domingo, 21 de agosto de 2011

A realidade do povo cigano da Paraíba

Por Fabiana Veloso

Ouro, luxo, riqueza, fartura... Essas seriam algumas das palavras que comporiam o imaginário sobre os ciganos. Até seria para os que vivem em outras regiões, mas não para os ciganos que moram em Sousa, Alto sertão da Paraíba.

Miséria e fome foram apontados pelos participantes da conferência de segurança alimentar regional em visita a comunidade cigana do local. Uma terra seca, que contrasta com as, aproximadamente, 800 vidas que moram no local. Falta água. Falta autoestima dos remanescentes que ficaram nas comunidades, chamadas de ranchos. São três ao todo, organizados por famílias. Todas marcadas pelo mesmo estigma do preconceito e da discriminação. É sabido que a população de Sousa, aqueles que não moram nos ranchos Raimundo Benevides Gadelha (conhecida também como Pedro Maia), Vicente Vidal de Negreiros e Valério Correia, manifestam um tratamento ainda de desconfiança para com o povo cigano.

Em 1982 os “ciganos de Sousa” receberam um terreno do candidato à deputado, na época, Gilberto Sarmento, e na seqüência o então governador Antônio Mariz fez projeto para a construção de casas em alvenaria. José Maranhão, em seu governo, após a morte de Mariz, construiu umas 100 casas, faltando outras para a conclusão do projeto. Foi então o começo de um novo tempo, onde os ciganos deixariam a filosofia nômade para se fixarem em um lugar - já fazem trinta anos, mas pouco se conquistou depois disso.

Segundo dados da pesquisa da professora doutora Janine Marta, apresentados pelo gerente de Políticas de Ações Afirmativas da SEMDH, Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana do Estado da Paraíba, José Roberto da Silva, na Conferência de Segurança Alimentar Regional, em Sousa, estima-se que existam quatro mil ciganos na Paraíba. A maior parte no município de Sousa com cerca de 750. Destes apenas 32 ciganos sabem ler e escrever e quatro estão na universidade.

A pesquisa mostra o quanto os ciganos na Paraíba precisam de atenção do governo federal, estadual e municipal. Pois além do terreno doado por Gilberto Sarmento, a maior população de ciganos no estado pouco receberam. Projetos foram iniciados e abandonados com as mudanças de gestão.

Numa situação de verdadeiro descaso do poder público. Francisco Vidal, conhecido como Nestor Cigano, vice-presidente da CCDI (Centro Calon de Desenvolvimento Integral), fala do potencial cultural das comunidades ciganas. Segundo ele, através do Centro, os ciganos poderiam estar desenvolvendo várias atividades como a confecção de roupas típicas e, através de cursos, o repasse do aprendizado na elaboração da comida e da música, por exemplo. A tradição da dança cigana ainda é mantida com dificuldades por um grupo de jovens que, vez ou outra, se apresenta. No entanto, o dialeto cigano está dia a dia sendo esquecido.

Ronaldo Carlos, líder das comunidades ciganas de Sousa, diz que o maior problema é mesmo o preconceito. Segundo ele, antes de qualquer apuração, tudo que aparece de ruim o povo cigano é responsabilizado. Esse tratamento é confirmado quando uma atendente do de um posto de saúde é chamada para fazer um curativo em uma cigana de 84 anos, e ao chegar ao local a prestadora do serviço se recusa a fazer o atendimento com alegações discriminatórias, diz Carlos. Fatos como estes são reforçados quando Renato Soraio, membro da comunidade cigana Pedro Maia. Ele informa que apenas 5% das famílias estão sendo beneficiadas com um programa de distribuição de pão.

A Conferência Regional de Segurança Alimentar ocorrida em Sousa, no dia 13 de agosto, contou com apenas 25 inscritos. Segundo a organização, mesmo com os convites feitos as secretarias dos municípios, a participação foi baixa. Aparecida, Bom Sucesso, São José do Rio do Peixe, Poço de José de Moura, São Francisco e Sousa estavam representados e terão delegados para a estadual.

fabiana.velosopb@gmail.com

Um comentário:

  1. Mabel,
    Esse não foi o texto que publiquei na net. Este foi o que mandei apenas para você fazer uma revisão. Fiz algumas correções e alterações... Por favor, troque este pelo outro. beijos

    ResponderExcluir