o título de diversão. Nos próprios shows de forró, ouvimos relatos de mulheres que foram agredidas pelos homens: são puxões de cabelo, pegadas na bunda, nos seios, e outras que são agarradas a força para beijá-los. E enquanto isto, as cantoras e cantores destas bandas sorriem e cantam “os seus versos”, que lhes rende milhões e alimentam a violência. Desde a música “Tapinha não dói”, que o movimento feminista conseguiu tirar de circulação através de ação no Ministério Público, até as músicas de Sirano e Sirino às letras de Duquinha, incitam a violência contra a mulher, seja de maneira direta ou indireta. Nos bailes funks, nem precisamos falar os detalhes, pois as músicas e as danças são ainda mais explícitas. Quando não são explicitas neste sentido, falam do amor romântico, que é uma verdadeira cilada para as mulheres, pois pinta uma ilusão e de que tudo deve ser permitido e perdoado, já que se trata de amor (?). E é aí, onde pode começar o círculo de violência.
Mas porque os assassinatos contra as mulheres? Porque tanto ódio? Mais uma vez, a questão da propriedade. Regina Navarro Lins diz que o homem quer matar a mulher porque na cultura patriarcal o menino tem que romper logo cedo com a mãe. “Então, por defesa, ele vai desenvolvendo um comportamento de negação da necessidade dos cuidados maternos. E também como defesa ele desvaloriza a mulher em geral. Aí esse menino cresce, se torna um adulto e aparentemente foge do casamento, das relações afetivas. Cria-se o mito de que ele não quer casar, como se só as mulheres quisessem. Mas quando o homem entra numa relação estável, é impressionante como ele baixa a guarda e se torna um bebê perto da mulher”, explica Regina.
Sabemos que o machismo adoece e mata. E que a cada minuto, a cada hora, uma de nós é vítima ou sobrevivente desta violência. Porém, não agüentamos mais. Sabemos a raiz do problema, sabemos quais caminhos percorrer para denunciar e buscar ajuda, mas, mesmo assim, continuamos a ver nossas companheiras perderem a vida de maneira banal. E daí, o que podemos fazer? Acredito que esta é a grande pergunta: O que podemos fazer para acabar com a violência contra a mulher? E que ela não se torne banal.

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